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O cálculo político de Netanyahu com a anexação do vale do Jordão

29.06.20 08:39

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (foto), prometeu anexar áreas do vale do rio Jordão a partir do dia 1º de julho. O anúncio gerou críticas em vários países árabes e europeus e há temores de que a medida provoque protestos na Cisjordânia, governada pela Autoridade Palestina.

Netanyahu, contudo, move-se principalmente por cálculos políticos internos. Um dos motivos para ele anunciar a anexação vem da necessidade de se firmar como o líder da direita. Após três eleições desde o ano passado, o bloco de direita de Netanyahu rachou, e ele foi obrigado a fazer um governo de coalizão com Benny Gantz, que está do mesmo lado do espectro político. Pelo acordo, cada um deles permanecerá dezoito meses no poder.

Ainda que a notícia da anexação agrade aos eleitores de Netanyahu e cause um forte impacto em todo o mundo, a mudança na prática não será tão grande. Israel já domina a região, pois tem o monopólio da força. “Netanyahu precisa manter sua liderança na direita, mas também não quer desafiar o status quo. Até agora, sua política com os palestinos tem sido moderada: ele não quer iniciar operações militares nem avançar nas negociações de paz”, diz a cientista política Liron Lavi, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Outro fator que pode estar influenciando as atitudes de Netanyahu é a investigação sobre casos de corrupção. Ele é acusado de receber presentes caros de empresários e de conceder favores para ganhar uma cobertura favorável na imprensa. Qualquer movimento geopolítico que desvie a atenção do público pode beneficiá-lo.

A anexação, contudo, poderá trazer desafios para Netanyahu ou para o próximo primeiro-ministro, Benny Gantz. Pela lei de Israel, as áreas incorporadas passariam a ser consideradas como território nacional. E nelas vivem milhares de palestinos. “Eles deveriam receber a cidadania de Israel. Apesar de muitos deles tenderem a rejeitar essa opção, essa seria uma obrigação moral de Israel”, diz o cientista político André Lajst, da ONG StandWithUs, em São Paulo.

Se forem admitidos como cidadãos do país, esses palestinos se juntariam aos cerca de 20% da população de Israel que é árabe-israelense. Não seria algo novo na história de Israel. Quando as Colinas de Golã, ao norte, foram anexadas, em 1981, os drusos que viviam nessa região montanhosa ganharam cidadania, assim como os palestinos que moravam em Jerusalém Oriental.

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