Adriano Machado/Crusoé

Teich estava sob pressão de Bolsonaro e de secretários estaduais de Saúde

15.05.20 12:56

Além da pressão do presidente Jair Bolsonaro para flexibilizar o uso da cloroquina, Nelson Teich sofria também com a insatisfação de secretários estaduais e municipais de Saúde, que reclamavam da falta de clareza do ministro a respeito do isolamento social. O oncologista ficou menos de um mês no cargo – ele foi empossado no dia 18 de abril e pediu demissão nesta sexta-feira, 15.

Para não desagradar ao presidente Jair Bolsonaro, crítico feroz do isolamento como medida de combate ao coronavírus, Nelson Teich adotou um discurso público muitas vezes dúbio e sem precisão a respeito de medidas restritivas. Com isso, começou a sofrer pressões contrárias na outra ponta.

Na quarta-feira, 13, os conselhos de secretários estaduais e municipais de Saúde divulgaram nota conjunta para criticar sua postura de não se posicionar em defesa da quarentena, justamente no momento de pico da doença. “A mensagem sobre o isolamento social deve ser clara e objetiva. Gerar dúvidas na sociedade sobre sua importância ou mesmo relativizá-la nos parece inadequado”, afirmaram as entidades.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro repetia diariamente a necessidade da retomada imediata das atividades econômicas, o que elevou a pressão sobre as decisões técnicas da pasta. Questionado na última segunda-feira sobre a publicação da matriz de risco para a reabertura do comércio, Teich explicou que não se tratava “de uma política de isolamento, nem de uma política de flexibilização”, sem, contudo, explicar qual seria a terceira opção possível.

Para o médico, estava difícil manter-se em cima do muro, diante da escalada de casos e mortes por conta da Covid-19 e da intensa pressão dos gestores estaduais e municipais, que são executores das políticas públicas da área. A gota d’água, entretanto, foi a insistência de Bolsonaro em mudar o protocolo de prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina.

Desde a gestão de Luiz Henrique Mandetta, está em vigor uma regra que prevê o uso das substâncias no Sistema Único de Saúde apenas por pacientes graves e hospitalizados. Jair Bolsonaro anunciou esta semana que cobraria a mudança das diretrizes para permitir a prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes do grupo de risco, como idosos, desde os primeiros sintomas. Diante de estudos que mostram a falta de eficácia dos medicamentos no tratamento e na redução de mortes, Nelson Teich insistiu na manutenção do protocolo. Sem convencer o presidente, preferiu sair do governo.

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