Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Fiscal preso no Rio era elo entre Cabral e as propinas da Itaipava

18.06.20 10:20

A Operação Recorrência, que levou à prisão dois auditores da Receita Estadual do Rio de Janeiro, foi alimentada pela delação do ex-governador Sérgio Cabral (foto), do MDB. Ele contou que Allan Dimitri Chaves Perterlongo, detido nesta quarta-feira, 17, era o elo entre os esquemas na Secretaria da Fazenda do Rio e o empresário Walter Faria, dono da Itaipava. As investigações revelam que o auditor manteve centenas de contatos telefônicos com um homem de confiança da arrecadação de propinas ao emedebista.

Peterlongo e Heraildo Schwab Carmo estão sob suspeita de movimentar mais de 20 milhões de reais no exterior, por meio de doleiros. A investigação é um desdobramento da Operação Câmbio, desligo, que desvendou um vultoso esquema de lavagem de dinheiro. O esquema movimentou 1,6 bilhão em 52 países e tinha em seu centro o “doleiro dos doleiros”, Dario Messer.

Segundo as investigações, as movimentações milionárias dos auditores fiscais se deram no âmbito de esquemas ligados a Sérgio Cabral, que foi chamado a depor.

“Tinha um elemento na Fazenda, que era um elemento receptor de propina do Walter Faria, ganhava todo mês dinheiro do Walter Faria, e, ao mesmo tempo, ajudava o Walter Faria dentro da Fazenda, que era o Senhor Allan, ele era responsável pela substituição tributária … Allan Dimitri … ele era o coordenador de substituição tributária e o elemento de ligação com Walter Faria, ele construiu essa relação ainda no governo Garotinho, no governo da Rosinha, e permaneceu no meu governo como elemento de ligação….”, disse Cabral.

A Itaipava é tida pela Operação Lava Jato como uma das principais peças do esquema de lavagem de dinheiro para o pagamento de propinas da Odebrecht. Seu dono, Walter Faria, é réu na Operação Rock City, 62ª fase da Lava Jato em Curitiba, por ter fornecido 1,1 bilhão de reais à empreiteira para repasses a políticos e agentes públicos.

No Rio, o Grupo Petrópolis, dono da Itaipava, tem seis fábricas, e o ex-governador já admitiu, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, que, em troca de benefícios fiscais, a cervejaria lhe pagava uma mesada de 500 mil reais. O emedebista afirmou à PF que seu assessor Ary Ferreira da Costa Filho, o Aryzinho, era o intermediário das propinas. Também relatou que ele mantinha relação com o auditor fiscal Peterlongo, preso nesta quarta, 17.

Na decisão que deflagrou a Operação Recorrência, Bretas relatou que as quebras de sigilo telefônico de Aryzinho identificaram centenas de ligações para o auditor fiscal.

“Ou seja, ao que parece Allan [Peterlongo] utilizou-se dos doleiros para dissimular valores provenientes de práticas delituosas cometidas no contexto da organização criminosa chefiada por Sergio Cabral”, anotou.

Procurado, o Grupo Petrópolis afirmou que não vai se manifestar.

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