Lula e Bolsonaro: o esqueleto da democracia está podre

As manifestações de Primeiro de Maio, tanto a lulista quanto as bolsonaristas, foram um fiasco. As bolsonaristas estavam bem mais cheias (foto), mas, ainda assim, os adeptos do presidente da República compareceram em número menor do que o esperado pelos organizadores. Lula já não conta nem com a mesma popularidade, apesar de as pesquisas de intenção de voto o apontarem como o primeiro colocado na corrida para o Planalto, nem com o dinheiro farto dos sindicatos, que perderam a mamata do imposto obrigatório e, assim, não podem patrocinar como antes eventos do PT e adjacências. a pretexto de comemorar efemérides. Falta mortadela. Agradeçam à reforma trabalhista, que os petistas querem revogar, obviamente. Quanto a Jair Bolsonaro, a bandeira de “defesa das liberdades” era vaga demais para atrair multidões interessadas mesmo é em discursos golpistas, como o fechamento do STF. Além disso, o símbolo bolsonarista dessas liberdades, o desclassificado Daniel Silveira, é tão carismático quanto um halteres, para fazer gente perder um domingo de sol por causa dele.

No balanço do dia, nas redes sociais, tanto um lado quanto o outro viram nas manifestações ralas um sinal da fraqueza do adversário. Mas fraca mesmo é a democracia brasileira. Tanto o sistema político quanto o Judiciário encaminharam um regime duramente conquistado há pouco mais de 30 anos para um beco sem saída, como mostram tanto Lula quanto Jair Bolsonaro. O sistema político propiciou que impostores dominassem os partidos políticos, transformando-os em repassadores de dinheiro público que azeitam a engrenagem mantenedora da disfuncionalidade, num arco que vai do fisiologismo à corrupção mais desavergonhada. Os controles externos foram tomados por prepostos dos impostores ou simplesmente desarmados por uma legislação infame, que pune o investigador. Do lado do Judiciário, os tribunais superiores, que se arrogam o papel de defensores da democracia, esvaziaram-na por meio do ativismo político em prol da impunidade desses mesmos impostores e da caça a procuradores e juízes de instâncias inferiores que ousaram denunciar, investigar e prender poderosos.

Cada um à sua maneira, Lula e Jair Bolsonaro são produtos de um sistema político que já não representa mais a sociedade, se é que ainda existe sociedade digna desse nome num país fraturado não pela polarização estúpida, como faz crer o noticiário que acaba encobrindo a realidade nacional, mas pelo salve-se quem puder de uma população que chafurda na miséria material e existencial. O sistema político é o esqueleto da democracia, mas esse esqueleto está podre. Ou ele se regenera, ou a democracia também apodrecerá.