José Cruz/Agência BrasilAlguém acredita que Flávio Dino não politizará a Casa?

Dino é a gota d’água e, também, a cara do STF

Sua indicação ao tribunal evidencia a necessidade da aprovação de uma PEC que modifique o processo de nomeação de ministros e acabe com o mandato vitalício
01.12.23

Após a indicação de Flávio Dino para compor uma cadeira do Supremo Tribunal Federal, é inevitável que façamos uma reflexão sobre os rumos que a Corte vem tomando. Quando se fala em política brasileira, os ministros do Supremo Tribunal Federal deixam raramente de ser mencionados. Tornaram-se  protagonistas a ponto de o brasileiro médio saber nomear, ao menos, metade dos onze ministros da Corte — coisa que, há 20 anos, era improvável. Mas, preciso confessar: com uma Corte tão politizada, Dino parece ser a cara dos futuros colegas.

Nos termos da Constituição Federal, compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição. Não se trata de uma corte política, condicionada às pressões e articulações dos bastidores da política para ter suas cadeiras preenchidas. O STF é uma corte constitucional e técnica. Hoje, porém, temos uma Corte que faz jus ao nome que recebe, pois seus ministros, aparentemente, tornaram-se os verdadeiros iluminados para decidir o rumo do país e julgar as ações que lhes convêm; o que é grave falha no seu propósito, especialmente no que diz respeito ao zelo pelos princípios fundamentais.

Flávio Dino reforçará todas essas falhas. Ou alguém acredita que ele não politizará ainda mais a Casa? Portanto, sua indicação ao Supremo Tribunal Federal evidencia a necessidade da aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição que modifique o processo de nomeação de novos ministros e acabe com o mandato vitalício. A despeito da importância da instituição, deve-se lembrar que nenhum dos onze ministros vestindo a “toga suprema” foi eleito pelo povo. A indicação de advogados e amigos do presidente da República à cadeira do Supremo é inteiramente incompatível com as funções e responsabilidades exercidas pelos ministros.

Vejamos: o episódio do 8 de janeiro tem julgamentos que estão contrariando os princípios de proporcionalidade e razoabilidade que caracterizam qualquer Estado Democrático de Direito. Me pergunto se Alexandre de Moraes realmente acredita que é terrorista todo aquele que esteve na Praça dos Três Poderes naquela data. E não estou aqui defendendo inocência ou absolvição. Questiono o STF e a condução de tudo desde então. Ou será que devemos considerar normal que um homem — respondendo a processo preso e com sistema cardíaco comprometido — tenha morrido sem que um parecer de soltura assinado pela PGR tenha sido apreciado da Corte que, em teoria, deveria zelar pela dignidade da pessoa humana?

É inevitável não citar, discutindo esse tema, a inclinação da Suprema Corte à censura. Não se pode admitir que o Supremo Tribunal Federal demande — por meio de uma decisão monocrática — que uma empresa privada retire do ar um posicionamento contra um projeto de lei que a atinge (o PL da Censura). Foi o que Alexandre de Moraes fez com o Google. Se não se pode apontar os elementos negativos de um projeto de lei com clara natureza de censura, o quão longe estamos de um modelo ditador?

Se não não se pode criticar ou questionar o STF; se uma votação contrária aos interesses dos ministros no Senado Federal gera revolta e desmesurada raiva deles; não há outra forma de agir: para termos uma Corte que aja seguindo a Constituição, é nosso dever pressionar o Parlamento para a aprovação de uma PEC que mude o processo de nomeação às cadeiras da Corte. O STF não pode ser palco de troca de favores, de relações pessoais ou partidárias. Dino é a gota d’água.

 

Letícia Barros é advogada, empreendedora e Vice-presidente do LOLA Brasil

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  1. De que forma seria feita essa escolha? Votação pela OAB ou outras entidades jurídicas? Mas se tá tudo aparelhado e dominado tb…

  2. ESSA NOMEAÇÃO SÓ VAI EMPORCALHAR MAIS AINDA MAIS O stf. JÁ DIZIA MINHA AVÓ: "QUEM COM PORCO ANDA, FARELO COME".

  3. Não será necessária uma PEC para acabar com os mandatos vitalícios (terceiro parágrafo). Apesar do excelente texto, a autora deve saber que os mandatos estão limitados à idade de 75 anos de cada ministro. Se bem que, nos casos dos nomeados mais recentes, eles ficarão na Corte por muito tempo.

  4. Concordo com a revolta, o Dino é mais uma péssima aquisição à Corte, ainda que o saber jurídico não possa ser contestado, conforme já apontado por jornalista deste veículo. Só me espanta que só agora ocorra essa reação. Não vi na assim com o Zanin, com o André Mendonça, Toffoli, só pra ficar nos mais bizarros. Tá faltando imparcialidade. Fora Dino...sqn... infelizmente.

  5. Dino, pelo seu comportamento de total apoio ao ex presidiário, seu comportamento pró narcotráfico e esquerdista, será muito mais do que uma gota 'água, será um tsunami para implantar uma ditadura comunista no Brasil!

  6. As reformas que entendo que fariam diferença no STF retirar do STF o poder para julgar casos concretos. Casos concretos, só STJ. Estabelecer mandatos não seria positivo. Imagine a insegurança jurídica (que já é alta) frente a um STF modificado a cada 10, 15 anos?

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