Paraguai Albergue coronavírus

Por que o Brasil é o país com mais mortes por coronavírus no Mercosul

14.05.20 14:40

O Brasil já registrou 13 mil mortes por coronavírus. É muito mais que a Argentina, com 344; que o Uruguai, com 20; e que o Paraguai, com 11 óbitos.

A explicação mais corriqueira é política. O governo federal em Brasília não adotou o isolamento social em todo o país e tem mandado mensagens contraditórias, com o presidente Jair Bolsonaro dando seguidos maus exemplos.

Mas há outras explicações. “É preciso analisar um conjunto de coisas. Para mim, conta muito que o vírus chegou mais tarde nesses outros países, assim como chegou depois nos estados do sul do Brasil, o que deu tempo para as medidas funcionarem”, diz o epidemiologista Fernando Barros, professor da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Católica de Pelotas. “Nas outras regiões, como no Norte e no Sudeste, o coronavírus chegou mais cedo.”

Um estudo da Fiocruz divulgado nesta terça, 12, aponta que o vírus chegou ao Brasil vinte dias antes do Carnaval. Quando os primeiros blocos foram para a rua, já havia transmissão comunitária, quando não é mais possível rastrear a cadeia de contatos.

No Sul do Brasil, a situação é menos calamitosa. No Rio Grande do Sul, ocorreram 111 mortes por Covid até agora. Em Santa Catarina, 73. No Paraná, 117. Em todos eles, a taxa de mortalidade é de 1 para cada 100 mil habitantes.

Não é muito diferente dos dados em países vizinhos. Na Argentina, a taxa de mortalidade é de 0,7 para 100 mil habitantes. No Uruguai, 0,57. No Paraguai, a grande surpresa, 0,15. A taxa de mortalidade por Covid do Brasil como um todo, contudo, é muito maior: 6,3 em 100 mil.

Nos estados brasileiros com maior taxa de mortalidade, como Amazonas, São Paulo, Rio, Pernambuco e Ceará, há ainda que se considerar os fatores demográficos, como o saneamento básico e a aglomeração de pessoas nas favelas. No Uruguai, em comparação, toda a população tem esgoto tratado. As favelas nesse país em nada se comparam com as que existem nas periferias das cidades brasileiras. “Em geral, as casas nos assentamentos uruguaios têm apenas um andar e não ficam muito amontoadas. A densidade de pessoas é bem menor”, diz o médico uruguaio Javier Sciuto, diretor de uma empresa de consultoria em estatísticas médicas em São Paulo.

De todos, o país com menos casos é o Paraguai. Nesse caso, o país se beneficiou do seu isolamento, assim como ocorreu com a Bolívia. Há poucas conexões com os países vizinhos, sendo que a Ponte da Amizade, na divisa com o Brasil, é a principal delas.

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, fechou a fronteira no dia 24 de março, o mesmo dia em que o governador de São Paulo, João Doria, iniciou o isolamento social. Todos os que entraram no país desde então foram obrigados a permanecer catorze dias em albergues (foto). Quem desrespeita as regras é punido. Cerca de 2,5 mil pagaram multas. “Sem dúvida, o poder coercitivo estatal também ajudou a fazer com que a população seguisse as orientações do governo”, diz a infectologista paraguaia Elena Candia Florentín, presidente da Sociedade Paraguaia de Infectologia.

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