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Novo chanceler escolhe ‘medalhão’ como seu braço direito no Itamaraty

31.03.21 15:10

O embaixador Fernando Simas Magalhães (foto), de 63 anos, será o secretário-geral das Relações Exteriores do ministro Carlos Alberto França, nomeado por Jair Bolsonaro para substituir Ernesto Araújo no comando do Itamaraty.

O escolhido para ser o número dois da diplomacia é considerado por colegas como um dos “medalhões” da carreira diplomática, em razão de sua larga experiência. Ele ingressou nos quadros do Itamaraty em 1980 e, assim como o novo chanceler de Bolsonaro, é tido como um diplomata fiel às tradições da casa de Rio Branco.

“Ele vai adotar a mesma estratégia do Patriota, outro chanceler jovem, que escolheu um secretário-geral mais experiente”, comenta um embaixador, ouvido sob reserva, referindo-se ao ex-ministro Antonio Patriota, primeiro chanceler do governo Dilma. Patriota teve o embaixador Ruy Nogueira como seu braço direito. O cargo é considerado o mais elevado da carreira diplomática, uma vez que o comando da chancelaria é uma escolha política do presidente da República.

Desde 2018, por indicação de Michel Temer, Simas representa o Brasil perante a Organização dos Estados Americanos, a OEA, um dos órgãos sobre os quais os governos Temer e Bolsonaro mais dedicaram esforços nos últimos anos, principalmente após o agravamento da crise na Venezuela.

No governo do emedebista, Simas também chefiou a divisão do Itamaraty que tratava de organismos multilaterais, posição de destaque na chancelaria comandada por Aloysio Nunes Ferreira.

Em 2010, o diplomata foi escolhido por Dilma Rousseff para chefiar a embaixada do Brasil em Quito, no Equador, em um momento considerado conturbado para as relações entre os dois países – o governo equatoriano, dois anos antes, havia denunciado uma dívida contraída junto ao BNDES para a construção de uma usina hidrelétrica pela Odebrecht, acusando a construtora de corrupção.

Magalhães permaneceu até 2015 no cargo, apontado como um dos responsáveis pela normalização das relações entre os governos do PT e do bolivariano Rafael Correa, condenado por corrupção em 2020, sob acusação de receber propinas de diversas empresas, inclusive da própria Odebrecht.

Ao deixar o posto, o embaixador entregou ao Senado um relatório com referências elogiosas ao governo de Correa. “Além da estabilidade política observada desde 2007, o regime logrou reconstruir o Estado, melhorar a infraestrutura e os serviços públicos, expandir o investimento em áreas sociais, com resultados expressivos na redução da pobreza e na ampliação do acesso à educação, e gerir de modo eficiente e pragmático a economia, beneficiando-se, até fins de 2014, dos altos preços do petróleo”, observou, à época.

O documento também defende mecanismos de controle dos meios de comunicação adotados por Correa a partir da Lei de Comunicações, em 2013, questionada por organizações como a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Sociedade Interamericana de Imprensa. Magalhães diz que parte das críticas ao modelo foram disparadas pela “coabitação parasitária entre os cartéis econômicos, a grande imprensa, os meios políticos e as grandes fortunas familiares”, que, segundo ele, perderam o poder de “interferência no espaço público”.

Em 2018, quando sabatinado pelo Senado para chefiar a missão do Brasil na OEA, Magalhães também teceu comentários sobre o governo de Donald Trump. “A administração Trump está nos trazendo algumas surpresas, digamos assim, dentro do que se poderia esperar de uma administração vinda com origem no Partido Republicano dos Estados Unidos. Tem sido um desafio para todos nós na administração do dia a dia das relações”, disse.

Cobrado por senadores sobre uma posição na OEA com relação à construção do muro entre Estados Unidos e México, o embaixador notou, à época, que a organização adotou posições críticas à empreitada de Trump. “No âmbito do Conselho Permanente, embora não tenha havido um exame propriamente dito do tema da construção do muro, nós temos sempre nos referido à importância de que não se criem barreiras artificiais que sejam indicativas de uma atitude ou discriminatória, ou de xenofobia, ou, simplesmente, preconceituosa”, afirmou.

Além dos cargos em Quito e na OEA, Magalhães serviu nas embaixadas do Brasil na Espanha, nos Estados Unidos e na antiga União Soviética, além de ter atuado na missão brasileira junto à ONU, em Nova York.

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