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Operação da PF em favela do Rio foi para recuperar celular de ministro da AGU

16.08.19 17:40

Uma operação de emergência realizada pela Polícia Federal no último fim de semana em uma favela no Rio de Janeiro repercutiu na imprensa por uma razão quase prosaica: fortemente armados, e com apoio de guarnições da Polícia Militar, os agentes foram a campo para recuperar um aparelho de telefone celular que havia sido esquecido dentro de um carro do Uber.

O veículo havia sido localizado e estava no interior da comunidade de Três Pontas, no Cosmos, Zona Oeste da cidade. A área é dominada pelo tráfico e por milícias. No boletim de ocorrência em que registraram o auxílio à PF, os PMs informaram que foram acionados pelos policiais federais para recuperar um aparelho que seria de propriedade de um delegado federal de nome Ricardo, de Brasília.

Estava aí a razão inicial do barulho: em um país onde tantos celulares de cidadãos comuns são roubados todos os dias, seria justificável a Polícia Federal mover tanto esforço só para recuperar um aparelho de um delegado?

Crusoé descobriu que a história é outra. A ordem para que a PF entrasse na favela para buscar o celular de fato partiu de Brasília. Mas a Polícia Federal mentiu ao informar que o celular era de um delegado. O aparelho, na verdade, era do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), André Luiz Mendonça (foto).

O ministro havia perdido o celular na quinta-feira, 8, quando viajou ao Rio para dar aulas em um curso de pós-graduação. Nesta sexta, 16, Crusoé perguntou a ele por que foi preciso deflagrar uma operação policial para resgatar o celular, de quem foi a decisão de esconder a verdade nos registros oficiais sobre a ação e de onde, em Brasília, partiu a ordem para que os policiais entrassem na favela para buscar o aparelho.

André Luiz Mendonça disse se tratar de um aparelho funcional que continha informações de estado e que, por isso, era preciso recuperá-lo. Afirmou ainda que ele próprio fez o pedido para que a PF fosse atrás do aparelho. O pedido, segundo Mendonça, foi feito diretamente ao diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, que teria ordenado a ação.

“Fui orientado a buscar no sistema da Apple a localização. Ele não aparecia. Não sabia onde podia estar também. Até que, na madrugada do sábado, apareceu para mim a localização. Eu estava em Brasília já. Não sabia dizer onde, era um local que eu não saberia dizer onde é no Rio de Janeiro. Pedi para falar com o diretor da Polícia Federal, o (Maurício) Valeixo, explicando que eu estava preocupado com o conteúdo de informações, de arquivos etc. que você tem nesses celulares. Aí ele acionou a Polícia Federal, eu mandei a localização de onde estaria. Eles me retornaram preocupados porque era uma localização dominada pelo tráfico e por milícias, que era uma região, vamos dizer assim, muito perigosa para a Polícia Federal entrar lá sozinha. Então, eles foram até próximo do local. Depois que eu fiquei sabendo disso”, afirmou o ministro a Crusoé.

Indagado sobre a razão de ter sido ocultada a informação sobre o verdadeiro dono do celular, André Luiz Mendonça afirmou:

“Eles (os policiais) me explicaram que falaram isso (que era de um delegado da PF) para não chamar atenção de quem poderia estar com o celular, entendeu? Foi a forma menos chamativa. Porque o valor ali são as informações, né? Informações de estado nas mãos erradas você corre um risco muito grande, ainda mais numa região em que eles me falaram que tinha domínio do tráfico.”

O ministro negou que tenha pedido ajuda ao ministro Sergio Moro ou ao presidente Jair Bolsonaro para que autorizassem a operação.

Ao todo, oito policiais federais e sete policiais militares participaram da ação. O celular foi recuperado.

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  1. Como pode!? Um aparelho contendo informações de Estado!!! Até ser recuperado, quem garante a que alguém não teve acesso a essas informações!? É cada absurdo...

  2. Esse ministro da AGU é, na melhor das hipóteses, um irresponsável. Como ele pode ter “esquecido” um celular com informações de Estado em um Uber? Isso é uma atitude q se pode esperar de um adolescente. É inadmissível em um ministro da AGU

  3. Reportagem com o intuito único e exclusivo de tergiversar da importância do assunto como se a preocupação fosse com o valor do aparelho em si, omitindo a importância do conteúdo que estaria contido no aparelho celular do ministro. Fosse no governo passado, uma ocorrência dessas não gerava nem noticia, quanto mais com esse estardalhaço todo e recheada de insinuações maudosaas.

  4. A esse tipo de ação, os simples e penalizados pagadores de impostos, inclusive o alto salário do ministro da AGU, não têm acesso mesmo. Isso é só para os deuses da "res publica", que em bom Português se traduz por coisa pública, coisa do povo.

  5. Agiram corretamente. Se eles falassem antes que o celular era de um ministro de estado chamaria muita atenção e as pessoas poderiam tentar acessar/vender as informações. Atitude correta de manter segredo.

  6. Não seria este a cria do Toffolli, o afilhado indicado para roubar o lugar do Moro no STF, novo queridinho do presidente terrivelmente traíra, queimador de pontes pelas quais fez sua travessia ??

    1. Kkkkk na mosca! Esse distraído mesmo! Isso pode, gente boa?

  7. Sendo um celular tão importante, com tantas infos sensíveis, convenhamos que o ministro foi bem negligente esquecendo-o num Uber. Mas o dinheiro do contribuinte está aí para isso mesmo, certo?

  8. Que tal orientar nossas autoridades a colocarem tudo na nuvem ao invés de deixar no celular. Preocupações, dinheiro e perigo de morte de pessoas seriam evitados. Ah, o custo é baratinho e cabe muita informação. A Apple garante que é seguro.

  9. Esses aparelhos funcionais, a meu ver, deveriam ser usados apenas no local de serviço do funcionário ou autoridade pública, já que o mesmo pode conter informações de estado. Nem em sua residência poderia ser levado. Mas aqui não, andam para cima e para baixo com esses aparelhos ostensivamente e dá nisso aí.

  10. Mesmo que fosse de um Delegado . Qual o problema de ir buscar ? Sim o telefone de um delegado ja justificaria pois contem o nome e contatos e informações sobre varios policiais . E ate pra entregar uma simples intimaçao nessa area seria sim necessário reforço . Foi muita virulência da imprensa atacar isso de cara como se fosse uma ação exagerada . Vo te contar , cada vez mais dificil ser policia nesse pais . Ninguem valoriza !

  11. Dando aula em Pos-Graduação? Sugiro ao Sr. Ministro dedicar todo seu tempo, esforço e coração à função de ministro. Imaginem a quantidade de pautas que um ministro de estado deve ter?! Se está sobrando tempo para preparar aulas é porque há deficiências na função de ministro! Tenho certeza que há pessoas que receberiam a missão de ministro com tarefa de servidão incondicional à nação, a exemplo do ministro Tarcísio Freitas!

  12. Até que não tenho muitas reservas quanto a esse Min., a não ser o fato de que o Toffoli o apoie abertamente e vice-versa, haja visto o seu parecer estranhamente favorável ao AISSTF - que censurou a Crusoé, inclusive.

    1. Honestamente, o simples fato de estar alinhado com o Toffoli me causa muita desconfiança.

    1. Mas é extremamente evangélico e pode acabar presenteado com a tal vaga no supremo... ainda que seja distraído, é amigo do amigo do amigo... chora, Brasil 🇧🇷

  13. Se essa história for realmente verdadeira, é interessante o cuidado dispensado com informações de estado por esse ministro. Primeiro deixa informações de estado guardadas num celular, segundo perde o celular (sabe-se lá em que situação), terceiro não utiliza nenhum tipo de criptografia ou segurança adicional para resguardar tais informações em caso de perda. Isso está cheirando foto ou vídeos da festa que ele fez longe de casa...

    1. Garoto de programa, orgia com menores.... e conta pra carochinha que era pra proteger segredo de Estado

  14. Parabéns a Crusoé. Uma matéria dessas aumenta a credibilidade que se tem da revista e a importância de assiná-la, porque a grande imprensa não noticio fato (que seria, sem dúvida de seu interesse jornalístico).

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