Caio Mattos/CrusoéPessoas carentes em estação de metrô de Buenos Aires: pobreza aumentou dependência do Estado - 15/10/2023

O que significa o salto da pobreza a 57% no governo Milei

20.02.24 09:00

Uma notícia negativa da economia da Argentina repercutiu nesta segunda-feira, 19 de fevereiro. Trata-se de um salto na taxa de pobreza projetado para entre dezembro e janeiro, primeiros meses do governo de Javier Milei.

A pobreza avançou em 7,9 pontos percentuais nesse período, de 49,5% a 57,4%. Esse é o pior índice desde 2004, quando a Argentina se recuperava da colapso do sistema de paridade entre o peso e o dólar.

Em termos absolutos, são 27 milhões de pessoas que não conseguem aceder a uma cesta básica total de bens e serviços.

Desses, 7 milhões (15% da população argentina) não chegam nem a uma cesta básica de alimentos. Eles são os chamados “indigentes”.

Esses dados são uma estimativa da Universidade Católica Argentina (UCA), divulgado no final de semana, com base em dados do segundo semestre de 2023 comparados aos reajustes de preços pós-desvalorização de dezembro.

Apesar de se tratar de uma projeção, os levantamentos da UCA não diferem muito das estimativas oficiais (EPH-Indec).

O que explica a pobreza?

A UCA atribui o salto na pobreza à política de desvalorização da cotação oficial do peso, implementada pelo governo Milei em dezembro, mas afirma a existência de problemas estruturais na economia argentina.

“Depois de mais de duas décadas de um regime inflacionário, de empobrecimento e de aumento dos programas sociais, aos quais se acrescenta um novo programa ortodoxo de ajustamento económico, a pobreza continua a aumentar apesar da assistência pública”, afirma a universidade na divulgação do estudo no X, rede social anteriormente conhecida como Twitter.

O atual “regime inflacionário” argentino decorre da expansão desenfreada do Estado no governo de Néstor Kircher, que se sustentava na época do boom das commodities, nos anos 2000, mas começou a desenfrear a partir dos anos 2010.

O levantamento da UCA (Pobreza EDSA) mostra que a tendência de empobrecimento vêm desde 2012 — os governos peronistas de Cristina (2007-2015) e Alberto Fernández (2019-2023) não diminuíram a pobreza; apenas a retardaram.

Qual é a responsabilidade de Milei?

Para o economista Claudio Zuchovicki, Milei não pode ser responsabilizado pelo salto na pobreza.

“A Argentina teve o maior gasto público de sua história. Se ela chegou assim ao maior nível de pobreza, é porque se gastou muito mal”, diz Zuchovicki.

“É uma questão de geração genuína de riqueza. Não adianta tirar de pobres para dar a outros pobres”, acrescenta.

De fato, a desvalorização da cotação oficial implementada por Milei desencadeou um aumento de preços entre dezembro e janeiro.

Entretanto, tratam-se de reajustes na esteira de políticas eleitoreiras do ex-ministro da Economia e presidenciável, Sergio Massa, vide congelamento de preços e as medidas de transferências de renda conhecidas como Plan Platita.

A desvalorização levou o dólar de 365 a 800 pesos na cotação oficial, mas, devido a restrições do governo para maquiar a economia, o cidadão comum mal tinha acesso a esses dólares.

Ele precisava recorrer ao mercado paralelo, o dólar blue, que, desde as eleições, flutua por volta dos 1.000 pesos.

Leia também: Por que a inflação da Argentina é maior do que o divulgado

Com o que deveríamos nos preocupar também?

O levantamento da UCA mede a pobreza com base em ingressos formais.

Cabe, entretanto, lembrar que mais de metade da população argentina trabalha no mercado informal — a informalidade é um dos piores vícios da economia argentina desde a década de 1990.

Segundo Zuchovicki, também é preciso se preocupar com a “pobreza estrutural”.

“O que é preciso resolver é a pobreza estrutural, que não é só uma questão de rendimento. É a falta de infraestruturas, a falta de ruas asfaltadas para que as pessoas possam ir trabalhar, a falta de esgotos”, diz o economista.

“Isso leva muito mais tempo e é muito mais profundo. E creio que é por isso que deve haver uma reforma forte da economia argentina. Não há magia”, acrescenta.

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