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A provocação no reatamento das relações entre Israel e Marrocos

10.12.20 17:49

Marrocos e Israel anunciaram nesta quinta, 10, que irão reatar relações diplomáticas. Com isso, o Marrocos será o quarto país árabe, em quatro meses, a fazer um acordo com Israel. Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão já fizeram acordos de paz — todos intermediados pelos Estados Unidos.

Mas o anúncio inesperado trouxe à tona uma região praticamente ignorada pelo resto do mundo, o Saara Ocidental. Antiga colônia espanhola, o país foi anexado pelo Marrocos em 1974. A incorporação nunca foi reconhecida pela ONU e o território hoje é disputado pelo Marrocos e pela Frente Polisário, apoiada pela Argélia.

“Hoje, assinei uma proclamação reconhecendo a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental. A proposta de autonomia séria, credível e realista de Marrocos é a única base para uma solução justa e duradoura para a paz e a prosperidade duradouras!”, tuitou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “O Marrocos reconheceu os Estados Unidos em 1777. É, portanto, adequado reconhecermos a sua soberania sobre o Saara Ocidental.”

Os motivos que levaram à inclusão do Saara Ocidental no acordo com Israel são incertos. É grande a possibilidade de que Joe Biden, uma vez empossado, reverta o reconhecimento do Saara Ocidental como área de soberania marroquina. “Trump pode ter feito isso com o intuito de deixar um legado ou apenas para fazer uma provocação, já sabendo que Biden irá desfazer sua decisão”, diz Karina Calandrin, professora de relações internacionais e colaboradora do Instituto Brasil-Israel.

Para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (foto), o cálculo é outro. Ao reconhecer a soberania de uma região em disputa pelo Marrocos, Netanyahu deixa no ar um possível reconhecimento da soberania israelense sobre partes da Cisjordânia. Este ano, o primeiro-ministro propôs anexar algumas regiões que estão sob domínio da Autoridade Palestina. “Provavelmente, trata-se de uma jogada do Netanyahu, que gostaria de declarar a soberania israelense de áreas da Cisjordânia”, diz Karina. “Netanyahu pode querer fazer disso como uma moeda de troca, em que o Marrocos ficaria obrigado mais tarde a reconhecer a soberania israelense na Palestina. Contudo, é improvável que isso aconteça.”

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