Wikimedia CommonsPrint mostrando página no Instagram de um dos principais veículos de imprensa do Canadá

A briga entre big techs e o Canadá que barra notícias na Internet

20.03.24 15:07

Uma proposta do governo do Canadá para recompensar veículos de imprensa pelas notícias replicadas em redes sociais, aprovada no ano passado, gerou um efeito colateral grave para a sociedade: Google e Meta/Facebook decidiram, conjuntamente, tirar o conteúdo dessas empresas no ar — deixando pequenos veículos em apuros, e parte da população no escuro de notícias.

A medida tem alcance até para empresas de outros países. Quem usa o Instagram no Canadá e tenta acessar a página de O Antagonista recebe o aviso de que pessoas do país não podem ver as publicações do site (abaixo). Isso também ocorre com outros veículos de imprensa brasileiros.

 

 

“Em resposta à legislação do governo do Canadá, conteúdos jornalísticos não podem ser vistos no Canadá”, diz a plataforma. Em uma explicação mais detalhada, a empresa vai além: “Se você está no Canadá, você não pode mais compartilhar ou ver links no Instagram de stories e perfis, incluindo links de veículos de imprensa”.

A plataforma diz que sua definição sobre quem é imprensa “inclui organizações que seu objetivo primário é produzir conteúdo jornalístico, em qualquer formato (incluindo áudio ou audiovisual) que reporte, investigue ou explique assuntos correntes ou eventos de interesse público”. As notícias produzidas em todo o mundo também não aparecem no Google Notícias, da plataforma de buscas.

Cabo de guerra

A lei, intitulada apenas “Lei de Notícias Virtuais” entrou em vigor em meados do ano passado. Com ela, o governo do Canadá tentou resolver uma assimetria entre as empresas de tecnologia — principalmente Google e Meta, que controlam plataformas como Instagram e Facebook — e os veículos de imprensa de todo tamanho do país.

Pelos cálculos do governo, o Google deveria pagar 172 milhões de dólares canadenses (634,7 milhões de reais) aos veículos de imprensa por ano, enquanto a Meta deveria arcar com 62 milhões de dólares canadenses (228,7 milhões de reais). 

“O objetivo desta lei é regulamentar intermediários das notícias digitais, com o objetivo de alcançar a razoabilidade no mercado digital de notícias e garantindo sua sustentabilidade, incluindo a sustentabilidade de negócios de imprensa no Canadá, tanto em empresas quanto em organizações sem fins lucrativos, incluindo veículos independentes e locais”, justificou o Parlamento no texto aprovado.

A entrada em vigor da nova lei se dará em três fases. Neste momento, uma consulta pública está aberta para decidir como se dará o modelo de negociação entre as partes. A partir daí, a Comissão de Rádio, TV e Comunicações do Canadá irá decidir quem irá auditar a questão, e começar a regular a lei.

 A lei foi bem recebida pelos veículos de imprensa do país. “É um primeiro passo importante para nivelar o desequilíbrio que há entre publishers e plataformas e para restar a justiça e garantir a sustentabilidade do ecossistema de notícias canadense”, disse Jamie Irving, do grupo News Media Canada, à época. 

No momento da aprovação da lei, Google e Meta instantaneamente tiraram conteúdos jornalísticos do ar, evitando pagar pela divulgação do conteúdo. Em um país onde 29% usa o Facebook para conferir notícias (e 10% o Instagram), a medida das big techs atingiu em cheio principalmente os pequenos veículos, que viram queda de até 90% em seus acessos, tornando-os inviáveis.

“Estamos desapontados que chegou a esse ponto”., escreveu Kent Walter, diretor de assuntos globais da Google. “Não tomamos essa decisão ou seus impactos de maneira leve, mas é importante ser transparentes com os veículos canadenses e nossos usuários o mais cedo possível.”

Inspiração

Um dos argumentos para a aprovação da lei foi a de que  outros países estariam em negociações parecidas com as dos canadenses — incluindo o Brasil, que tenta incluir a questão no PL das Fake News.

Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara, tentou durante o ano de 2023 destravar a proposta, que poderia contar com um dispositivo de compensação das plataformas de big tech a veículos de imprensa. No entanto, a oposição ao governo obstruiu o texto e o relator, Orlando Silva (PCdoB-SP), reconheceu que a proposta só sairia do papel em 2024. Até agora, não se concretizou.

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