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Por que Cuba tem a maior inflação da América Latina

Miguel Díaz-Canel deve participar de teleconferência com Lula para discutir políticas para conter alta inflacionária na América Latina; situação da ilha caribenha é especial devido ao controle do regime sobre a economia
05.04.23 11:17

O presidente Lula e seus homólogos do México e de outra meia dúzia de países das Américas do Sul e Central devem se reunir por teleconferência às 13h desta quarta-feira (5) para discutir políticas para conter a alta inflacionária na região.

Também participa dessa reunião o ditador de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e isso não é por acaso.

Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), a ilha caribenha tem a terceira maior inflação anual dentre países latino-americanos. Em 2022, a inflação cubana foi de 34,2%, atrás apenas dos 88% da Argentina e dos 146% da Venezuela. Mas os valores da ilha comunista podem ser muito maiores segundo pesquisadores independentes. Para Pavel Vidal, especialista em economia cubana da Pontifícia Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, a inflação real em Cuba ficou acima dos 200% em 2022.

Vários motivos explicam o aumento da inflação, como a pandemia e a guerra na Ucrânia, os quais atingiram também outros países. Mas os fatores mais preponderantes impactam exclusivamente a ilha comunista, como a redução nas relações comerciais com a decadente Venezuela e uma reforma monetária malfeita.

No início de 2021, o regime unificou as duas moedas oficiais que circulavam no país havia três décadas: o peso cubano e o peso conversível. O peso cubano era a moeda nacional de Cuba, enquanto o conversível era atrelado ao dólar para servir de substituto da moeda americana no comércio na ilha e, assim, o regime conseguia acumular reservas internacionais.

O valor do peso cubano para a ditadura era atrelado ao peso conversível e, logo, ao dólar, mas, para a população, valia 24 vezes menos na cotação fixa oficial e até 45 vezes menos no mercado informal em dezembro de 2020. Assim, um dólar valia um peso cubano para o regime, 24 pesos para um comprador formal e 45 para um informal. Herança da crise econômica decorrente do colapso da União Soviética, esse sistema de moeda dupla propulsionou desigualdades e conturbou o mercado de trabalho em Cuba.

Trabalhadores remunerados em pesos cubanos, como funcionários públicos qualificados, tendiam a ter poder aquisitivo baixo. Muitos só podiam comprar alimentos usando a caderneta de racionamento, que não é suficiente para arcar com as necessidades mensais de uma família. Ao converter o peso cubano em dólares, esses cubanos recebiam cerca de 44 dólares por mês.

É uma situação bem mais precária se comparada ao dos cubanos que recebiam em pesos conversíveis, como taxistas com clientes estrangeiros, que podiam fazer 60 dólares em um dia.

Essa distorção é o que permitia a um hotel ou restaurante estatal cobrar por um prato de comida o mesmo valor que pagava de salário para um garçom ou cozinheiro.

Em 2020, o regime decidiu unificar as suas duas moedas. A medida multiplicou os valores nominais dos salários no setor público e as aposentadorias por cinco, mas os montantes foram corroídos pela inflação, uma vez que a ditadura precisou emitir mais pesos. Em um ano, um dólar passou de 45 pesos cubanos a 155 pesos.

Cuba só conseguirá conter a inflação se aumentar substancialmente a sua produtividade, diz Robert Dekle, professor de economia da Universidade do Sul da Califórnia. Com uma oferta maior de produtos, seria possível satisfazer a demanda e, assim, conter os preços. Contudo, o comunismo segue como uma trava para a produção. “Há cada vez mais pesos atrás da mesma quantidade de bens e serviços”, diz Dekle.

Não bastasse a pandemia e a guerra na Ucrânia, os cubanos precisam arcar com a incompetência, ou malícia, de governantes que não elegeram.

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