Por que só agora o uruguaio Mujica disse que a Venezuela é uma ditadura

O ex-presidente uruguaio, José Pepe Mujica (foto), só admitiu que a Venezuela é uma ditadura no último domingo, 28. “É uma ditadura, sim, nada além de uma ditadura”, disse ele.

Em março deste ano, Mujica, que é da coalizão de esquerda Frente Ampla, chegou a justificar o atropelamento de manifestantes da oposição democrática por tanques de Nicolás Maduro. “Não é para se colocar à frente dos blindados”, disse ele.

A proximidade das eleições ajuda a explicar a mudança de posição. “Muitos eleitores da Frente Ampla aguardavam uma postura contra Nicolás Maduro”, diz o cientista político uruguaio Adolfo Garcé. “Além disso, em outras eleições na América Latina, a Venezuela acabou se provando uma pedra no sapato de muitos candidatos.”

No poder desde 2005, a Frente Ampla enfrentará sua eleição mais difícil no final deste ano. “Mujica sempre foi mais próximo de Hugo Chávez do que de Maduro, e provavelmente já tinha alguns reparos a fazer ao atual regime venezuelano. Então é possível que essa condenação do regime venezuelano possa ter sido resultado do amadurecimento de uma opinião pessoal”, diz o cientista político uruguaio Antonio Cardarello, da Universidade da República do Uruguai. “Mas, sem dúvida, também contou o desejo de manter a Frente Ampla no poder. Ao definir a Venezuela como uma ditadura, Mujica respalda o candidato presidencial da Frente Ampla, Daniel Martínez, que já tinha dito isso.”