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Rompidos com Bolsonaro: de ministros a inimigos

04.12.21 14:09

Desde a campanha de 2018, Jair Bolsonaro enuncia à exaustão uma passagem bíblica do Novo Testamento. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará, repete o presidente, sempre que confrontado com denúncias, informações incômodas à família ou até mesmo questionamentos a políticas equivocadas do governo. Mas, de tão característico ao discurso do presidente, o versículo agora passou a ser usado por ex-integrantes do alto escalão para criticá-lo.

Abraham Weintraub foi um deles. De perfil radical e discurso ideológico, o ex-ministro da Educação saiu do governo em junho de 2019, quando Bolsonaro buscava uma trégua com o Supremo Tribunal Federal. O presidente não o deixou na chuva e lhe garantiu uma cadeira no Banco Mundial. Com tom de “perseguido político”, Weintraub arrumou as malas e partiu rumo a Washington, nos Estados Unidos, mas levou na bagagem um sonho que ainda nutre: o de concorrer ao governo de São Paulo.  

Desde que pousou na cidade americana, Weintraub acreditava que, com o apoio de Bolsonaro, poderia ser eleito. O presidente, no entanto, prefere apostar em outros nomes. Hoje, o seu candidato do coração ao governo de São Paulo é o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

Weintraub não se conforma e, nas últimas semanas, transformou suas redes sociais num poço de mágoas.Nunca fui o protegido ou o queridinho. Na escola e no trabalho, sempre fui o ‘feio’ que no final vence. Nunca tive medo de enfrentar times maiores. Entrei nessa trilha pública em abril de 2017, quando poucos acreditavam na vitória. Tenham fé. Eu voltarei ao Brasil/SP”, disparou.

O ex-ministro da Educação não é o único a demonstrar ressentimento. No mês passado, o ex-chanceler Ernesto Araújo, sacrificado em meio ao acirramento dos ânimos entre Planalto e Congresso, mirou no presidente. Em um evento conservador, disse que Bolsonaro ”virou a base do Centrão” e que ele ”nunca quis enfrentar o sistema”.

Na lista dos rompidos com Bolsonaro há também nomes de perfis mais técnicos que bateram de frente com o presidente, antes mesmo de desembarcarem do primeiro escalão. Luiz Henrique Mandetta foi demitido após um mês de discordâncias com o Planalto sobre a condução da pandemia. O ex-deputado e Bolsonaro não falavam a mesma língua sobre uso de máscaras, isolamento social e prescrição de remédios sem comprovação científica contra a Covid, por exemplo.

Poucos depois, foi a vez de Sergio Moro romper com Bolsonaro. Ao deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz desencadeou uma das principais crises da atual gestão, ao fazer denúncias sobre a suposta interferência do presidente na Polícia Federal, a fim de obter informações privilegiadas e proteger familiares. O caso é investigado no âmbito de um inquérito do Supremo Tribunal Federal.

De todos os ex-aliados do Planalto, Moro é o que mais incomoda o clã Bolsonaro — muito provavelmente pelas chances de tirar o presidente do segundo turno na disputa de 2022. 

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