Vídeo: a conversa em que espiões registraram confidências sobre negócio da Vale com magnata corrupto

31.01.21 08:36

Estou propondo de nariz tapado porque eu sinto cheiro de algo errado.”

Assim o ex-executivo da Vale José Carlos Martins se referiu a um negócio bilionário do qual participou na Guiné, envolvendo a gigante brasileira do setor de mineração e o empresário israelense Beny Steinmetz.

A declaração de Martins foi gravada em uma conversa com agentes da Black Cube, agência de espionagem que conta com ex-integrantes do Mossad, o serviço secreto de Israel. Os vídeos passaram a ser usados pelo bilionário para convencer a Justiça de que a Vale sabia dos riscos de se envolver naquele negócio — os dois lados travam uma intrincada batalha nos tribunais desde o instante em que a parceria entre eles, envolvendo uma mina no país africana pensada como um negócio que seria lucrativo para ambos, virou pó.

Steinmetz foi condenado recentemente a cinco anos de prisão por corrupção na Justiça da Suíça. A sentença conclui que ele pagou propinas à ex-mulher do falecido ditador da Guiné Lansana Conté em troca da concessão dos direitos de exploração das minas de Simandou.

Em 2008, a Vale comprou de Steinmetz, por 2,5 bilhões de dólares, 51% de sua participação no campo de minério. A morte de Lansana Conté e o avanço sobre as investigações a respeito da propina fizeram o negócio naufragar. Recentemente, o ex-juiz Sergio Moro foi contratado pela defesa de Steinmetz e elaborou um parecer jurídico favorável ao israelense no processo de arbitragem.

Sob o argumento de que não tinha conhecimento dos esquemas de corrupção, a Vale processou Steinmetz em uma corte arbitral britânica. A corte condenou o magnata dos diamantes israelense a indenizar a mineradora brasileira em 2 bilhões de dólares. Para tentar se livrar dessa multa, Steinmetz contratou a Black Cube, que foi a campo em busca de provas que pudessem auxiliar o magnata em seus argumentos.

Crusoé teve acesso a uma parte dos vídeos gravados por agentes da empresa de espionagem que se passaram por empresários e abordaram executivos da Vale que participaram do negócio.

Nos diálogos, os representantes da companhia acabaram admitindo que, apesar de não terem provas materiais, tinham a impressão de que Steinmetz não conseguiu a concessão do ditador apenas em razão de “seus olhos azuis”.

Assista, a seguir, aos principais trechos das gravações.

A guerra aberta a partir da ruína do negócio entre a Vale e Steinmetz foi esmiuçada por Crusoé em reportagem publicada em junho do ano passado.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO