Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Torcedor interessado: os negócios cruzados do governador de Brasília com o Flamengo

30.08.21 11:32

Além de ser o time do coração do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o Flamengo virou também um negócio para o emedebista.

Apesar da situação delicada da pandemia na capital, Ibaneis autorizou o time a realizar jogos com público no Estádio Mané Garrincha — o Flamengo foi o único beneficiado pela decisão até agora. A reabertura da arena para jogos coincide com o pontapé inicial do governador em uma nova e rentável atividade: ele agora é dono de lojas oficiais do clube carioca, uma delas em um shopping localizado em frente à arena, onde é grande o fluxo de pessoas antes e depois das partidas. “A loja bomba em dia de jogo”, diz uma funcionária.

Crusoé apurou que o Ministério Público do Distrito Federal vai analisar se há conflito de interesses na atuação do governador. A empresa RB Comércio Varejista de Artigo Esportivos Ltda foi aberta em fevereiro e tem como sócios Ibaneis Rocha e seus três filhos, dois deles menores de idade, que são representados no negócio pelo próprio governador. A loja próxima do Mané Garrincha abriu as portas no dia 27 de julho, três semanas antes da vitória do Flamengo sobre o Olimpia, do Paraguai, pelas quartas de final da Libertadores — esse foi o segundo jogo no estádio após a liberação.

A loja aberta pelo governador no shopping vizinho ao estádio
A empresa de Ibaneis já tem duas lojas. Em junho, a Nação Rubro Negra, nome fantasia da firma, abriu uma filial em outro shopping da capital. A RB Comércio tem capital social de 1 milhão de reais. O filho mais velho do emedebista, Caio Rocha, aparece como sócio-administrador.

“Os empreendedores brasileiros têm nas lojas oficiais do Flamengo uma grande oportunidade de negócio”, informa o Flamengo em seu site oficial. As lojas licenciadas pela equipe rubro-negra vendem cerca de mil itens, como uniformes oficiais e outras peças de roupa com a marca do clube, acessórios, artigos para casa e lembranças. Quem é sócio-torcedor tem 10% de desconto nos produtos licenciados. As lojas do Flamengo funcionam em sistema de franquia. Para abrir uma loja de 50 a 60 metros quadrados, diz o clube em seu site, o investimento necessário é de 250 mil reais.

ReproduçãoReproduçãoO registro da empresa: Ibaneis e filhos são sócios
Além de Brasília, só Belo Horizonte havia liberado jogos com públicos – na semana passada, a prefeitura da capital mineira recuou e voltou a proibir partidas com público, em meio à evolução dos casos da variante delta. No Distrito Federal, Ibaneis assinou um decreto em julho e permitiu público nos estádios, com capacidade máxima de 25% de ocupação. Inicialmente, as regras previam que o público deveria apresentar comprovante de vacinação com duas doses e teste de Covid realizado nas 48 horas anteriores à partida. Dois dias depois, pressionado pela diretoria do Flamengo, o governo recuou e passou a cobrar comprovante de vacinação ou teste, em vez das duas exigências cumulativamente.

No Mané Garrincha, o Flamengo jogou pela Copa Libertadores da América e goleou o argentino Defensa y Justicia, com público de 5 mil pessoas. Também bateu o Olimpia, do Paraguai, diante de 11,2 mil pagantes, além das tradicionais cortesias. O Flamengo também disputará no Mané Garrincha a semifinal do torneio continental, em setembro, com público. A direção do clube pressiona para que o governo permita a ocupação em percentual superior a 25%.

Como o shopping que abriga uma das duas lojas de Ibaneis fica a menos de 800 metros do estádio, boa parte dos torcedores estaciona no local e circula pelas lojas. Diante dos indícios de conflito de interesse do governador ao liberar partidas do Flamengo na cidade e lucrar com esses jogos, o deputado distrital Leandro Grass, da Rede, entregou um ofício ao Ministério Público do Distrito Federal, em que pede que o MP investigue o governador por ato de improbidade administrativa e crime de responsabilidade. “Ao que tudo indica, há atos de improbidade típicos praticados pelo governador, uma vez que a autorização para realização de jogos com público em Brasília interfere diretamente no faturamento de suas lojas, que são licenciadas pelo Flamengo”, argumenta Grass.

Em abril, quando surgiram as primeiras especulações de que Ibaneis abriria lojas do Flamengo em Brasília, Crusoé chegou a indagar o clube, que negou que houvesse tratativas.

“O sucesso do Flamengo é o sucesso da loja. O sucesso da loja é dinheiro para o Flamengo. E o Flamengo em Brasília movimenta as lojas. O ciclo se fecha revelando que não é somente a paixão que norteia as ações do governador. Ao contrário, há um notório interesse financeiro por trás de tudo isso”, acrescenta o deputado Grass. “Somente o Flamengo jogou com portões abertos no Estádio Mané Garrincha. Nenhuma outra equipe jogou aqui com a venda de ingressos.

Desde 2020, o Flamengo tem o patrocínio do Banco de Brasília, vinculado ao Governo do Distrito Federal. A parceria de 96 milhões de reais já é alvo de uma investigação do Tribunal de Contas do Distrito Federal. A apuração corre em sigilo.

Crusoé procurou Ibaneis Rocha e o Flamengo para se manifestarem sobre o negócio das lojas, mas não recebeu respostas até o momento.

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  1. Aqui no Rio, um prefeito deu de mão beijada foi um estádio inteiro para o Botafogo...o Ibaneis deveria fazer o mesmo para com o Flamengo.

    1. Nem prefeito, nem governador são donos de nada. Seria muito desejável que qualquer dinheiro público ficasse bem LONGE de qualquer clube de futebol, independente das cores.

  2. O que leva um governador a tomar decisões tão cretinas como essas? A certeza da impunidade? Precisamos urgentemente no Brasil de uma Justiça séria, que não aceite esses arranjos absurdos. E de políticos probos, que jamais se curvarâo a atitudes como essas desse governador. Moro 2022 🇧🇷

  3. Sempre que esporte e politica se misturam o esporte acaba perdendo. A história está repleta de boicotes a olimpíadas, negociatas na construção de estádios no Brasil e agora patrocínios de empresas ligadas a bolsonaristas, assim como diretores de clubes ligados a Lula no passado e agora aberturas indevidas para proveito financeiro.

    1. Aí é que tá Vera. Em sua história, o flamengo tem muitos outros envolvimentos em negócios "polêmicos".

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