Adriano Machado/Crusoé"O agronegócio foi o setor que primeiro abraçou Jair Bolsonaro. Claro que existe uma empatia dos dois lados"

O ‘vice-ministro’ desabafa

Luiz Antônio Nabhan Garcia, secretário do Ministério da Agricultura que vive se engalfinhando nos bastidores com a chefe, Tereza Cristina, diz por que o agronegócio virou uma espécie de sócio do governo e explica a crise com militares que denunciaram esquema no Incra
25.10.19

O cargo não existe em nenhum organograma de Brasília, mas sobre a mesa de Luiz Antônio Nabhan Garcia, no quinto andar do Ministério da Agricultura, uma placa exibe o título que ele se autoconcedeu: vice-ministro. Só abaixo vem o nome oficial do posto que ele ocupa por ali: secretário de Assuntos Fundiários. Adversário interno da titular da pasta, a ministra Tereza Cristina, Nabhan foi presidente da União Democrática Ruralista, a UDR, e nas últimas semanas conseguiu afastar de uma só vez quatro militares que ocupavam cargos de comando no Incra, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Entre eles estava o presidente do órgão, o general Jesus Corrêa.

As demissões deflagraram uma crise. Por mensagem de WhatsApp, Corrêa saiu atirando. Disse que o Incra é um “esgoto” controlado por “organizações criminosas”. Um dos subordinados do general, o coronel Marcos Antonio dos Santos, declarou a Crusoé que a confusão começou porque os militares se recusaram a atender interesses particulares de Nabhan, em especial a titulação de terras de ruralistas ligados a ele. O secretário tornou-se amigo particular de Jair Bolsonaro depois da campanha presidencial, especialmente por tê-lo aproximado de players importantes do agronegócio. Nesta entrevista a Crusoé, Nabhan Garcia, de 61 anos, fala da recente crise no ministério e da relação do setor que representa com o governo. Eis os principais trechos.

Militares que deixaram o Incra apontam a existência de uma organização criminosa lá dentro, dizem que eram uma “pedra no sapato” e que, por isso, caíram. Procede?
Por que só falaram depois de demitidos? Nunca falaram nada para mim nem para a ministra (Tereza Cristina). Pedra no sapato por quê? Todo governo tem metas e compromissos. Eles não estavam cumprindo as metas. Nada pessoal contra eles, absolutamente nada pessoal. O cara é um general do Exército, tem uma formação inclusive intelectual. Só que o Incra é um órgão 100% técnico e, como viemos da iniciativa privada, temos que mostrar serviço. Chega de político prometer e não cumprir. É o que o presidente disse: “Sou da verdade. Prometi e vou cumprir”. A campanha do presidente teve participação significativa do setor produtivo e hoje tem um passivo muito grande na titulação de terras. A promessa de campanha é entregar no mínimo 600 mil títulos e o passivo é de 1 milhão de títulos. Já se passou praticamente um ano e não foi entregue absolutamente nada.

Ele disse que o Incra é um esgoto.
Não consigo assimilar essa revolta. O Incra é um esgoto? Então o que ele estava fazendo dentro do esgoto? Depois que foi exonerado é que vem dizer que o Incra era um esgoto? Está errado. Isso é falta de ética. Falta de respeito com os funcionários do Incra. São cidadãos, pais de família. Ser chamado de esgoto, dizer que tem organização criminosa. Onde está a organização criminosa? Já que não apresentaram provas quando estavam lá e fizeram a denúncia ao serem exonerados, então vão ter agora a oportunidade de explicar à Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União onde está isso.

O coronel Marcos dos Santos, que era diretor e foi exonerado com o general Jesus Corrêa, acusa o sr. de ingerências no órgão em favor de aliados.
Essa afirmação é leviana e não procede. Ele que prove. Aqui ninguém advoga em causa própria. Nem vou comentar. Eu nem tinha contato com ele. O que ele era no Incra? Tinha lá uma diretoria nem sei do quê. Eu não conversava com ele. Não vou entrar em polêmica. Isso é coisa de cortiço. Não vou entrar nesse bate-boca. Ele vai ter oportunidade de explicar e provavelmente (o que ele diz) será caracterizado como prevaricação. As cobranças que eu fazia eram com o general, com o presidente do Incra. Eu não tenho que discutir com diretor.

Por que eles foram demitidos?
Eles não apresentaram o que precisava ser apresentado. Imagine o que acontece com todo jogador que faz parte do time titular e não está apresentando bom desempenho. O técnico substitui. Ninguém é insubstituível. Na reforma agrária, quando se cria projeto de assentamento, você coloca a família lá e passa a ser ocupante. Ela tem o lote, mas não o título. Sem o título, você não tem nada. Não tem linha de crédito, fomento. Você não é o proprietário. Então, o cidadão precisa ter o título de propriedade. Se a titulação fosse seguir na toada que estava indo com a gestão do general, em 100 anos não ia concluir isso. As coisas precisam andar. Não pode ter burocracia. A burocracia é um inimigo.

O sr. levou essas queixas pessoalmente ao presidente?
Levei para a ministra Tereza Cristina e para o presidente. Porque na lei e no decreto de regulamentação, quem supervisiona e coordena o Incra é a Secretaria de Assuntos Fundiários. Agora, se alguém acha que porque tem patente de general está acima do que a lei determina, só tenho a lamentar. Eu tenho um nome. O que o coronel e o general disseram está tudo aqui (mostra um envelope com as acusações). Eles vão ter que prestar contas. Vão ter que dizer onde está a organização criminosa, sob pena de prevaricação, calúnia e difamação. Isso é conversa de quem não tem responsabilidade e consciência do que é ocupar um cargo público.

Quem colocou os militares lá?
O general Jesus foi uma indicação que o (ex-ministro da Secretaria de Governo) general Santos Cruz fez para mim. O general Jesus veio aqui na minha sala. Fiz uma entrevista com ele e deixei claro que o governo tinha compromissos, deixei clara a dificuldade financeira do governo, disse que tinha que ter conhecimento técnico, que onde encontrasse rastros e comprovação de corrupção, era para exercer a autoridade dele. Mas, efetivamente, onde ficasse comprovado.

Adriano Machado/Crusoé“É um status, porque é uma secretaria especial. Mas pode me chamar de Nabhan. Não estou preocupado com isso”
Quem conhece o Incra por dentro diz que ainda há forte presença do PT e influência de políticos de esquerda no órgão. É fato?
Até tem.

E por que o atual governo não consegue remover esses apadrinhados?
Não sei se é só questão de ideologia ali dentro. Há muitos ecos de pessoas que são contra a conciliação judicial na regularização fundiária. E lá dentro do Incra tinha gente contra. Vamos ver agora. A expectativa é que vai mudar aos poucos. Mas, veja, eu sou governo e não posso criticar o próprio órgão que está subordinado a mim. O que estou fazendo é dizer quais são as diretrizes.

Ter demitido quatro militares em um governo de um presidente que vem da caserna é uma demonstração de força. De onde vem a influência do sr. sobre o presidente?
O presidente foi militar há mais de 30 anos. Continua sendo um militar, claro, mas ele passou a ser um parlamentar. Esse parlamentar que chegou no Congresso em 1991 nunca esteve ausente para nós. Todas as vezes em que o setor produtivo precisou dele, ele esteve ao lado do setor, mesmo não sendo produtor rural. Ele sempre foi contra invasão de propriedade, contra expropriação injusta, contra reforma agrária equivocada. Sempre houve uma empatia do setor com ele, e a UDR nunca escondeu essa empatia. Acompanhou o presidente por todo o Brasil na campanha. Conheço ele há muito tempo, mas é óbvio que a amizade se aprofundou durante a campanha, quando ele mesmo dizia que eu era o conselheiro dele para o setor do agronegócio.

O sr. o ajudou a arrecadar recursos para a campanha?
Não. Imagina! A UDR se mobilizou para fazer uma campanha pé no chão com ele. Apoiamos ele desde o começo. Teve muitos proprietários e empresários do agronegócio que queriam apoiar (financeiramente) e ele falava que não.

Este é um governo também dos ruralistas?
O presidente Bolsonaro é um homem inteligentíssimo. Qual o setor mais relevante do país hoje? Os números não mentem. Superávit primário, balança comercial, geração de emprego? É o agronegócio. E foi o setor que primeiro abraçou Jair Bolsonaro. Claro que existe uma empatia dos dois lados. Houve diferença gritante neste governo. Praticamente acabaram as invasões. E acabou porque o governo cortou a mamata dos movimentos sociais.

O apoio será mantido em 2022?
Eu não tenho dúvida. Ele está cumprindo o que prometeu. Falava que ia acabar com as invasões, por exemplo, e elas acabaram.

Como contraprestação pelo apoio nas últimas eleições, chegam pedidos heterodoxos do setor? Como o sr. lida com eles?
Tudo que chega aqui vai para um protocolo e encaminho para análise do Incra. Pedido estranho qualquer um pode fazer, mas nunca teve. Não advogamos em causa própria.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/Crusoé“O Incra é um esgoto? Então o que ele estava fazendo dentro do esgoto? Depois que foi exonerado que vem dizer?”
O que o agronegócio ainda espera do atual mandato do presidente? Perdão ao passivo do Funrural, o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, é um dos compromissos?
O governo não pode reeditar nenhum novo Refis (programa de refinanciamento da dívida) sobre o Funrural. Canetada não pode. É ilegal. O consenso hoje é mudar isso através de projeto de lei porque ninguém pode passar por cima do que o STF já decidiu (a corte entendeu que a cobrança do Funrural é constitucional). Só existe uma instituição que pode mudar isso: o Congresso. Isso está sendo discutido.

Mas com apoio do governo.
Evidente que sim.

Há mais propostas que o agronegócio espera como retribuição ao apoio na campanha?
A questão da segurança jurídica é importantíssima.

O que isso significa?
Assegurar o direito de propriedade. Propriedade não é penico que fica invadindo a qualquer hora e fazendo sujeira. Propriedade é propriedade. Tem que ser respeitada. A ordem do presidente é essa. E eu o acompanhei na campanha e é por isso que estou aqui. Tenho uma função institucional que é supervisionar o Incra. Então, tenho que fazer com que as promessas de campanha se realizem. Não vai ter mais um presidente que faz promessa e não cumpre. O propósito é primeiro fazer a regularização fundiária e, segundo, dar garantia ao direito de propriedade. Se tem alguém que é contra a conciliação, é contra também o governo Bolsonaro.

O sr. tem críticas ao trabalho de sua chefe, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina?
Relato tudo a ela. Entre eu e ela há uma relação de respeito. Temos que compartilhar o objetivo do presidente da República. Da mesma forma que o presidente dá autonomia aos seus ministros, também aqui recebemos autonomia da ministra. Existe um respeito institucional.

O sr. quer a cadeira dela?
Algumas vezes cotaram meu nome para ser ministro. Mas quando surgiu o nome da Tereza Cristina, fiquei muito satisfeito. Ela é minha amiga de vários anos. Claro que algumas vezes temos divergências. Mas eu mesmo disse ao presidente para ele ficar tranquilo, porque meu nome, às vezes, tem sido cogitado, mas ele deve ficar à vontade porque ele precisa de alguém que tenha essa ligação com a base do setor rural. Eu tenho respeito pela ministra e ela por mim. Nunca tivemos no governo nada que fugisse a uma sintonia.

Por que o sr. se deu o título de vice-ministro?
É um status, porque é uma secretaria especial. Mas pode me chamar de Nabhan. Não estou preocupado com isso.

Como o agronegócio, um pilar relevante de apoio do atual governo, tem enxergado as disputas envolvendo o presidente, os filhos dele e o partido que o elegeu?
Não vou entrar nisso.

Qual é a maior qualidade e qual é o maior defeito, a seu ver, do atual governo?
Não vejo nenhum defeito nesse governo. Quanto tempo tentaram aprovar a Previdência? Mostrou aí que tem diálogo aberto com Senado e Câmara. Não consigo ver defeito. Eu vejo boa vontade. E, claro, dificuldade para conseguir as coisas, porque herdou uma herança maldita.

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500
  1. o ego desse cara é do tamanho do mundo, vaidade e esperteza é o que ele vende.......mas porque ele continua onde está? fofoqueiro e incompetência são desqualidades que esse trágico INCRA não necessita....botem pra fora esse cara !!

  2. Só ele não percebeu que é ele, o próprio, chefe da organização criminosa...Nem meia palavra precisaria, se bom entendedor fosse. Cínico mmo, como todos os criminosos da politica brasileira,que fazem cara de paisagem e continuam com os crimes....

  3. Q ele nao atrapalhe o trabalho da ministra tereza cristina. Ela e'uma das poucas competencias desse ministerio ridiculo. So salva ela, Moro, tarcisio e guedes. E ainda tem uma familia com problemas mentais e um guru completamente sequelado pra atrapalhar.

  4. Tenho minhas dúvidas sobre este senhor. Suas respostas não me convenceram inclusive na questão da demissão dos militares. O senhor deveria se demitir desse cargo e assim o Presidente Bolsonaro ficaria sem esse compromisso com o Agronegócio

  5. Mandaram,como é comum fazerem com os militares,limpar o esgoto.Arrumar,organizar e deixar em condições(ECD) de ser operado pelos "civis porcos".

  6. Vice-Ministro...quanta pataquada...o tipo não se enxerga...necessidade de aparecer em casa...a esposa deve dizer: "como vai, meu vice-ministro"??? E daí ele consegue levantar...

    1. Respeito aos militares é dever de todo brasileiro, e não menos importante é eliminar ativistas ideológicos de dentro de qquer empresa publica, valorizando os funcionários e técnicos, pais de familia e gente de muito valor.

  7. Como é que pode alguém sério colocar uma placa de cargo, de vice Ministro, se este cargo não existe na estrutura do ministério e não foi nomeado com este cargo no Diário Oficial, e ninguém manda ele retirar está placa? O que os funcionários do ministério pensam sobre hierarquia e disciplina?

    1. Isso é tudo o que há a criticar? Convenhamos que é muito pouco. Sua postura na entrevista mostrou coerência com os propósitos do atual governo. Isso é o que interessa.

    2. Futilidade e Mistério. Mais uma intriga para uma novela das 8 que acontece às 9.

  8. Entrevista tendenciosa, depois que este cidadão entrou no governo virou as costas para as bases do agronegócio, não tem a representatividade dos produtores como esta anunciando. Dentro do governo não abriu as portas as bases dos produtores rurais. Passou a defender o que antes combatia, uma vergonha.

  9. Sou mais o General Jesus Correa e sua equipe de militares. Esse Nabhan já armou contra o General Franklimberg na FUNAI porque queria emplacar um pessoal fora das normas e o General Franklimberg não topou a jogada ilícita. Cuidado Presidente com alguém na "amigos" da onça.

  10. Não dá pra aguentar esses indivíduos de segundo e terceiro escalões! Eles se acham! Totalmente sem noção! O cara se auto-intitula vice-qualquer coisa e fica por isso mesmo?? E o salário do cara? Entra em que categoria? Só no Brasil a função pública é a Casa da Mãe Joana!

    1. esta corja tirou o SANTOS CRUZ ( homem serio) para colocar seus cumplices ! se o Bolsonaro quisesse arrumar o pais colocava + uns 3 SANTOS CRUZ e MOROS nos ministerios !!

  11. A entrevista é ridícula, Crusoé perdeu tempo e espaço na revista. quando ele fala que o Bolsonaro e inteligentissimo quase engasguei.

  12. Entrevistado fraquíssimo. Mostra-se com pouca clareza de raciocínio e com sobras de fisiologismo e demagogia. Sem contar o velho, falso e rasteiro altruísmo.

    1. Não confio numa pessoa que se intitula num cargo que não existe. Já merece descrédito. Mas por favor Nelson, me ajude a localizar o palavreado chulo na entrevista.

  13. Nítido que ele quer poder e o lugar da ministra.Não respeita a hierarquia e passa por cima dela para chegar ate o presidente. Alguém deu esse poder a ele. Acho que o próprio presidente. A ministra que não abra teu olho...

  14. se conseguirem acabar com a "industria das invasoes de TERRA" perpetradas pela "ESQUERDALHA" já será um excelente começo mas... as DESAPROPRIAÇOES SUPERFATURADAS de TERRAS nos governos da "ESQUERDALHA" tem que acabar como também sustentar os beneficiarios das glebas e dar glebas para pessoa que sequer conhecem um pé de cebolinha !!! soube de PUTAS de profissão ganhando glebas, em GOIÁS, nos assentamenos do MST de Brazlandia !!! !!!

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