Berço com manchas de sangue no kibutz de Kfar AzaBerço com manchas de sangue no kibutz de Kfar Aza - Foto: Reprodução

A Terrível Possibilidade de que os Comunistas não Sejam Boas Pessoas

Quem diria, os que estavam me censurando por ter sentimentos de Monstro Reacionário tinham sentimentos ainda piores do que os meus
13.10.23

Ultimamente tem surgido na minha cabeça um pensamento insistente. Sempre que leio os jornais, ou leio a timeline, ou vejo a tevê, esse pensamento surge. E já aviso que talvez não faça sentido. Talvez seja loucura. Mas é o pensamento de que os comunistas não são pessoas muito boas.

A princípio é difícil acreditar. Eu e você temos pena dos pobres, de vez em quando. Mas parece que os esquerdistas, e os comunistas ainda mais, têm muito mais pena. Têm pena continuamente, acordam com pena e vão dormir com pena, e é uma pena tão intensa e tão obsessiva que muda toda a identidade deles. Nossa pena não faz nada além de nos forçar a dar esmola de vez em quando (eu nem isso), mas a deles faz com que eles queiram reorganizar o mundo inteiro. Logo, são pessoas melhores que nós. Como essa conclusão pode estar errada?

Bom, esse é o problema. Ultimamente vem me surgindo a suspeita de que eles não têm assim tanto mais pena dos pobres do que eu. É um pensamento que, quando surge, é difícil impedir que reverbere e mude a minha opinião sobre tudo.

Por comunistas quero dizer não necessariamente pessoas que se dizem comunistas, que são muito poucas, mas as pessoas que, você sabe, admiram Che Guevara, e de vez em quando soltam um “Jesus Cristo era o verdadeiro comunista”. Não são comunistas nominais, por falta de capacidade de tomar decisões na vida, mas, ora bolas, a decisão os tomou a eles e eles nem perceberam.

Minha suspeita é que a pena de pobre que eles sentem — ou de gays, ou de transexuais, ou de negros, ou de palestinos, ou seja lá quem for que essa semana eles têm muito mais pena que todo mundo — é na melhor das hipóteses parecida com a nossa, isto é, aparece de vez em quando, sob o impacto de algum caso individual e específico de injustiça.

O fato é que antes desta semana eu tinha mesmo a presunção não inteiramente consciente de que essa gente era melhor do que eu. Porque a minha pena de pobre é bem esmaecida. De todas essas categorias aí, um pouco menos palestinos, tenho alguma pena, dependendo do caso, mas é uma pena bastante débil e não me leva a mover um dedo. Mas os comunistas, e os esquerdistas até, movem vários dedos! Movem membros inteiros! Deviam, portanto, ser pessoas muito melhores do que nós, direitistas.

De onde vem essa convicção generalizada de que somos monstros, nós de direita, a ponto de eu mesmo internalizar isso? Vou mencionar um motivo, mas existem outros que a falta de espaço (ou preguiça) me impede de mencionar.

Existe um erro que os liberais (em economia, suponho que sou um) cometem sempre, que é não deixar claro que a liberdade econômica é boa para os pobres. O erro é não repetir isso até ser o que as pessoas mais pensam assim que ouvem falar em liberais. Mas as pessoas não sabem nem que os liberais acreditam nisso. Na cabeça das pessoas, os liberais são gangues de queimadores de mendigo. Uma pessoa boazinha, quando sente um impulso de sentir pena de pobre, em nenhum momento se pergunta como resolver isso porque ela imagina que a resposta já está estabelecida. Ela pula da pena que sente para o que imagina que seja a única solução, que são políticas de esquerda.

Por que eles imaginam que essa é a única solução? Porque a esquerda é a única que toca a nota sentimental. Eles são os únicos que se dão ao trabalho de fingir que têm sentimentos humanos, ao passo que os liberais seguem sempre a linha racional, seca e autística de nerds de planilha.

“Veja bem, se você ler o meu paper com atenção, vai ver que deixo claro que essa política beneficia os mais pobres”. Não, não, sejam mais sentimentais, nerds. Rasguem as vestes. Chorem até formarem pontes de saliva nos seus aparelhos dentais. Parem um pouco de ter medo de parecerem demagogos e kitsch. Sejam um pouco demagogos e kitsch.

Mas enfim. Já levei sermões de uns conhecidos meus, comunistas filiados ao partido. Nem lembro o motivo. Por fazer piada com o George Floyd? O fato é que, internamente, aceitei a bronca. Eu não tinha suficiente dó pelo George Floyd (bem pouca), nem suficiente reverência pela causa (nenhuma). Os esquerdistas eram melhores que eu. Não digo que eu pensasse assim conscientemente, mas por dentro enxerguei as coisas assim.

Os comunistas, pelo menos os comunistas brasileiros que conheço, se apoiam muitas barbaridades no passado (quase sempre só barbaridades) é por ignorância, por não pensarem direito, por não terem muita consciência do que estão falando. Mas são motivados por sentimentos bons que eles têm em maior quantidade e maior intensidade do que eu.

Assim pensava eu — sentia eu, não pensava — até esta semana. Que imbecil! Eu era um santo! Todo esse tempo, eu era um santo!

Quem diria, não é a pena que move as Jandiras Feghalis, os Lulas e os Brenos Altmans. Nem é a pena que move os perfis de esquerda que se afastaram de mim uns anos atrás pelo excesso de insensibilidade moral da minha parte.

Não! As pessoas que estavam me censurando por ter sentimentos de Monstro Reacionário tinham sentimentos ainda piores do que os meus. Muito piores, tendo em vista o caráter dos acontecimentos desta semana.

Então, por horrível que seja, a esquerda esta semana fez com que eu me sentisse bastante bem a respeito de mim mesmo. Que sujeito formidável e pimpão que eu sou, simplesmente por não ser de esquerda.

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  1. Socialismo (petê, psol, pcdob etc) = eixo do mal. Em cada votação deles nas camaras municipais, no congresso, eles provam essa verdade... Nem falo aqui do apoio aos terroristas de todos os naipes e épocas...

  2. Afirmo isso há muitos anos. Quando um esquerdista brasileiro afirma ou apóia uma canalhice ou atrocidade, não acho estranho nem me surpreendo. Um esquerdista brasileiro afirmar ou apoiar canalhices e atrocidades, é apenas uma questão de coerência. É apenas o esquerdista brasileiro sendo um esquerdista brasileiro.

  3. Eu classificaria esse texto de “Motivacional”. Com “M” maiúsculo. Minha autoestima melhorou horrores!

  4. VOCÊ TINHA DÚVIDA DA MOSTRUOSIDADE DOS COMUNISTAS? ENTÃO LEMBRE DO KMER VERMELHO, STALIN, CHI (CHINA), O GORDINHO DA CORÉIA DO NORTE,... SÃO TANTOS QUE NÃO CABERIAM NOS MEUS COMENTÁRIOS.

  5. Os esquerdop@tas tapanacara que são os “comuna woke brasirêro” só movem uma parte do corpo para ajudar os pobi: a boca. Por isso acho que os esquerdop@tas da tribo tapanacara têm pena, muito pena mesmo, têm tanta pena que viraram umas galinhas, só sabem gritar. Secessão JÁ!!

  6. Parabéns pelo seu artigo. Você mostrou exatamente o que sinto. Faltava alguém colocar no papel. Aliás hoje já me sinto melhor por ser branca e descendente de europeus. Uma raça que está sendo condenada. Graças aos PaTetas eu me sinto excluída. Em breve eles sentirão pena de mim.

  7. Eu, apenas, acho estranho, o autor do texto não saber, exatamente, o que ele é, a partir de seus sentimentos e precisar dar atenção ao que falam dele, como componente da direita, engolindo as caracterizações proferidas por estes Che Guevaras de apto. E, na mesma linha, destituir-se de más categorizações recebidas, apenas ao observar o engodo que estas figuras de esquerda representam.

  8. O discurso é a narrativa são muito fortes! Me preocupa os jovens estudantes, universitários que são analfabetos funcionais não aprenderam interpretar textos, não sabem distinguir o que está por trás do discurso da esquerda.

  9. Assim como o Hamas desapareceria se a paz se instalasse entre os palestinos e Israel, a esquerda precisa da discórdia, da desigualdade e da violência para sobreviver.

  10. A esquerda nunca foi boa. Moralismo, preconceitos, rancores, ódio, cancelamentos sumários, pré-julgamentos, instigação do " nós contra eles" etc, onde está o bem nisso tudo? Ah, é o ódio santo...

  11. A obsessão pela leitura dos acontecimentos do mundo sob a ótica do oprimido vs opressor, ignorando qualquer avaliação moral ou, a subjacente (e nesse caso óbvia) bem vs mal prova a patologia ética do "progressista" radical

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