ReproduçãoLula, Raoni e Macron na Amazônia: não é homenagem aos "originários" - Foto: Reprodução

Raoni perdeu seu monopólio no Brasil, mas nunca na França

27.03.24 10:53

O cacique Raoni Metuktire, do povo caiapó, está no meio da polarização política brasileira. Em 2019, ele foi criticado por Jair Bolsonaro em seu discurso na ONU. O então presidente disse que o cacique não representava os indígenas: “Acabou o monopólio do Sr. Raoni“. Quatro anos depois, ele subiu a rampa do Palácio do Planalto na posse de Lula. Na França, contudo, Raoni sempre foi uma celebridade e nunca perdeu seu monopólio.

O presidente da França, Emmanuel Macron (na foto, com Lula e o indígena na Amazônia), condecorou Raoni nesta terça, 26, com o título de cavaleiro da Legião de Honra, a mais alta distinção francesa. Macron até publicou um vídeo do momento nas suas redes sociais. “Caro Raoni, por seu trabalho, sua luta incansável, por você, seu povo, por toda a Amazônia e seus povos indígenas: mejkumrej, obrigado“, escreveu Macron na publicação do vídeo.

 

 

Em outra postagem, Macron fez novos elogios: “Só podemos honrar as almas livres permanecendo fiéis a elas, seguindo seus passos. Com você, caro Raoni, eu me comprometo: a França estará sempre ao lado daqueles que vivem na Amazônia e daqueles que lutam por ela“.

A condecoração mostra que a legitimidade de Raoni, contestada no Brasil, nunca esteve em dúvida na França.

Raoni é apoiado pela ONG francesa Planète Amazone, cujo objetivo é apoiar os “povos indígenas, especialmente aqueles da Amazônia, em seu combate internacional contra o desmatamento“. O índio sempre teve livre trânsito no governo francês e já se encontrou com Macron em Paris.

Em contraste com as lideranças indígenas apoiadas por ONGs internacionais, Jair Bolsonaro prometeu valorizar os indígenas que querem se desenvolver com o resto do país.

No seu primeiro discurso na ONU, em 2019, Bolsonaro afirmou: “A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia. Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas. O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses. O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas. Especialmente das terras mais ricas do mundo. É o caso das reservas Ianomâmi e Raposa Serra do Sol. Nessas reservas, existe grande abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras, entre outros“.

 

Macron contra Jair Bolsonaro

Ao condecorar Raoni, Macron aproveita para cutucar Jair Bolsonaro, com quem viveu às turras depois que o brasileiro fez comentários sobre a primeira-dama Brigitte Macron nas redes sociais. Os dois também se desentenderam após o francês ter feito comentários sobre o desmatamento na Amazônia e a soberania brasileira na região.

Nesse duelo, Raoni sempre esteve do mesmo lado: o da França.

Quando esteve na Alemanha, em 2019, Raoni pediu ajuda para afastar Jair Bolsonaro da Presidência.

O Bolsonaro está fazendo coisa ruim. A gente tem que tirar ele logo. Acho que o presidente da França e outras forças internacionais podem fazer pressão para o povo brasileiro e o Congresso tirar o Bolsonaro“, disse ele em uma entrevista para a AFP.

Em uma conversa com Macron após uma reunião do G7, o indígena disse que o então presidente brasileiro “incitou agricultores e empresas mineradoras a incendiarem a Amazônia“.

Não é por acaso que Lula e Macron hoje fazem tanta festa para Raoni.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Cuidado Raoni a mesma França que dá "legião de honra" cujo papel nem prá limpar o rabo serve é a mesma que guilhotina seus reis.

  2. Até agora não li e não vi uma ONG ou um órgão oficial apresentar uma pesquisa, estudo ou algo parecido com uma "radiografia da opinião e expectativas indígenas ou dos povos originários". Só pirotecnia

  3. Desculpem a intromissão. Morei na Amazônia vários anos e sempre me perguntei porquê ninguém pergunta aos índios o que eles querem ao invés de ficar advinhando e inventando coisas. Façam um trabalho de pesquisa de qualidade por regiões onde existem comunidades indígenas. O que cada uma delas quer, espera ter, perspectivas de vida. A partir daí, estabeleçam políticas públicas, baseado em fatos concretos. Eles querem trabalhar, eles querem ser médicos, engenheiros, advogados?

  4. De qualquer sorte, não deixou de ser uma humilhação Macron condecorar Raoni com a legião de Honra na presença do autoproclamado líder do Sul Global- seja lá o que isso represente. (E ainda candidatar o índio ao Premio Nobel da Paz do qual Lula é o eterno candidato) Principalmente, sabendo-se que dois presidentes do Brasil já receberam a honraria: Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Será por vingança que Macron foi chamado de Sarkosy?

Mais notícias
Assine agora
TOPO