Depois da ‘quarenterna’, argentinos se aglomeram para velar Maradona

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, declarou em julho, em um encontro virtual com o ex-presidente Lula que sabia do “valor da vida”. No dilema entre dar importância para a economia ou salvar a vida dos argentinos na pandemia de Covid, ele optou pelo segundo. “Tenho a tranquilidade de dizer que o dinheiro foi revertido em salvar a saúde dos argentinos. E vamos recuperar (a economia) amanhã. As vidas, nós não poderíamos recuperar.”

Com Fernández, a Argentina foi um dos países mais rígidos na adoção de medidas de restrição de circulação. A quarentena até ganhou o apelido de “quarenterna”, por ser uma das mais longas do mundo. Apesar disso, o número de mortes registradas em 24 horas chegou a 283 nesta quarta. Considerando a população total da Argentina, de 45 milhões, isso equivaleria a 1.300 mortes diárias no Brasil, índice que o país só alcançou no pico da pandemia.

A morte de Diego Maradona nesta quarta, 25, fez as autoridades argentinas ignorarem a gravidade da doença. Fernández decretou luto de três dias e montou um esquema na Casa Rosada, a sede do Executivo, para velar o corpo. Cerca de 1 milhão de fãs são esperados. Desde a madrugada desta quinta, milhares de argentinos se aglomeravam na fila (foto). Ao passar pelo caixão do jogador, muitos faziam o sinal da cruz e levavam bandeiras do país. “Considerando que a Argentina está em uma fase exponencial de crescimento da pandemia, é altamente irresponsável e demagógico permitir um velório como esse”, diz o médico Fabio Jung, ex-pesquisador do Centro MD Anderson em Houston, no Texas.