RS/ via Fotos PublicasJair Bolsonaro na Avenida Paulista: eleitores das grandes capitais tendem a olhar para os grandes temas

A manifestação da avenida Paulista e as eleições municipais

01.03.24

O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo inelegível, mostrou que está no páreo eleitoral: ele tem poder de mobilização e fez bonito ao reunir milhares de pessoas nas ruas no último domingo, 25, em São Paulo. O ato foi grandioso, contou com a presença de importantes nomes da direita, como Romeu Zema e Tarcísio de Freitas, e evidenciou que o Brasil ainda está profundamente dividido em dois lados. Até mesmo Lula admitiu que o ato foi grande. Mas será que essa polarização se manterá até outubro? O que podemos esperar das eleições de 2024?

Polarização é um termo nada novo para nós brasileiros. Os partidos políticos se tornaram times de futebol com camisetas e paixões irracionais disputando uma final de campeonato. Nós vivemos isso, mais recentemente, nos Atos de 8 de janeiro na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes. As imagens mostraram que a polarização não acabou nas urnas. Outro forte sinal dado nas eleições passadas do acirramento da polarização foi o fracasso das diversas tentativas de emplacar uma “terceira via”, com nomes sérios concorrendo  por outros partidos e polos ideológicos. Não houve chance de qualquer respiro para um terceiro candidato.

O ano de 2022 foi bem mais polarizado do que 2018. Em 2022, tivemos a presença do nome “Lula” na disputa, representando um extremo polo político em comparação com seu aliado Hadad, que concorreu em 2018. Lula personifica a extrema esquerda brasileira, somando os anos em que governou pelo PT com a condenação na Lava Jato e seu período na prisão. O Bolsonaro de 2022 também se apresentou como um nome muito mais polarizador do que na eleição anterior. Ele já não era apenas um outsider, mas alguém que governou o país por quatro anos, enfrentando um período desafiador ao lidar com a pandemia. Ele representava a principal, e praticamente única, força de direita contra Lula.

E esse é o fenômeno da calcificação da polarização política, criado pelo cientista político Felipe Nunes em seu livro Biografia do Abismo. Para ele: “A calcificação é um conceito mais adequado aos tempos atuais porque envolve não só a polarização política, mas também as visões de mundo e o quanto essas perspectivas vão ficando cada vez mais engessadas”.

No mundo em que vivemos, as ideias políticas têm impacto em nossas vidas pessoais, famílias e amizades. Uma pesquisa recente do Instituto Quaest, afirmou que um em cada sete brasileiros rompeu pelo menos uma amizade durante o último processo eleitoral. Além disso, o Relatório Nacional do Edelman Trust Barometer 2023/2024 coloca o Brasil em risco de uma polarização severa, pior do que países como Nigéria e Quênia, que enfrentam desafios significativos em suas democracias. Mas será isso um fator determinante das eleições deste ano?

Uma eleição municipal tem um perfil muito diferente das demais; o voto é mais disputado, o contato com o eleitor é mais próximo, temos as pautas locais como um diferencial e as lideranças de bairros são fortes protagonistas. Em muitas cidades, a distribuição de emendas parlamentares são fatores determinantes. Por isso, é muito comum que candidatos não ideológicos, mas que atuam dentro da política “tradicional“, tenham muita força.

Além disso, o balcão de negócios dos partidos políticos está em um momento relevante para definir parcerias e lideranças que devem receber mais recursos e visibilidade, pois, é claro, não há ideologia que vença o gigantesco fundo eleitoral. Um exemplo disso é a tentativa dos partidos União Brasil, Republicanos e Progressistas de montar uma super federação para essa disputa e ter ainda mais força para financiar suas candidaturas.

A polarização deve, portanto, estar presente nas grandes capitais, que refletem a disputa federal em um nível macro, como, por exemplo, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Nelas, figuras como Nicolas Ferreira, o deputado federal mais votado de 2022 e um grande promotor do polo bolsonarista, exercem uma influência significativa no debate político. A margem de candidaturas nessas localidades, que flutua conforme o timing político, ficará muito dependente da atual polarização.

Cada eleição é uma caixinha de surpresas, e nunca teremos uma fórmula mágica para resolver todos os desafios políticos. No entanto, a manifestação de domingo liderada por Bolsonaro não deixa dúvidas de sua força e impacto no pleito municipal. À medida que nos aproximamos de outubro de 2024, o cenário político segue ainda mais dividido, com influências significativas tanto em nível federal quanto local. Nos resta entender como esses fatores se aliam com as candidaturas tradicionais e com os novos players da eleição.

 

Anne Dias é advogada, presidente do Lola Brasil, diretora do Programa de Núcleo do Lola Internacional (Ladies Of Liberty Alliance)

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  1. Como a maioria, tb tive amizades estremecidas, mas não foi por ideologia. O que me incomoda é o desprezo pela Ética. O mau-caratismo é a marca dos atuais líderes dos dois extremos …

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