Fellipe Sampaio/SCO/STF

‘Caiu com Kassio Nunes’ é a versão atualizada de ‘Foi pro Supremo’ na era Bolsonaro

13.04.21 11:25

Ao ouvir de um apoiador, na noite de segunda-feira, 12, que o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, havia sido sorteado relator do pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro soltou uma gargalhada. “Caiu com o Kassio Nunes?”, questionou o presidente, antes de cair na risada.

“Caiu com o Kassio Nunes” é uma espécie de versão atualizada da célebre cena, exibida pela série da Netflix “O Mecanismo”, em que os réus comemoram efusivamente na cadeia que seus processos foram parar no STF.

Como mostrou Crusoé no fim de semana, o escolhido por Bolsonaro para ocupar uma das onze cadeiras do Supremo tem atuado em sintonia fina com os interesses do Planalto. Em cinco meses na corte, o ministro foi “terrivelmente fiel” ao presidente. “Não me recordo de nenhum outro ministro que tenha tomado tantas decisões em sequência, de forma tão abertamente favorável àquele que o indicou”, já havia observado, também em recente entrevista a Crusoé, a cientista política Maria Tereza Sadek, uma das maiores referências acadêmicas quando o assunto é o STF.

E é por isso que Bolsonaro ri à toa quando recebe a notícia de que o processo de Alexandre de Moraes “caiu com o Kassio Nunes”. Como se sabe, Moraes virou persona non grata no governo desde que impediu a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da PF. Logo, tudo o que Bolsonaro mais deseja hoje, além de enterrar a CPI da Covid, é ver o processo de impeachment de Moraes prosperar no Congresso.

Kassio, aquele que leva a sério a máxima de Eduardo Pazuello, “um manda, outro obedece”, foi sorteado relator do mandado de segurança impetrado pelo senador Jorge Kajuru para determinar que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, dê início ao processo de impeachment de Moraes.

Em 26 de março, Kajuru entregou a Pacheco um abaixo-assinado com mais de 2,6 milhões de assinaturas requerendo o afastamento do ministro por crime de responsabilidade — o parlamentar lembra que o ministro cometeu “agressões às garantias da liberdade de expressão e de imprensa” — entre as quais a censura a Crusoé — e “violou a imunidade parlamentar do deputado federal Daniel Silveira”, ao prendê-lo “ilegalmente a seu mando e alvitre, ferindo igualmente a liberdade de expressão e direito de opinião”. Para o senador, Pacheco está sendo omisso ao não constituir uma comissão para analisar o pedido – o fundamento, na avaliação de Kajuru, seria semelhante ao do mandado de segurança em que Barroso ordenou que o presidente do Senado instalasse a CPI da Covid.

Como nas ocasiões anteriores, Bolsonaro aposta que Kassio decidirá novamente de acordo com os anseios do Palácio do Planalto.

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