Rafael Wallace/Alerj

Esquema de ‘rachid’ pagou aluguel, prestação de imóvel e escola dos filhos de ex-líder de Witzel

07.07.20 12:03

Primeiro denunciado no ‘rachid’ da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o deputado Márcio Pacheco (a direita na foto), do PSC, teve boletos de aluguel, parcelas de um imóvel, mensalidades escolares de seus filhos e o seguro de um carro pagos com dinheiro desviado por meio do esquema.

No total, o Ministério Público calcula que Pacheco tenha desviado cerca de 1 milhão de reais por meio da nomeação de funcionários fantasmas e arrecadação de parte dos salários dos servidores de seu gabinete.

Pacheco começou a ser investigado por causa do relatório do Conselho de Controle de Atividade Financeira, o Coaf, que mapeou transações suspeitas de funcionários da Alerj. O mesmo documento deu origem à investigação que envolve o senador Flávio Bolsonaro e seu ex-motorista Fabrício de Queiroz.

Assim como no caso do filho do presidente, além da parcela do imóvel e dos aluguéis, o MP descobriu que o “Queiroz de Pacheco”, o assessor André Santolia, pagou mensalidades escolares de dois filhos do ex-líder de Witzel na Alerj.

“O denunciado Márcio Pacheco é o autor intelectual de todo o plano criminoso e destinatário último dos valores desviados das remunerações dos assessores que eram nomeados, a seu pedido, para integrarem seu gabinete”, diz o MP. Seu chefe de gabinete, André Santolia atuava como “testa de ferro” para dissimular os repasses de dinheiro desviado.

Segundo o MP, outros 10 assessores nomeados por Pacheco, além de reter parte de seus salários, não prestavam os serviços para os quais foram contratados – mesma prática alvo de investigação no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro.

As quebras de sigilo, diz a denúncia, mostraram que esses assessores realizaram, entre 2016 e 2018, “de forma sistemática” transferência para o então chefe de gabinete de Pacheco. “Chamou a atenção o fato de que as transferências mensais representavam percentuais elevadíssimos das remunerações dos assessores parlamentares”, diz o MP.

Em alguns casos, os repasses dos assessores chegaram a a superar até o valor do salário, mas em média as transferências alcançavam 70% dos vencimentos pagos pela Alerj. “Não se mostra crível que os assessores ora denunciados trabalhassem por simples espírito público”, diz a denúncia.

A assessora Roberta Lidiane, em 2016, repassou 89% de todo o salário recebido da Alerj para Santolia – no total, ela depositou 178 mil reais nas contas do chefe de gabinete do ex-líder de Witzel.  Também denunciado, o ex-assessor Marcello Campos, por sua vez, além de transferir cerca de 82% de seus vencimentos para Santolia, à época, estava registrado como funcionário de uma empresa privada do setor de saúde. Para o MP, essa “circunstância praticamente inviabiliza” a possibilidade de acumulação de funções.

Há na denúncia ao menos uma assessora que confirmou não ter trabalhado formalmente no gabinete de Pacheco. Em depoimento ao MP, Angela Cristina LIma disse que nunca trabalhou como assessora parlamentar e que “sequer sabia o valor do seu salário”. Segundo ela, seu companheiro Antônio Sérgio, participou da campanha eleitoral em que Pacheco disputou a reeleição e viabilizou sua nomeação “mesmo sabendo de antemão que nenhum dos dois jamais exerceria qualquer atividade de assessoramento parlamentar.” Eles repassaram cerca de 50 mil reais para Pacheco.

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