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Ex-gerente da Vale: mineradora não sabia de corrupção em negócio na Guiné

29.06.20 07:05

O ex-gerente da Vale Alex Monteiro afirmou a Crusoé que a mineradora não tinha conhecimento da existência de propinas em um contrato bilionário de mineração na Guiné com o magnata Beny Steinmetz.

Em 2008, a Vale comprou de Steinmetz, por 2,5 bilhões de dólares, 51% de sua participação no campo de minério de Simandou, na Guiné. A concessão havia sido obtida pelo bilionário junto ao governo do ditador Lansana Conté. Após a morte do chefe de estado, e a ascensão de seu opositor Alpha Condé, o negócio foi por água abaixo. O bilionário foi investigado pelo pagamento de propinas à esposa de Conté à época da concessão.

Sob o argumento de que não tinha conhecimento dos esquemas de corrupção, a Vale processou Steinmetz numa corte arbitral britânica. A corte condenou o magnata dos diamantes israelense a indenizar a mineradora em 2 bilhões de dólares. Ele apela à Justiça de Nova York contra a multa. Na apelação à Justiça, o Steinmetz anexou uma investigação privada feita pela Black Cube, agência de espionagem que conta com a participação de ex-agentes do serviço secreto de Israel. O material envolve gravações de conversas com ex-executivos da mineradora.

O bilionário alega que não se corrompeu, mas sustenta que a Vale tinha conhecimento sobre riscos de corrupção no negócio. Steinmetz também apresentou e-mails entre o ex-gerente de fusões da mineradora, Alex Monteiro, e um representante da empresa de auditoria Ernst & Young. Na conversa, Monteiro afirma ao auditor não concordar com trecho do relatório da empresa sobre o negócio na Guiné que cita “alto risco de propinas e suborno”. Nos e-mails seguintes, o representante da Ernst & Young afirma ter feito adequações no relatório. O caso foi revelado por Crusoé, na sua edição de número 110.

Monteiro, porém, ressalta que a sentença da corte arbitral demonstra que a Vale agiu com “evidente boa-fé e diligência, como também a atuação profissional, ética e responsável de seus executivos, reconhecendo em favor da empresa o direito a uma indenização de 2 bilhões de dólares em razão da atuação ilícita” da empresa de Steinmetz.

Monteiro ainda diz que os e-mails com a Ernst & Young tratam de uma “discussão exclusivamente técnica”, feita para “eliminar ambiguidades, assegurando maior clareza possível ao relatório de due diligence elaborado pela empresa de auditoria”. “O relatório da Ernst & Young indicou que havia certos controles internos deficientes na empresa do Sr. Steinmetz ante a constatação factual de se tratar de uma empresa nova, familiar, com atuação em área remota de mineração em país africano, com mão de obra pouco qualificada e serviços precários.”

“Após trabalho intenso e questionamentos bastante precisos ao Sr. Steinmetz e pessoas associadas a ele especificamente sobre suborno e corrupção, não houve absolutamente qualquer indicação de que a concessão minerária em questão havia sido obtida mediante a prática de algum ilícito pela empresa do Sr. Steinmetz”, sustenta Monteiro.

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