Ricardo Stuckert/PR

Haddad está colocando o pijama em Lula?

Pode ter muita gente grande e importante, hoje tida como petista, trabalhando para que o presidente se aposente em 2026
13.07.23

A semana passada foi marcante para o tecido político brasileiro. As principais pautas econômicas do primeiro semestre foram aprovadas; o presidente Arthur Lira (PP/AL) teve a investigação contra ele interrompida pelo STF e sua liderança foi reforçada pelos seus pares; a colaboração do governador Tarcísio de Freitas (REP/SP) com a maioria da Câmara dos Deputados na reforma tributária ampliou a sensação de isolamento de Jair Bolsonaro e partidos independentes se aproximaram de uma participação na base do governo Lula.

Há uma segunda etapa para os projetos econômicos no Senado e o arcabouço fiscal ficou para o segundo semestre, mas o cenário é bem mais positivo para o Planalto, que vê o Congresso se associando à pauta de Fernando Haddad. É importante prestar atenção neste detalhe: embora Lula tenha liberado verbas e talvez aceite uma reforma ministerial mais ampla, deputados têm evitado celebrar o presidente. A narrativa dominante ou é favorável ao próprio Legislativo (“a reforma tributária é uma pauta nossa, não do governo”) ou é elogiosa a Haddad.

Nos discursos que antecederam a votação da reforma tributária, Lira e Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), as estrelas daquela noite, exaltaram o próprio trabalho e buscaram citar todos os que participaram das discussões. Em um momento, quando Ribeiro cita o nome do governador paulista Tarcísio de Freitas, é possível escutar um deputado não identificado gritar “fale do Lula, agradeça ao Lula”! O relator da reforma, no entanto, segue em diante, sem mencionar o nome do petista.

Essa é uma sutileza que grita. Primeiro porque mostra o status que Tarcísio já tem, de presidenciável, que fez com que alguém petista percebesse a necessidade de que Lula fosse mencionado para marcar terreno. Mas esse não é o ponto principal. A pergunta que está no ar, esperando para ser feita, é se é possível neutralizar Lula ainda no exercício do mandato, transformando-o em um ator secundário, principalmente em temas econômicos.

Num clima protoconspiracionista, lá atrás, esta coluna afirmou que um cenário possível era que Fernando Haddad se tornasse para Lula o que Fernando Henrique foi para Itamar Franco. Note que a questão não é comparar capacidades de um ou de outro, mas de um possível deslocamento da gravidade de poder do prédio do Planalto para o bloco “P” da Esplanada, que sedia a Fazenda. Assim como Itamar foi considerado um tanto limitado para o exercício da Presidência, o mesmo diagnóstico pode estar sendo feito sobre Lula, levando os pragmáticos da nação a entender que a melhor forma de aposentar o velho metalúrgico é fortalecer o jovem ministro.

Já há sinais nesse sentido. Além da não citação do nome de Lula no plenário da Câmara na referida votação, chama atenção a falta de reação do mercado e da imprensa com novos ataques de Lula ao presidente do Banco Central (BC), Campos Neto. Hoje, há uma boa compreensão de que, pelo menos nessa matéria, o que “ele fala, não se escreve”.

É claro que não se trata de subestimar o presidente. O aumento do tom contra o BC às vésperas da redução certa da taxa básica de juros é uma forma de o petista obter crédito pela decisão entre os desinformados. O olhar dos atentos, enquanto isso, estará em Haddad e no reconhecimento público que ele dará ou não à atuação do BC como principal fator para a queda da inflação e consequente redução da Selic.

E não é apenas na condução da economia que há esse movimento de neutralização. Uma poderosa parcela do establishment brasileiro que tem atuado para, na sua visão, estabilizar o país e que recentemente esteve reunida em Lisboa, pode achar que, depois de mandar o ex-presidente para o ostracismo e anular outros atores considerados radicais, é preciso completar o “trabalho” colocando o pijama em Lula, a outra fonte reconhecida de polarização do país.

Nesse sentido, pode ter muita gente grande e importante, hoje tida como petista, trabalhando para que Lula se aposente em 2026. E, nesse cenário, Haddad também vira uma opção boa para fechar essa página da história brasileira, promovendo uma transição de Lula e do PT mais tradicional, mesmo que o governo esteja bem avaliado quando a sucessão presidencial chegar. Mas, para isso, é preciso fortalecê-lo, principalmente aos olhos do mercado, da mídia e do eleitorado, agora.

 

Leonardo Barreto é cientista político e diretor VectorRelgov.com.br

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  1. É no mínimo má fé comparar Itamar Franco com luladrão. Assumir após o primeiro impeachment na democracia, enfrentar o mais corrupto e desleal dos partidos, não foi fácil. E mesmo assim conseguiu implantar a nova moeda e estabilizar a economia. Enfim, achei o artigo mal escrito

  2. Meu desejo é que Lula saísse de forma desonrosa deste governo, deixando marcas no PT, para que o povo desista de apoiar toda essa corja que acompanha Lula, que não faz nada. Nem falar em palanque ele está mais confiável! É clara sua incompetência, seja pela idade, bebida ou ignorância mesmo.

  3. Itamar Franco era "um tanto limitado" mas teve a inteligência, o bom senso de procurar a pessoa certa p acabar c a inflação e preparar o Brasil p ocrescimento. Graças à FHC q ajudou a criar o Plano Real q deu muito certo (Aluízio Mercadante, burro, disse q não ia dar certo). Infelizmente, FHC para ser reeleito abriu as portas da corrupção. Lula passou a mão na cabeça do Lula quando este estava fazendo o mesmo c o mensalão, aí acorrupção explodiu exponencialmente. Viva a Lava Jato. Fora Lula!

  4. Nem pensar. O mercado o vê "com bons olhos" pq qualquer um ao lado do lula parece razoável. Se repararmos, de todos os elogios ao Haddad, nenhum vem só PT. A oposição interna, aliada a sua coleção de fracassos eleitorais garantem que Lula pode estar bem seguro dele não lhe fazer qualquer sombra O único pijama que Lula vestirá será o de madeira (e muito a contragosto)

  5. O peso da responsabilidade está tornando Haddad o líder esquerda e poderá ter papel preponderante na eleição de 2026 onde pode bater chapa com Zema ou Tarcisio sem nenhuma dúvida mas este é o cenário atual que pode mudar conforme a clara e óbvia venezuelização do país que poderá ter imprevisíveis e graves consequências . que Zeus se apiade de nós.

    1. Adriano ... a responsabilidade política instiga a busca do conhecimento técnico e não há incompatibilidade nisto muito ao contrário, resta saber se o desejo por poder freará o morubixaba descondenado o dono do cargo que pode apear o "andrade" da viagem quando quiser.

    2. É uma análise política, não das capacidades técnicas....

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