Divulgação/MEC

A deputada bolsonarista, MEC diz que escola tem ‘autonomia’ para discutir questões de gênero

30.08.20 14:23

Desde a campanha presidencial, Jair Bolsonaro insiste na defesa da proibição da discussão sobre gênero nas escolas. Seus apoiadores não adotam comportamento diferente. Contrária ao debate sobre o tema no ambiente educacional, a deputada bolsonarista Chris Tonietto (foto), do PSL do Rio de Janeiro, foi além. Questionou o Ministério da Educação sobre um “webinário” realizado pelo Colégio Pedro II, uma das instituições federais de ensino no Rio, que teve a participação apenas de professores, graduandos e pós-graduandos. Na rodada de discussões online, foram abordados temas como gênero e sexualidade.

No ofício enviado à pasta comandada pelo pastor Milton Ribeiro, a deputada perguntou o que o MEC poderia fazer em relação àquela videoconferência. Quis saber ainda se o fórum era lícito e se os recursos públicos poderiam ser usados desta forma. Em resposta assinada pelo secretário de Educação Profissional e Tecnológica, Ariosto Culau, e despachada por Ribeiro, o ministério não se limitou a falar apenas sobre o caso específico da instituição de ensino federal, que atende alunos da educação infantil à pós-graduação.

Em dissonância com núcleo bolsonarista, a pasta afirmou que, conforme a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as redes de ensino têm autonomia administrativa, patrimonial, financeira e didática. Por isso, disse o MEC, o colégio seria competente para “adotar instrumentos próprios de formação pedagógica de seus quadros”.

O ministério acrescentou que, embora a discussão de gênero provoque “polêmicas” no campo social e educacional, “não há que se falar em ilicitude”  quando são promovidas ações “amparadas pela autonomia didático-pedagógica das instituições de ensino”. A pasta deixou claro que poderia adotar providências contra o Colégio Pedro II apenas se houvesse atuação irregular do dirigente da escola, uso irregular de recursos públicos ou desrespeito aos “objetivos de atuação” da unidade.

O webinário do colégio foi conduzido pelo Elos — Núcleo de Estudos e Ações em Gênero e Sexualidade —, que, desde 2015, busca desenvolver uma abordagem teórica para embasar ações pedagógicas e adotar políticas de gênero na instituição. Ao MEC, a unidade argumentou que “diversidades e desigualdades são temas transversais fundamentais à educação, que ressaltam os princípios norteadores do respeito à liberdade e apreço à tolerância”.

O próprio presidente Jair Bolsonaro já mirou a política de gênero do Colégio Pedro II. No início deste ano, na mesma entrevista em que declarou que “livro didático tem muita coisa escrita” e que “tem que suavizar aquilo”, ele disse que os governos de esquerda acabaram com a escola federal do Rio, uma das mais tradicionais do país: “Chegou ao cúmulo de acabar com uma escola como o Colégio Pedro II, no Rio. Acabaram com o Pedro II. Menino de saia, MST lá dentro. E outras coisas mais que não quero falar aqui”.

A proibição do ensino da chamada “ideologia de gênero” nas escolas é tema caro para a base bolsonarista. Em maio, após o Supremo Tribunal Federal declarar inconstitucional uma lei municipal do Novo Gama, em Goiás, que vetava a discussão de gênero nas unidades de ensino, Bolsonaro chegou a garantir, com uma criança no colo, que enviaria ao Congresso um texto nos mesmos moldes para fazer a regra valer em todo o país. 

O texto, contudo, ainda não chegou ao plenário — e não há sinais de que vá chegar tão cedo. Crusoé questionou a Secretaria-Geral da Presidência sobre o assunto. A reportagem perguntou se o projeto havia sido finalizado e quando o governo pretendia enviá-lo ao Congresso. A pasta limitou-se a dizer que “ainda não há previsão”. 

 

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  1. Só sei que desde que começaram a se preocupar com esses temas e deixaram de se preocupar com a qualidade do ensino das matérias tradicionais o ensino público brasileiro só desce ladeira abaixo à passos largos!!!

  2. É preciso por fim a isso. É SÓ nas Instituições de ensino PÚBLICAS que esses problemas se verificam? Tomemos o caso extremo de uma instituicao de ensino particular. Se os pais DISCORDAREM deste procedimento (a saber, discussão de gênero), que fará a Escola? Orientará seus docentes neste sentido ou irá aplicará o princípio de ensinar tudo as crianças?O dono de escola particular quer manter seus clientes. Os professores discordam? Paciência. Despedem os camaradas e contratam outros que concordam

  3. Muito importante o preparo dos professores quanto às questões de gênero e diversidade. Respeito e tolerância tb se aprende na escola para uma sociedade mais harmônica e menos violenta. O colégio Pedro II está de parabéns, não por acaso tem um ensino de excelência.

    1. Perfeito Ofélia. É preciso discutir tudo. Este é o objetivo do sistema educacional. Se não discutir, vira medíocre e dogmático bozolulista!

  4. Que mentalidade medieval, gente.... querer "discutir sobre a possibilidade de discutir" sobre "quais os seres humanos são "biológicamente" dignos de legalidade, respeito e consideraçao"!!!! É inacreditável que ainda hoje se confunda fatos biológicos com opinião pessoal!!!! É inacreditável que, ainda hoje se discuta ""se"" a diversidade humana procede!!!!

  5. Seria bom e IMPORTANTE sabermos o que a CRUSOÉ pensa sobre o assunto ? Analisem e nos municiem com o que vcs pensam. Interessante é saber que a direita poderá e deverá fazer a sua leitura em salas de aula do que imagina ser correto, e quem sabe imitar a esquerda, incentivando esse ou aquele ponto de vista, premiando da forma que pensar justo e necessário. Eu não quero saber de minhas netas com menos de 10 anos tendo aula de que não são mulher nem homem. A escolha poderá ser feita desde bebê.

    1. Colocaremos no currículo os benefícios e malefícios, em tratar-se precocemente do assunto. Entretanto, caberá a família, de cada aluno, decidir o que será ensinado, com TOTAL liberdade, e assinar um termo autorizando a ensinar da forma A ou B. O material escolar deverá ser condizente com a vontade e o perfil dos pais de cada aluno. Afinal quem os cria e educa são os pais. Se a escola quiser mudar que assuma integralmente as crianças, sendo responsáveis por quaisquer ato que venha a ocorrer.

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