ReproduçãoHaddad entrega o texto da regulamentação da reforma tributária para Arthur Lira

Simplificar é complicado

A primeira das três partes da regulamentação da reforma tributária está descrita em 499 artigos e 360 páginas. Tudo vai ficar mais fácil, claro
26.04.24

Em um lugar muitas vezes tido como o país da piada pronta, não deveria ser surpresa que a simplificação do sistema tributário fosse complexa.

Não é sobre o fato de que o imposto único brasileiro na verdade seja três. O IVA (Imposto sobre Valor Agregado) brasileiro se divide em CBS (Contribuição sobre bens e serviços, federal), o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços, estadual e municipal) e ainda o IS (Imposto Seletivo), para alguns “casos especiais”.

Também não é sobre o fato de que esses três novos tributos substituam cinco que existiam anteriormente (PIS, Cofins e IPI, no caso do CBS, e ICMS e ISS, no caso do IBS).

A complexidade da simplificação tributária ficou evidente de verdade com o esforço para regulamentá-la.

De acordo com o Ministério da Fazenda, a confecção dos três projetos que vão desemaranhar a teia tributária nacional envolveu 309 profissionais, 330 reuniões, mais de 200 insumos técnicos e mais de 70 instituições.

No fim da tarde de quarta-feira, 24, o ministro da pasta, Fernando Haddad, entregou, com a devida pompa, circunstância e — pelo menos — dez dias de atraso, o primeiro desses três projetos.

Entrego este projeto nas mãos de uma pessoa que até agora, desde a transição até hoje, tem demonstrado uma resolutividade, uma determinação em ajudar o país a encontrar seu caminho de desenvolvimento e de justiça social”, disse Haddad, referindo-se ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que no fim do ano passado aprovou a PEC da Reforma em uma semana, para não perder suas (sugestivas) férias no cruzeiro de Wesley Safadão.

A primeira das três partes da simplificação tributária contém 499 artigos, que ocupam 360 páginas. Lira prometeu aprová-la antes do recesso parlamentar, que se inicia em 17 de julho. Mas, para simplificar (?!), pensa em dividir o trabalho em duas relatorias independentes.

A regulamentação prevê regimes especiais para, por enquanto, 18 tipos de profissionais liberais, que terão alíquota reduzida em 30%. Além disso, há isenção para os principais produtos da cesta básica e alíquota reduzida a 60% para outros tantos. Isenção também para 383 medicamentos, 17 dispositivos médicos, serviços de pesquisa e desenvolvimento.

Empresas ligadas a esportes, cultura, e educação – com exceção do Prouni, que fica isento – também terão direito a alíquota reduzida, ao passo que a alíquota de referência deve ficar em 26,5% de acordo com as estimativas da Fazenda. Mas estados e União podem mudar esse número, se acharem necessário. Simples, não é?

O pagamento dos novos tributos, porém, será ainda mais “descomplicado”. O contribuinte poderá pagar a fatura devida ao governo diretamente, ou recolher na liquidação financeira (split payment), ou ainda o adquirente pode bancar o tributo quando não for possível adotar o mecanismo anterior.

A facilidade para a transferência dos recursos para os cofres públicos ficou com apenas quatro dos 55 slides destinados à apresentação técnica do Ministério da Fazenda em coletiva de imprensa realizada na quinta-feira, 25.

Aliás, o encontro dos técnicos da pasta com os jornalistas também tranquilizou aqueles que se preocupavam com a complexidade tributária que poderia restar após a regulamentação.

Em pouco mais de oito horas (talvez a coletiva mais longa da história da humanidade) seis técnicos da Fazenda, capitaneados pelo secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, mostraram aos jornalistas como o sistema tributário ficou facinho, facinho.

A proposta da equipe econômica agora enfrentará o Parlamento brasileiro, outro ambiente profícuo quando se trata de melhorar a vida dos brasileiros. Há algumas semanas, Arthur Lira alertou que a regulamentação deve render muito mais briga no Congresso do que a PEC que instituiu o novo modelo tributário.

A julgar pelo que se viu até o momento, há uma certeza: os advogados tributaristas não correm o menor risco de perderem renda, e não é porque estão na categoria beneficiada com alíquota reduzida do IVA. Essa simplificação tão complicada vai render muito trabalho a eles.  

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  1. O dr. Fernando Haddad não parece ser má pessoa e nem um mau profissional em sua área. O problema é ter um parafuso a menos, o que permite que se meta com essa petralhaladralha ignóbil, rasgando e jogando no lixo um futuro que poderia ter sido muito brilhante. Uma pena, porque tem qualificação suficiente pra ser conceituado e respeitado e não precisar se imiscuir nesse ambiente mequetrefe de chinfrins e ignorantes irrecuperáveis de evidente condenação por configuração genética.

  2. Por falar em lides econômicas...Excelente entrevista do DR. ROBERTO CAMPOS NETO na CNN ENTREVISTAS! Deveria estar aberta a todos os BRASILEIROS. Lucidez, inteligência, show de tecnicidade, competência, experiência, clareza, transparência, objetividade, integridade, imparcialidade e sensatez. Em acréscimo e, justamente por isso, simplicidade admirável para um tal expoente em sua área.

    1. É indispensável assistir à sua brilhante, esclarecedora e profícua entrevista e, impossível não lhe hipotecar os melhores agradecimentos pela riqueza de conhecimento e de informações compartilhados.

    2. O SR.O SR. PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL tem uma visão ampla, profunda e equilíbrada da Economia no contexto nacional e no geopolítico e, paralelamente uma profunda consciência do que representa o nosso país em termos de possibilidades edificantes atuais e futuras, independentemente da multi-mediocridade política que assola a NOSSA REPÚBLICA.

  3. Podia ter deixado como estava. Nós já sabíamos pilotar a geringonça. Agora tem que pular na outra geringonça, com as duas andando. A troco do que? Redução da carga tributária? Justiça tributária? Simplificação? Bull shit.

    1. Tutto para impostearem cullo arriba dos manés.

  4. Papel aceita tudo. Com essa reforma, o governo espera manter ou aumentar as receitas, enquanto o cidadão espera reduzir tributos e descomplicar a vida. Quem viver verá

  5. A eliminação de milhares de normas será acompanhada da criação de uma quantidade semelhante de outras. O manicômio normativo vai continuar.

    1. Formei-me em Direito faz mais de 50 anos e naquele tempo algumas pessoas ligadas ao ramo diziam que eu fizesse direito tributário porque era o que tinha melhor retorno financeiro! Agora entendo bem o porquê daquelas afirmações...

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