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Tensão na Europa: os três cenários possíveis para a crise na Ucrânia

30.01.22 13:01

Apesar da falta de informações sobre os planos do Kremlin, três cenários podem ser traçados para a crise na Ucrânia a partir de ações que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pode ou não adotar nas próximas semanas.

O primeiro cenário é aquele em que a diplomacia evita uma ofensiva militar, e Putin manda os mais de 100 mil soldados acampados perto da Ucrânia de volta para casa. Não seria algo incomum, uma vez que ele tomou o mesmo caminho em abril do ano passado — depois de concentrar 80 mil soldados na região, o presidente russo encerrou a operação dizendo que se tratava de um exercício militar.

O recuo não seria lido necessariamente como uma derrota de Putin, já que ele teria obtido vitórias apenas movendo suas tropas e tanques (foto). Além de ganhar autoridade no tabuleiro mundial, Putin também poderia transformar a retirada de seus soldados em uma glória para a população russa. Uma facção do Partido Comunista na Duma, o Congresso russo, apresentou um projeto de lei para reconhecer as regiões de Donetsk e Luhansk, da Ucrânia, como estados soberanos. A discussão deve ocorrer em fevereiro. Ao final, o texto terá de ser aprovado pelo Parlamento e, depois, por Putin.

O projeto de lei enviado para a Duma foi copiado de uma resolução de 2008, que declarou duas regiões da Geórgia, Abkhásia e Ossétia do Sul, como estados soberanos. A Geórgia, assim como a Ucrânia, ameaçava entrar para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. Seis anos depois, acordos assinados entre a Rússia e esses pequenos estados permitiram o envio de mais 10 mil sodados russos para a região. Essa presença militar na Geórgia inviabilizou totalmente a entrada do país na Otan — o efeito seria o mesmo na Ucrânia. Segundo o artigo 5 da organização, todos os seus membros são obrigados a revidar caso um de seus integrantes seja atacado. “Por causa dessa cláusula, a Otan sempre tem fechado as portas para candidatos com disputas territoriais“, diz Alexandra Vacroux, diretora-executiva do Centro Davis para Estudo da Rússia e da Eurásia, da Universidade Harvard.

Guerra localizada

O segundo cenário é aquele em que a Rússia conquistaria mais um pedaço do território ucraniano. A justificativa para algo do tipo poderia ser dada com uma ação clandestina, simulando que soldados russos foram atacados dentro da Ucrânia. Além disso, qualquer sanção precipitada do Ocidente também poderia ser usada como pretexto.

Com tanques, tropas e limitada cobertura aérea, os russos poderiam tomar o porto de Mariupol, no mar de Azov, e a cidade de Kharkiv, mais ao norte e perto da fronteira. Com um pouco mais de ousadia, eles teriam condições de criar uma ligação terrestre, conectando o território russo à península da Crimeia, ocupada em 2014.

Ainda que todas essas ofensivas possam causar milhares de vítimas, elas não seriam um gatilho para uma reação da Otan. Como a Ucrânia não é parte do grupo, não há nada que obrigue a aliança a tomar partido. Sanções ocidentais seriam leves, e ainda poderiam ser contornadas pelo Banco Central russo, que conta com 600 bilhões de dólares em reservas internacionais.

Invasão total

O terceiro cenário é o de uma invasão russa para ocupar toda a Ucrânia. Tropas que estão na Belarus poderiam chegar rapidamente à capital Kiev e depor o governo do presidente Vladimir Zelensky. Seria a primeira queda de um governo europeu por uma força estrangeira desde a II Guerra.

Sanções ocidentais penalizaram as empresas e bancos russos. Oligarcas que hoje apoiam Putin poderiam ser afetados e retirar seu apoio. Para não atiçar a Otan, muito mais poderosa e bem equipada, os russos evitariam qualquer ação contra um de seus membros, limitando o teatro de operações à Ucrânia.

Dentro do país, combates em áreas urbanas seriam um enorme desafio para os russos. Os confrontos poderiam gerar uma onda de até 5 milhões de refugiados. Quinze usinas nucleares estariam sob alvo de ataques. Mesmo que a invasão inicial seja bem-sucedida, a ocupação do território por um longo período seria inviável.

A Ucrânia tem cerca de 250 mil soldados e poderia convocar outros 250 mil reservistas para lutar contra 100 mil a 175 mil soldados russos. Os ucranianos, nesse caso, teriam chance de utilizar as armas enviadas por outros países, incluindo mísseis antitanque que podem ser lançados por um único soldado.

A invasão total é uma alternativa que Putin pode empregar caso seu objetivo seja o de transformar a Ucrânia em um estado falido. Putin também pode querer tornar o país um exemplo para todos os demais que estavam na órbita da antiga União Soviética e ousaram se aproximar do Ocidente.

A questão é que esse terceiro cenário embute riscos desnecessários para Putin, que poderia ser criticado internamente caso o número de baixas na guerra seja elevado. Como muitos ucranianos têm laços familiares com russos, mortes dos dois lados poderiam reduzir a aprovação do presidente. Por ser esse o cenário mais catastrófico e arriscado, é também o menos provável.

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  1. Não haverá guerra. Nenhuma potência europeia tem nada a ganhar com esse conflito. Haverá uma retirada após negociações que deixem o Putin mais tranquilo quanto ao torniquete que a OTAN está apertando em redor da Rússia.

  2. É sim, Jose, estão ambos os desgovernantes desgovernados vibrando com a aproximação da oportunidade desse "rendez vous".... 😂😂😂😂🤝😂😂😂😂...

  3. Há um quarto cenário. O Bozo visitará o Putin. Os dois terão uma tórrida noite de bromance. Com isso o Putin ficará mais aliviado, de bem com a vida, e selará a paz com a Ucrânia, desde que o Bozo tope ser sua novinha depois dele ser expulso do Brasil em Outubro.

    1. Nyco Penyco zurra de novo. Como eu tenho pena desta criatura nociva, compartillharei com ele notícias diretamente de moscou: https://www.themoscowtimes.com/2020/11/19/bolsonaro-beams-as-putin-praises-his-masculinity-a72088

  4. Agora não tem mais MIKHAIL GORBATCHEV para segurar a paranóia russa como aconteceu em novembro de 1983 com o episódio da Polônia (durante os treinamentos da OTAN) que quase incendiou e explodiu o PLANETA. Agora a crônica doença russa está nas patas de um doentio mequetrefe irresponsável que testa limites para afirmar perante si mesmo que domina seus próprios complexos, sem se importar a mínima com a ESPÉCIE HUMANA à qual não pertence.

    1. ....miniputin é mais um elemento indigente mental da subespécie com vocação assassina, que não se importa a mínima com as vidas nem com os destinos do seu país e do PLANETA.

  5. Há muito espaço na imensa Rússia para os separatistas russos. Vá lá Putin, ceda alguns acres no seu quintal para esses trolls inconsequentes derrubadores de jatos civis. Mas não, a Rússia não sabe o que Soft Power. Santa estupidez.

  6. Putin não liga a mínima para opinião pública russa, basta ver como adversários somem ou lhes acontece coisa pior. Se não houver a invasão total será por questão de efetivo militar e a dificuldade de lutas urbanas. Vamos lembrar das experiências russas adquiridas na Síria. Sei não. Se voltar os 100 mil soldados, criara a cena para o futuro, quando fizer novamente ninguém vai acreditar. Faz lembrar a estória do Joãozinho, fogo,,,fogo,,,,

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