DNS via Wikimedia CommonsDestruição na cidade de Sloviansk: território caiu sob jugo russo

A Rússia vence pelo cansaço

Com ajuda de ditaduras para contornar sanções ocidentais e receber novas armas, Putin começa a levar a melhor na Ucrânia
01.03.24

A invasão russa da Ucrânia completou dois anos no dia 24 de fevereiro. Nesse longo período, os ucranianos resistiram bravamente. Com ajuda do Ocidente, eles conseguiram deter a investida ordenada pelo Kremlin. Um impasse tomou conta dos campos de batalha, com os dois exércitos progredindo muito pouco ou quase nada. Essa situação, contudo, está mudando, com a Rússia voltando a ganhar predominância e a Ucrânia em uma situação de crescente fragilidade. Este ano, com a conquista de cidades como Avdiivka, os russos passaram a controlar um quinto do território da Ucrânia.

A força da Rússia mesmo dois anos após o início da guerra se explica, em grande parte, porque o país contornou com sucesso as sanções impostas pelo Ocidente. Em 2023, a economia do país cresceu 2,6%, segundo o FMI. Isso aconteceu porque, embora os Estados Unidos e países europeus tenham deixado de comprar as commodities da Rússia, como gás natural, petróleo e minérios, o país passou a vender mais para outros mercados, como China, Índia e Turquia. O Brasil também entrou nesse jogo ao elevar exponencialmente a importação de diesel dos russos, financiando a máquina de guerra de Putin.

O autocrata também se beneficia do fato de poder direcionar a seu bel-prazer a economia de seu país, sem pedir licença a ninguém. Sendo assim, investimentos estatais expandiram os gastos com o setor de defesa e aqueceu esse setor, gerando empregos. Por fim, a Rússia tem contado com a ajuda de uma rede solidária de ditaduras. O Irã vende drones de baixo custo e mísseis balísticos. A Coreia do Norte exporta armas e obuses, que são pequenos canhões.

Na Ucrânia, o horizonte é desanimador. O governo de Volodymyr Zelensky está com dificuldades para recrutar jovens entre a população. Como haverá eleições este ano, ficou ainda mais difícil para o governo decretar uma medida impopular como essa. O país já perdeu 31 mil soldados, em dados do próprio governo, mas os Estados Unidos acreditam que os números são bem maiores (a Rússia perdeu 44,5 mil soldados, de acordo com a mídia independente do país).

Também ficou mais problemático contar com dinheiro do Ocidente para comprar munições, tanques e equipamentos de artilharia. Os sinais mais preocupantes vêm dos Estados Unidos, o maior parceiro militar. A guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, tirou o foco de Washington sobre a ameaça russa — e nem as visitas de Zelensky ao Congresso do país, no final do ano passado, ajudaram a acelerar a ajuda financeira no Congresso. Além disso, com a aproximação das eleições presidenciais no final do ano, assuntos domésticos dominaram a pauta, como a imigração na fronteira com o México. Hoje, tanto republicanos como democratas têm levantado obstáculos para encaminhar bilhões de dólares para Kiev.

Um dos políticos que mais têm atrapalhado a vida da Ucrânia é o ex-presidente e pré-candidato Donald Trump, que tem acusado os democratas de permitirem a imigração pela fronteira com o México e de serem responsáveis por uma onda de criminalidade em várias cidades. “Trump nunca ligou para a fronteira”, escreveu a jornalista e pesquisadora Anne Applebaum, uma das mais respeitadas estudiosas sobre a Rússia e sua esfera de influência. “Trump está bloqueando o apoio à Ucrânia porque ele quer que a Ucrânia perca, não porque ele se preocupa com a fronteira.”

Nos próximos meses, espera-se que a Rússia inicie novas ações militares. Nesta quarta-feira, 28, o Parlamento da Transnístria, uma pequena província ao leste da Moldávia, fez um apelo de “proteção” ao governo russo. Moscou deve atender ao pedido com o maior prazer — já que a Transnístria, que desde os anos 90 quer se separar do governo moldavo, divide 454 km de fronteira com a Ucrânia. Para o Instituto de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês), a ação da Transnístria pode descambar até em um novo referendo arranjado para anexá-los à Rússia, tal como os que ocorreram na Crimeia em 2014 e Donetsk e em Lugansk, em 2022.

Uma ação russa por ali abriria caminho para a tomada da cidade de Odessa, principal porto ucraniano e vital para o acesso do país para o litoral. Atacando a partir da frente oriental (em territórios já sob o jugo russo) e, possivelmente, por uma frente ocidental (a partir da Moldávia), é como se Putin enforcasse a Ucrânia ao cortar seu acesso ao litoral. Isso poderia sufocar e colapsar o governo ucraniano. “Os russos não estão empenhando toda sua força, e ele tem capacidade de dominar todo o leste da Ucrânia”, diz Ricardo Cabral, analista militar do site História Militar em Debate.

Com a resistência do Ocidente definhando, Putin segue ameaçando a Ucrânia e o mundo: “Lembremos o que aconteceu com aqueles que antes enviaram contingentes ao território do nosso país. Hoje, quaisquer potenciais agressores enfrentarão consequências muito mais graves. Eles têm de compreender que também temos armas nucleares – sim, eles sabem disso, como acabei de dizer – capazes de atingir alvos nos seus territórios”.

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  1. Lula adora "lamentar" as mortes de mulheres e crianças na Palestina (os homens que se danem!). Entretanto, se "esquece" completamente das mulheres, crianças e homens civis da Ucrânia, que tem sido brutalmente assassinadas pelo agressor russo. Continua apoiando Putin que é um dos maiores "serial killers" da história e que considera civis como alvos militares válidos. Lula financia a barbárie russa com importações generosas. Aí tudo bem, né? Sujeito torpe esse molusco.

  2. Reportagem com vários sinais de ser "russete". Os 30/45 mil soldados mortos têm tanta validade quanto os 30 mil de Gaza. Não cita fontes independentes, como se a imprensa russa o fosse. Coloca democratas e republicanos no mesmo saco de Trump, distorcendo os fatos. Entre outras. Enfim, Putin agradecendo o apoio.

    1. Nossa! Você é que conseguiu enxergar uma distorção aí. eu não vi nada. Estamos todos vendo o problema da Ucrânia depois que a Guerra de Israel e Hamas chamaram os holofotes. E, esse números ali não estão sendo o foto do artigo. Mortos de um lado ou outro são, em sua maioria, vitimas do Ditador russo. Não interessa quantos.

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