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A encruzilhada de Bibi

O amigo israelense de Jair Bolsonaro ganhou afagos americanos, mas está pressionado pela Justiça, por foguetes palestinos e ainda pode sair derrotado nas eleições
29.03.19

Ao longo dos treze anos em que ocupou o cargo de primeiro-ministro, Benjamin “Bibi” Netanyahu construiu a imagem de “Senhor Segurança”, alguém indispensável para que os israelenses pudessem viver em paz, sem medo das ameaças de grupos terroristas ou ditadores da vizinhança. “A popularidade de Bibi está diretamente ligada à sua política externa. Seu discurso afirma que o país está em um permanente estado de guerra e que só ele pode proteger a população”, diz o cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getúlio Vargas. É com essa credencial que Netanyahu disputa as próximas eleições, marcadas para 9 de abril. Na área externa, o primeiro-ministro tem contado com o apoio incondicional do presidente americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro, que visitará o país entre 31 de março e 2 de abril. Seu futuro político, contudo, dependerá muito mais do andamento dos processos contra ele na Justiça, da repercussão dos foguetes lançados pelo grupo terrorista Hamas e do êxito de partidos nanicos.

No roteiro de Bolsonaro está incluída uma visita ao Muro das Lamentações, na companhia de Netanyahu. Como o lugar sagrado fica em Jerusalém Oriental, reivindicada pelos palestinos, ele não costuma ser muito visitado por líderes mundiais com o primeiro-ministro. Bolsonaro não pretende também ir a Ramallah, capital da Cisjordânia, onde fica a sede da Autoridade Palestina. Está fechadíssimo com Bibi. Empolgados com as promessas de Bolsonaro feitas durante a campanha no ano passado, alguns israelenses nutrem a expectativa de que ele anunciará a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. A decisão tem encontrado resistências dentro do governo brasileiro. Na quinta-feira, 28, o presidente brasileiro apenas sugeriu abrir um escritório de representação comercial na cidade histórica.

Agência BrasilAgência BrasilBolsonaro com Netanyahu no início do ano, no Brasil: em vez de uma embaixada, um escritório comercial em Jerusalém
“Depois que os Estados Unidos mudaram a embaixada para Jerusalém, o anúncio de qualquer outro país terá um efeito menor”, diz o cientista político israelense Menachem Klein, da Universidade Bar-Ilan, em Israel. “Uma decisão brasileira tampouco criaria um efeito bola de neve, com outros países importantes imitando o gesto.” A Guatemala já mudou a embaixada e a Romênia prometeu fazê-lo em breve. Mas nada que mude muito a atual situação.

Os Estados Unidos são um dos principais cabos eleitorais de Bibi. “Os israelenses em geral enxergam a relação excelente entre Netanyahu e Trump como uma boa razão para manter o primeiro-ministro no poder”, diz o analista de opinião pública israelense Mitchell Barack, da agência de pesquisas Keevoon Global Research. Em seus dois anos de mandato, Trump já retirou os Estados Unidos do acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã, país que foi caracterizado por Netanyahu como a maior das ameaças a Israel. Além de mudar a embaixada americana para Jerusalém, Trump reconheceu na segunda-feira, 25, em um encontro com Netanyahu na Casa Branca, a soberania israelense sobre as Colinas de Golã. Esse território elevado, no norte do país, faz fronteira principalmente com a Síria, mas também com o Líbano e a Jordânia.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, tropas e tanques sírios que estavam estacionados nas Colinas de Golã, então território sírio, invadiram Israel, sob os auspícios da então União Soviética. Os israelenses rapidamente entraram em ação e botaram os sírios e demais árabes para correr. Por ser uma área de onde seria possível lançar novos ataques contra Israel, o governo decidiu manter seus soldados por lá. Em 1981, o Congresso israelense estendeu as leis do país para as Colinas de Golã. Foi uma forma de anexação, apesar de o Conselho de Segurança da ONU ter reagido, dizendo que a decisão israelense era nula e sem efeito. O reconhecimento americano não muda em nada a realidade dos que lá vivem, principalmente agricultores, muitos deles descendentes de sírios. Trata-se sobretudo de um movimento de alto valor simbólico. E eleitoral. Com ele, Trump manda outra mensagem de que as rusgas entre Netanyahu e seu antecessor Barack Obama são coisa do passado e o comprometimento dos Estados Unidos com o atual primeiro-ministro é total.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisNa Casa Branca, Trump e Netanyahu exibem documento que reconhece a soberania israelense nas Colinas de Golã
A imagem de guardião de Israel com bons amigos no exterior garante a Netanyahu os votos de boa parte do eleitorado de direita, mas não o livra de duas sombras. A primeira é a da Justiça. O procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, já anunciou que pretende indiciar Netanyahu por fraude e corrupção. O primeiro-ministro é suspeito de ter recebido charutos, joias e champanhes de empresários e de ter comprado cobertura favorável na imprensa local. Bibi se defendeu dizendo que os presentes não foram trocados por favores e que todos os políticos buscam ser assunto de notícias favoráveis. “Muitos eleitores do Likud, partido do primeiro-ministro, estão relutantes em apoiar Netanyahu porque ele poderá ser indiciado no futuro e estão pensando em outros partidos”, diz a cientista política Liron Lavi, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Se for indiciado, Netanyahu tem direito a uma audiência para se defender, mas ela só poderá ocorrer depois da realização da eleição. Em Israel, vale ressaltar, a Justiça trabalha com total autonomia. O antecessor de Netanyahu no cargo, Ehud Olmert, e um ex-presidente, Moshe Katsav, já foram para a prisão. Uma condenação é, portanto, plausível.

A outra sombra é a da política. Com Netanyahu dominando o debate, vários outros partidos, ainda que com diferentes ideologias, uniram-se com o propósito de tirá-lo do poder. O partido que hoje disputa com o Likud a possibilidade de formar uma coalizão governista é o Azul e Branco, um amontoado de siglas de direita, centro e centro-esquerda e sem plataforma clara. O líder do Azul é Branco é Benny Gantz, um general reformado que comandou um ataque militar à Faixa de Gaza em 2014. “A disputa eleitoral é entre Bibi e os que não são Bibi. Isso explica como Gantz foi capaz de atrair eleitores tanto da direita quanto da esquerda. Todos querem tirar Netanyahu”, diz a cientista política israelense Yael Shomer, da Universidade Tel Aviv.

Reprodução / redes sociaisBenny Gantz: ele é o anti-Bibi que angaria votos de direita e esquerda
Para enfraquecer o rótulo de Netanyahu como o “Senhor Segurança”, Gantz tem dito que o primeiro-ministro não é duro o suficiente contra os terroristas palestinos do Hamas. Ele tem sido ajudado pelos acontecimentos. Na segunda, 25, um foguete lançado da Faixa de Gaza caiu em uma casa cerca de 20 quilômetros ao norte de Tel Aviv, ferindo sete pessoas de uma mesma família. As Forças Armadas israelenses revidaram, destruindo várias casas do Hamas no enclave costeiro. Ao longo da semana, dúzias de foguetes foram lançados de Gaza. As sirenes, que tocaram em várias regiões para alertar a população do perigo, foram um lembrete de que os israelenses não estão tão bem protegidos como gostariam. Na segunda-feira, 25, Gantz usou a insegurança a seu favor. “Devemos acabar com essa realidade ao sul de Israel, em que crianças israelenses são obrigadas a passar a noite em abrigos de bombas enquanto os cabeças do Hamas celebram”, disse ele. Gantz promete reagir com força contra os ataques de Gaza e acabar com instabilidades na fronteira norte, com a Síria, — mas também é a favor de um acordo de longo prazo com os palestinos, algo que Netanyahu nunca se esforçou para conseguir.

IDFIDFCasa perto de Tel Aviv destruída for foguete do grupo terrorista Hamas, na segunda, 25: a oposição diz que o primeiro-ministro não reage como deveria
Se o procurador-geral poupar Netanyahu, a disputa entre o Likud e o Azul e Branco deve ficar ainda mais apertada. Ambos estão perto de alcançar cerca de 30 assentos no Parlamento, o Knesset, que tem 120 cadeiras no total. Para desfrutar de uma maioria, será necessário fazer coligações. É aí que está a maior imprevisibilidade da eleição israelense. Diversos partidos nanicos estão se engalfinhando para obter um mínimo de 3,25% dos votos, patamar que os habilitaria a entrar no Parlamento. “Surpreendentemente, muito do resultado da eleição não dependerá dos dois partidos maiores, mas da capacidade dos pequenos em conseguir espaço”, diz Liron Lavi, da Universidade da Califórnia.

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    1. O Guarda de Israel é Deus Pai, e Bibi é um Estadista de Primeira. Adoro rever seus duros discursos contra a comunista, onu.

  1. Espero que dentro dessa visita, tenha além da cordialidade, construir meios de alcançar conhecimentos, tecnologias em vários setores que esse País possue trazendo para o Brasil.

    1. Será maravilhoso ver nosso povo BRASILEIRO poder cultivar mais tecnológicas com nossos irmãos Israelenses.

  2. Seria necessário escrever um outro artigo para apontar as incorreções deste. Do autor e das pessoas citadas . Registro apenas uma, TODOS os chefes de estado e autoridades que visitam Israel visitam o Muro Ocidental ( ou Das Lamentações ) . Se Crusoé não tem condições de tratar de assuntos internacionais com a mesma qualidade com que trata os assuntos nacionais, é melhor calar .

    1. Verdaaaaddee!!! Chama o Ministro Israelense para jantar com FHC, SARNEY, COLLOR, LULA , GLEISI, E TODOS OS LADRÕES DO PT QUE EXALANDO PODRIDÃO QUEBRARAM O BRASIL! O Ministro vai aprender na maior niversidade do roubo que charutos e jóias são dados aos garis do "Planalto"! kkkkkkkkk

  3. Que inveja! Viram o que é um país sério? Netanyahu está sendo processado por ter recebido de presente charutos, joias e champanhe, de empresários. Será que o promotor acusador não teria um infarto, ao saber dos BILHÕES roubados/desviados/doados, do erário brasileiro por um certo presidente e sua sucessora, de um certo partido de esquerda? Por sobre o acerto do posicionamento político e estratégico de JB, tem tecnologia e know how israelenses para o Brasil. E teve o Mossad...

    1. Se vc lesse mais, saberia que boa parte da mídia menciona o Nataniel com este apelido (Bibi=Binjamin).

    2. Só pode! É muita falta de respeito com o Ministro !

  4. Se esse Benny Gantz ganhar, ele deve fazer coalizão com os mesmos partidos da base de Netanyahu, ou seja no fim das contas, tudo deve continuar igual.

  5. ...Nosso nordeste no passado abrigou judeus foragidos que ao longo do tempo miscigenaram-se com a nossa raça, nossa religião e nossa cultura. Hoje Israel poderá ajudar esses descendentes que amargam a seca em um ambiente hostil e ajudar o progresso destes irmãos.

    1. Mesmo não sabendo disso antes, eu sempre torço pra que Israel ajude o JB no "tocante" à seca que amargam nossos irmãos nordestinos.

  6. Bolsonaro está sendo pragmático ao extremo em sua relação com Israel. Que outro país do mundo pode nos oferecer tanto neste momento em parcerias de negócio, tecnologia, educação e em práticas avançadas para a melhora da qualidade de vida em ambiente hostil. Também ha algo que muitos tentam não ver que é a proximidade afetiva entre os dois povos. Israelenses sempre tiveram grandes oportunidades no Brasil. Nosso nordeste no passado abrigou judeus foragidos.....

    1. Márcia, não havera perda alguma. Veja os números. Os países árabes que ameacaram patar de comerciar conosco representam 1digito percentual do nosso comércio externo. Venderemos para a China, mais e melhor.

    2. Márcia, não havera perda alguma. Veja os números. Os países árabes que ameacaram patar de comerciar conosco representam 1digito percentual do nosso comércio externo. Venderemos para a China, mais e melhor.

    3. Sim mas como Israel equilibraria a balança comercial com a perda enorme que teríamos?

  7. Duda Teixeira. não concordo com tudo que escreveu. mas devo parabenizar o trabalho de cobrir um assunto tão importante. Crusoe por favor mais cobertura com assuntos internacionais

  8. A atual relação do Brasil com Israel é extremamente saudável e necessária pois o presidente #Bolsonaro está pensando no futuro, e não de forma míope, aliás sou a favor de #Israel.

    1. Francamente não acho legal que jornalistas usem termos como: BIBI BOZO Considero uma grande falta de profissionalismo. relembro mais uma vez que o presidente francês Manoel Macrom, corrigiu um jovem que o chamou de Manu . Ele disse: vc está se dirigindo ao Presidente. E é assim que TB penso.

    2. lenah, pra que tanta amargura.Tente ser mais positiva e menos pessimista

    3. Chamam o Presidente de bolsona, bozo e tantas adjetividades? Turma da "pátria educadora ". SR PRESIDENTE. Respeito painho!!!

    4. Nada a ver aí em baixo. O passado é de Tancredoe seu sobrinho. EM cima do muro é toma lá dá cá Parabéns staff Bolsonaro e EB.

    5. Bolsona osro prestes a cometer nova tolice, que sairá cara para o nosso país. A neutralidade é o mellhor caminho, e está mais do que na

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