José Cruz/Agência Brasil

Quando os escândalos passam, os esquemas se regeneram

27.03.19 06:29

Escândalos passam e os esquemas se regeneram. Em Brasília, o dia seguinte à tempestade já é suficiente para que tudo volte a ser como antes. O caso de Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, exonerada de um cargo comissionado no Senado nesta terça-feira, 26, é exemplar.

Em 2009, no chamado escândalo dos atos secretos, que colocou na berlinda o então presidente da casa, José Sarney, o nome dela surgiu entre centenas de nomeados cujas nomeações se deram em boletins nunca antes publicados. Era uma forma de protegê-los do distinto público — muitos eram agraciados com cargos secretamente porque tinham laços, inclusive de parentesco, com os poderosos de ocasião do Senado.

Como o jornal O Estado de S.Paulo mostrou àquela altura, Rosângela Michels é mãe de João Fernando Michels Gonçalves Sarney, que nasceu de um relacionamento com Fernando Sarney, o primogênito de José Sarney.

O neto do então presidente do Senado, com 22 anos, havia sido nomeado ele próprio para um cargo na casa. Com a decisão do Supremo de proibir o nepotismo no poder público, ele teve de ser exonerado. Recorreu-se, também, a um ato secreto: se o despacho fosse publicado, o sobrenome famoso poderia chamar atenção.

A exoneração do rapaz, por força da decisão do Supremo, não significou um problema. Vinte dias depois de João Fernando perder o cargo, a mãe dele, ex-candidata a Miss Brasília, foi nomeada para um cargo no gabinete do então senador maranhense Epitácio Cafeteira, aliado histórico do clã Sarney.

Procurado à época, Cafeteira disse do que se tratava: a nomeação era uma forma de ajudar Fernando Sarney, o pai de João Fernando, a dar alguma assistência ao filho — por meio dos cofres do Senado. “É filho fora do casamento, e a mulher do Fernando não sabia”, disse o senador. Cafeteira só faltou desenhar: primeiro com a nomeação do filho, e depois com a nomeação da mãe, o cargo no Senado era uma maneira de Fernando pagar pensão à custa do contribuinte.

O escândalo dos atos secretos quase derrubou José Sarney, com essa e muitas outras revelações, mas passou. E a vida de Rosângela Michels, a mãe do neto de José Sarney, voltou à absoluta normalidade no Senado.

Quase dez anos depois de estourar a crise, ela seguia recebendo o salário, até ser incluída nesta terça-feira em uma lista de 149 nomes de protegidos de José Sarney e Renan Calheiros que estavam aboletados em diferentes setores do Senado, sem concurso.

Ou seja: passado o escândalo, Rosângela, a ex-candidata a Miss, continuou com seu holerite do Senado, sem que ninguém a incomodasse. Ou, pior, sem que o público externo se desse conta de que ela continuava por lá. É um exemplo cabal de que, para os adeptos das boquinhas e de outros esquemas sustentados com dinheiro público, não há oportunidade melhor do que o dia seguinte aos escândalos: é o momento ideal para restabelecer a velha ordem.

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  1. A exemplo do Senador Kajuru, que está investigando um "alto" juiz, algum político de respeito bem que poderia comprar essa "briga" e fazer abrir a caixa preta de todos os órgãos públicos. O que vier a aparecer vai escandalizar muito mais! Que nojo de tanta canalhice.

  2. Meu Deus, como podemos reverter a ideia de que todo político é bandido, brigamos no bom sentido, por um lado, no outro, os politiqueiro se esmeram em manter seus feudos, suas mamatas, seus penduricalho, tudo na surdina.

  3. E assim nosso suado dinheiro recolhido mediante imposição do governo, o imposto, sustenta o distinto parlamentar e seu entorno: mãe, pai, filhos, genros, noras, tios, tias, netos e cachorros. O dito popular é válido até hoje: Vamos gastar que é do governo. E o povo é pobre!

  4. E ainda tem idiota que vota de novo e de novo nestes trastes de família Sarney; família Calheiros; família Magalhães. E querem que o Presidente dê jeito na lambança que eles criam.

  5. É por este e outros absurdos que me descontam uma fortuna de IR na fonte e agora na declaração vejo que terei que pagar outra pequena fortuna, mesmo tendo dois filhos que são dependentes na prática mas não posso declarar como tal, mesmo tendo que pagar estudos e assistência médica pois o Estado não cumpre suas obrigações mínimas. É um país de merda mesmo. E pior é que a esperança de mudanças fica cada vez mais distante.

  6. Este assunto me parece que já foi consagrado pelo STF quando isentou de culpa o Senador alagoano Renan Calheiros que recebeu dinheiro de empresa para pagar a sua concubina.

  7. Esse tipo de nomeação por " ato secreto" TEM que acabar!!!! É um absurdo tão grande que não HÁ como continuar! Chega!!!!!!!!

  8. Apuraram que há 149 aboletados no senado, sem concurso, protegidos do renan e do sarney. Pois bem, vai ficar só nisso? O povo vai continuar bancando o gasto? Faltou informarem quais providências vão tomar, se é que vão fazer alguma coisa! A

  9. Esquemas se regeneram e outros nem ao menos se cogita acabar..os rachids, ssessores que moram e trabalham no RJ e batem ponto em Brasilia, tudo, tudo isso............o JB precisa sair da campanha e fazer o que prometeu, inclusive dentro de casa

  10. É isso que o Alcolumbre, a Dodge e alguns outros ‘neutros’ deveriam compreender a respeito da leniência com o crime. Deve ser combatido, com estratégia, para atingir-lhe o âmago. Sucessivas vistas grossas, sob o mantra de suposta ‘pacificação’, matarão a saudável regeneração da política e da justiça brasileira.

  11. O desanimo é tanto, seja com esses crapulas, seja com os novos ai incluido o presidente, q é melhor nao comentar. Juntar $ e ir embora q aqui ... ja deu

  12. A matéria põe em evidência a prática corrente nos poderes da nação. Porque é evidente que isto também ocorre no executivo e judiciário, e também a nível estadual e municipal. Não é uma radiografia. É melhor que isto, é uma ressonância magnética. O Brasil sofre de dois tipos de doença: grandes enfermidades, como corrupção e crime organizado, e afecções difusas, "bicheiras", em toda sua organização política e social. Se não for curado, pode morrer dos dois, ou de um dos males.

  13. É assim que a VELHA POLÍTICA funciona. Os CORONÉIS continuam mandando no Brasil. Viva a corrupção e o povo que se EXPLODA. #NHONHO é o VELHO NOVO.

  14. As famosas raposas velhas mandavam (passado, será) e pronto, fica ou sai e ninguém se fora devia saber. Sinceramente, não vejo luz no fim do túnel que é este país. Quem puder e tiver oportunidade, use o aeroporto internacional.

    1. Talvez vocês entendam agora porque ninguém, a não ser os especuladores, quer investir nesta república de bananas. Entra e sai governo e a roubalheira continua a mesma. Neste governo já tivemos rachidismo, laranjal, funcionária vendendo açaí na praia, uma zona, uma zona.

  15. Este é outra figura execrável da política que ajudou o país ao lodaçal durante o seu desgoverno e nunca foi investigado como amealhou fortuna militando sempre na politica

  16. Imagino que todos as repartições públicos deve conter nas folhas de pagamento um monte de parentes e prostitutas tipo coxa, amante.

  17. Quem diria que o David um dia se mostrasse mais honesto do que a maioria dos parlamentares. Falta, entretanto, ele demitir a mulher do Onyx. Ou ele pensa que nos não sabemos da gambiarra?

  18. O que impressiona é a família sarneynta não ter um só membro na cadeia depois de todo o mal que fizeram ao país e ao estado do Maranhão. As vezes o crime compensa ( com leniência das altas cortes ).

  19. Muita leviandade. Temos que acabar com esses cargos. Funcionário só por concurso publico. Diminuir em 2/3 o número de funcionários do Legislativo e do judiciário. 3 deputados e 1 senador por estado !!!

  20. E a velha política segue na berlinda. Só aceito sob o prisma filosófico, algo como "a dualidade do bem e do mal é intrínseca à espécie humana". Tem que negociar projetos para o país, mas ao mesmo tempo tem que agradar os fisiologistas de sempre. Por isso que muitas vezes o ditador é o melhor estadista para uma nação. Não deve favor a ninguém. Getúlio conseguiu, tanto que voltou nos braços do povo. Os militares tentaram, mas foram brandos com os corruptos, porque precisavam dos políticos.

  21. E depois falam que a previdência quebra o país. Tem muita barbaridade escondida nos poderes legislativo e judiciário desse país, em nível federal e estadual, que até o capeta duvida. Até chegar à previdência, muita coisa deveria mudar antes.

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