Ricardo Stuckert/PRO presidente entrega casa própria em Rondonópolis: neopopulismo de esquerda

Populistas moderados também são um risco para a democracia

Lula e o PT querem conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado, vencendo eleições sucessivamente
10.03.23

A esta altura, os chefes de governo dos países democráticos liberais já têm indicações suficientes para avaliar o caráter político de Lula e do governo do PT. Basta que examinem meia dúzia de pontos:

1 – Elogios a Putin, não adesão às sanções à ditadura russa, recusa em ajudar a resistência ucraniana e tentativa de inculpar Volodomyr Zelensky pela guerra.

2 – Elogios aos regimes ditatoriais de Cuba e da China e admiração declarada pelo Partido Comunista Chinês.

3 – Tentativa de responsabilizar os Estados Unidos pelo impeachment de Dilma Rousseff (considerado falsamente como um golpe de Estado), pela operação Lava Jato, pela prisão de Lula e de outros dirigentes petistas que cometeram crimes.

4 – Recusa em condenar as ditaduras venezuelana e nicaraguense e as violações de direitos humanos cometidas por esses regimes.

5 – Criação artificial de dificuldades para sabotar a adesão do Brasil à OCDE.

6 – Autorização para navios de guerra iranianos, fortemente armados, atracarem no Brasil.

Sim, bastam esses seis pontos. Quem assim procede, se quisermos chamar de democrata porque adota a via eleitoral, só pode ter um caráter iliberal ou não liberal.

O problema é o que se pode concluir dessas evidências ou sinais. Seria um erro avaliar que Lula é um líder autoritário, mais ou menos como um Bolsonaro com o sinal trocado. Seria também um erro avaliar que ele é um líder extremista. Pois Lula não é nada disso. É apenas um populista de esquerda (ou neopopulista), mas isso não é pouca coisa se entendermos bem o que realmente significa.

Os cientistas políticos travam debates sobre o papel das instituições e sistemas de governo para evitar a ascensão de líderes populistas radicais (ou extremistas). Mas é preciso estudar os prejuízos para a democracia causados por líderes populistas moderados (não extremistas) como Lula.

Vejamos.

Lula não é populista-autoritário (é neopopulista ou populista de esquerda, como são ou foram Hugo Chávez, Evo Morales e Luis Arce, Manuel Zelaya e Xiomara Castro, Rafael Correa e Lenín Moreno, Fernando Lugo, Maurício Funes e Salvador Cerén, Cristina Kirchner e Alberto Fernández, López Obrador e Pedro Castillo).

Lula não é um líder isolado, mas um chefe partidário (ele tem mais votos do que o PT, mas isso não significa que ele não seja o PT – e, mais do que isso, o dono do PT).

O PT (Lula) não persegue minorias sociais (só minorias políticas).

O PT (Lula) não quer derruir as instituições (só quer ocupá-las, fazendo maioria no seu interior).

O PT (Lula) não quer destruir nossa democracia eleitoral (só não quer que ela vire uma democracia liberal).

O PT (Lula) não é extremista (pelo contrário, é moderado, mas isso não significa que não seja hegemonista).

O PT (Lula) não é revolucionário em termos clássicos (mas também não é social-democrata, como querem vendê-lo os universitários que ajudam a lavar a reputação do partido: Lula não é um Olaf Scholz, da Alemanha, assim como Dilma não foi nada parecida com uma Sanna Marin, da Finlândia).

O PT (Lula) não quer dar um golpe de Estado em termos tradicionais (quer conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido, vencendo eleições sucessivamente para se delongar no governo).

O PT (Lula) aderiu sinceramente à via eleitoral (e ama de paixão as eleições, encarando-as, porém, como um meio para tomar e reter o poder, não como parte do metabolismo normal das democracias e por isso nunca se deu muito bem com a rotatividade democrática).

O PT (Lula) não é simpático à ditaduras (com exceção das ditaduras de esquerda, como Cuba, Venezuela, Nicarágua e Angola).

O PT (Lula) não condena claramente a agressão militar de Putin contra a Ucrânia (pelo contrário, acha que o ditador russo cumpre um papel importante ao enfrentar o imperialismo americano).

O PT (Lula) não aprova a coalizão de democracias liberais (EUA, Canadá, União Europeia, Japão, Coréia do Sul, Austrália, Nova Zelândia) para conter o expansionismo da ditadura russa (pelo contrário, é mais simpático às autocracias chinesa e indiana, aliadas de Putin).

O PT (Lula) sempre fala em autodeterminação dos povos e soberania dos países (e isso vale até para as ditaduras de esquerda, mas não para democracias como a da Ucrânia e de Taiwan).

O PT (Lula) se diz contra a guerra (mas pratica a política como continuação da guerra por outros meios, na base do “nós” contra “eles”).

O PT (Lula) se diz favorável à paz e à tolerância (mas acha que a polarização elites x povo deve ser encorajada e que as minorias políticas antipopulares não devem ser toleradas e devem mesmo ser deslegitimadas quando impedem a realização das políticas populares).

O PT (Lula) se diz contra as milícias digitais que divulgam fake news (mas financiou, muitas vezes com dinheiro público, via estatais, uma rede suja de dezenas de sites e blogs para divulgar uma realidade paralela favorável ao partido).

O PT (Lula) é contra o negacionismo científico (mas não contra o negacionismo histórico-político, uma vez que afirma falsamente que não houve mensalão, não houve petrolão, não houve aparelhamento do Estado por militantes petistas e ainda mente dizendo que nunca quis controlar a mídia tradicional).

O PT (Lula) não se recusa a fazer alianças (mas, sobretudo quando a chefia do Estado está em jogo, só se o partido estiver na cabeça).

O PT (Lula), diz que a democracia brasileira está em risco (mas não constituiu um governo de coalizão – uma verdadeira frente ampla democrática – para afastar tão grave perigo e reconstruir o país e sim uma frente de esquerda hegemonizada pelo PT, com alianças fisiológicas para ter maioria no Congresso e dois enfeites de “frente ampla”, Geraldo Alckmin e Simone Tebet, para efeitos de propaganda).

Bem… dizer mais o quê? Se tudo isso não for suficiente para decifrar o caráter político de Lula e do PT, o que será?

 

Augusto de Franco é escritor

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  1. O interessante é que a extrema direita tb apoia a invasão russa na Ucrânia, dizendo que a Otan estava tomando conta de lá e incentivou a guerra. Pois quem dera que a Otan dominasse mesmo!

  2. Perfeito Augusto. Espero que esta lista seja propagada aos maiores governantes democráticos do Mundo. Que se destrua a imagem daquele que já foi reverenciado pelo Papa (que hoje deve estar engolindo o elogio, depois de ver a ligação de Lula com Ortega).

  3. Aos ladrões de esquerda, ou de direita não importa, se o povo, esta ou não na miséria, sempre vão ter o que roubar, alias, para eles o governo não tem dono

  4. O pt tem o DNA do chefe: desonesto, corrupto , manipulador , mentiroso. E o pior é que nem de esquerda são. São apenas populistas e corruptos. Ao final há que se decifrar é o mau caráter pessoal e político de Luladrão e do pt

  5. Há muito tempo não via uma clara interpretação sobre o PT e o Lula parabéns, mas se aprofundar mais um pouco, ainda irá encontrar mais coisas pq nesse submundo ainda tem muito mais.

  6. Nada a acrescentar ao exame preciso e minucioso feito com perfeição e brilho. Constatação: a educação e aprendizagem, obtidas fora do período correto do crescimento das pessoas, desde a infância, fazem falta e costumam deformar personalidades. Assim, temos um exemplo típico em apreço dado por líder populista formado e informado por fontes alternativas…

  7. Ou seja, o PT (Lula) é uma tragédia de proporções assustadoras. Brilhante texto. Brilhante e corajoso. Não seria publicado em muitos outros meios de comunicação além da Crusoé. Aliás a mediocridade da mídia brasileira é um dos sustentáculos desse populista de meia tigela. Moderado? Não acredito. Apenas estúpido e psicopata.

  8. Os próximos quatro anos só não estarão totalmente perdidos, se o Bozo for encarcerado e o Luladrão receber o chamamento da natureza o quanto antes …

  9. Perfeita análise. Ele sabe o que o povo brasileiro vem procurando desde Getúlio Vargas, algo que oscila entre o pai dos pobres e o Salvador da Pátria. Faltou acrescentar o perfil liberal nas eleições, estatista no discurso, pró-causa para os camaradas, mas apenas patrimonialista na verdade.

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