O diplomata Mauro Vieira, chanceler do governo Lula 3O chanceler Mauro Vieira: notas oficiais que escondem o terrorismo - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O terrorismo que as esquerdas toleram

Sob o comando petista, notas oficiais do Itamaraty adotam um tom "isento" que equipara os agressores e as vítimas em ataques terroristas como o do Hamas
13.10.23

O PT, os petistas, as esquerdas em geral, possuem uma estranha atitude em face do terrorismo. Existem aqueles atos condenáveis, vindos da extrema direita, de governos de tendências contrárias às deles, e existem os atos terroristas que são pelo menos toleráveis, conforme se dirijam contra alvos “imperialistas”, podendo, assim, ser justificados como resposta de populações oprimidas contra “potências imperiais”.

Tal tipo de deformação moral revelou-se plenamente a propósito dos ataques terroristas perpetrados pelas forças do Hamas contra a população civil israelense adjacente ao território palestino da Faixa de Gaza. A despeito de o próprio presidente ter condenado, numa postagem em rede, os “ataques terroristas”, a nota oficial do governo brasileiro – que é o que conta do ponto de vista da expressão formal do governo em face de um evento de repercussão mundial – incorreu num vezo já amplamente registrado em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e ao morticínio cometido cotidianamente pelas forças comandadas por Putin.

A nota à imprensa liberada pelo Itamaraty no próprio dia dos ataques, 7 de outubro, apenas “condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza”, expressa condolências às vítimas e reitera “que não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra civis”; mas ela repete a típica atitude de isenção que tem sido registrada em relação ao caso da Ucrânia: “exorta todas as partes a exercerem máxima contenção a fim de evitar a escalada da situação”, como se as “partes” detivessem responsabilidades equivalentes na violência. As notas seguintes se referem bem mais ao repatriamento de brasileiros de Israel e de Gaza do que ao  evento em si.

A reunião de emergência convocada pelo Brasil no domingo, 8, exercendo a presidência do Conselho de Segurança, suscitou uma outra nota no dia seguinte. Nela, o governo volta a “lamentar profundamente a perda de vidas”, condena “ataques contra civis” – sem dizer quais eram – e, mais uma vez, sublinha “que as partes devem se abster da violência contra civis e cumprir suas obrigações perante o direito internacional humanitário”, como se essas “partes” estivessem agindo reciprocamente. Em nenhum momento, a nota se refere ao Hamas como autor primeiro dos atentados terroristas; jamais usa essa expressão.

Esse tipo de postura não é inédita, vindo de um governo do PT; talvez expresse realmente o que o PT pensa, como partido, a respeito de atos terroristas visando alvos civis. Pode-se remontar aos ataques terroristas de setembro de 2001, contra as torres gêmeas de Nova York e o Pentágono em Washington (que fizeram mais de três mil vítimas inocentes), para retirar exemplos lamentáveis dessa distinção feita a respeito de atos terroristas toleráveis e justificáveis, segundo a ideologia do perpetrador. Tendo assistido de perto, se ouso dizer, ao segundo ataque – ao residir em Alexandria, na Virgínia, muito próximo ao Pentágono –, recolhi, estarrecido, nos dias seguintes, declarações inaceitáveis de militantes partidários e até de líderes do PT, tal como publicadas pela imprensa brasileira. Transcrevo aqui algumas das pérolas registradas naquela ocasião.

A imprensa recolheu declarações do deputado estadual Roque Grazziotin (PT-RS), segundo as quais o parlamentar considerava o atentado a “consequência do processo de dominação” norte-americana no mundo (Estadão, 12/09/2001). Outro deputado do PT gaúcho, Edson Portilho, disse que, “por coerência”, lamentava que “milhares de vidas tenham sido ceifadas” nos Estados Unidos, mas comparou o atentado a outros episódios em que o governo norte-americano foi responsável: “São as mesmas cenas [sic] que o mundo repudiou no Vietnã e no Oriente Médio e que foram patrocinadas pelos Estados Unidos”. Por sua vez, a então deputada estadual (depois federal) Luciana Genro disse que “essa tragédia é de responsabilidade do governo norte-americano, porque os Estados Unidos promovem o terrorismo de Estado no mundo inteiro” (Estadão, 12/09/2001).

Estas são “explicações” que tentam racionalizar ou mesmo justificar os atos terroristas, colocando a responsabilidade principal sobre os ombros da potência imperial. Existe também outro tipo de racionalização desse tipo de atentado – quando cometido contra um alvo “imperialista”, entenda-se – que tenta minimizar os bárbaros fatos que ceifam vidas inocentes em nome de não se sabe bem qual causa política. Assim, por exemplo, o deputado (depois senador e ministro) Aloízio Mercadante (PT-SP), então secretário de Relações Internacionais do partido, minimizou a importância dos atentados. Para ele, não se deveria “exagerar na dimensão do episódio. Qualquer terremoto ou furacão na Flórida faz mais vítimas e provoca estragos muito maiores” (Jornal da Tarde, 18/09/2001). Esse tipo de afirmação é no mínimo insensível e, em última instância, revela um certo desprezo pela perda de vidas humanas, quando resultando de algum tipo de “enfrentamento político” que possa colocar num dos lados da balança o tradicional “opressor imperialista”.

O que expressar, em face desse tipo de manifestação “política” que revela certo anti-imperialismo primário, que se desdobra em antiamericanismo visceral, capaz de embotar determinadas mentes, que aparentemente não se dão conta de que estão coonestando os mais bárbaros atentados aos direitos humanos (no plano individual) ou aos direitos civis de grupos humanos (quando organizados contra países e sociedades), ao mesmo tempo em que aqueles que assim procedem conseguem ser condescendentes com forças reacionárias ou intolerantes no plano da civilização humana, desde o Iluminismo pelo menos? Alguém pensou em Putin?

Cada um tem o terrorista que merece? Apenas uma questão semântica?

O que esse tipo de atitude de políticos brasileiros, e das esquerdas em geral, revela é o estranho acolhimento reservado a certos tipos de terrorismo. Tal postura já estava amplamente demonstrada no caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, estranhamente ausente de qualquer nota do Itamaraty, quando o órgão submisso se esmera em emitir notas de solidariedade por qualquer acidente natural ou desastre humano ocorrido em qualquer canto do planeta. Ela acaba de ser escancarada no caso dos bárbaros assassinatos perpetrados contra inocentes civis, entre eles mulheres, crianças e até bebês. Uma nota específica chega a ser propriamente ridícula, ao falar do “falecimento” de um brasileiro, “vítima dos atentados” ocorridos no dia 7 de outubro. Assim, genericamente, sem qualquer autor. Em nenhum momento as notas se referem ao terrorismo, termo inexistente em qualquer uma delas, como referido pelo jornalista Duda Teixeira em matéria sobre essa estranha dicotomia.

Nessa mesma linha, chega a ser patética, senão abjeta, a postura do MST, que exaltou a “brava resistência” palestina em Gaza após os atentados terroristas. Como vimos pelos exemplos acima, não deveria haver nenhuma surpresa nesse tipo de reação. Os governos do PT, aliás, objetaram a adotar uma legislação consistente contra o terrorismo exatamente em função desses pruridos. Tampouco deveria haver qualquer tipo de ingenuidade, como a demonstrada no mesmo dia pelo embaixador de Israel em Brasília: segundo entrevista conduzida por Eliane Oliveira, “Daniel Zonshine, afirmou esperar que o Brasil, como presidente do Conselho de Segurança da ONU, lidere uma dura condenação internacional contra o Hamas” (O Globo, 10/10/2023). Como essa “ousadia” não tem qualquer chance de ocorrer, é possível que algum outro diplomata israelense volte a chamar o Brasil de “anão diplomático”.  Seria a consequência lógica de se ter uma definição à la carte do terrorismo, na qual a caracterização depende do autor preferido e da vítima designada.

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  1. COMUNISTAS FDP, VÃO EMBORA PARA CUBA, RUSSIA, NICARAGUA, IRÃ E OUTRAS PRAGAS DE DITADURA. FORA COMUNISTAS. (MINHA OPINIÃO NA FORMA DA CARTA MAGNA.

  2. O que esperar dessa PTralhada asquerosa, me diz? Esse partido representa o que há de mais nojento na política. NUNCA vão ter o meu voto.

    1. No que pôde, auxiliou o carniceiro do Kremlim. Augusto de Franco tem explicado bem a questão.

  3. Bons exemplos de posicionamento que resulta na nossa política externa imprestável e justifica a denominação de 'anão diplomático ' atribuída ao Brasil, principalmente sob o governo petista

  4. Esperar o que da esquerda, racionalidade? Eles, esquerdistas, já nasceram com ideias preconcebidas e estáticas. Qualquer tentativa de "diálogo" com essas tendências é murro em ponta de faca quase literalmente.

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