DivulgaçãoO candidato libertário: ele precisa conquistar os eleitores ausentes no primeiro turno

As saídas para Javier Milei

Peronismo e kirchnerismo são definições claras do populismo, do qual a América Latina já está farta
27.10.23

Será que Milei será capaz de reverter o cenário eleitoral posto no último domingo (22) e derrotar Sergio Massa no segundo turno das eleições presidenciais da Argentina? Para que isso ocorra, dois fatores são essenciais. O primeiro já está acontecendo, que é a aliança da direita contra a corrente peronista, que foi concretizada com a declaração de apoio de Patricia Bullrich, terceira colocada no primeiro turno eleitoral e representante do governo Macri, ao candidato libertário. O segundo, e mais desafiador, depende da estratégia de campanha a ser tomada por Milei: se trata de levar o seu discurso mais ao centro buscando a moderação nas suas pautas para que mais argentinos se sintam representados nessa coalizão. Essas duas saídas têm obstáculos notáveis no caminho.

Fazendo uma breve retrospectiva, o primeiro turno encerrou contrariando as pesquisas prévias e concluiu com Sergio Massa, o ministro da Economia do atual presidente Alberto Fernández, como o primeiro colocado, com 36,68%. Javier Milei, a grande novidade destas eleições devido ao seu discurso libertário, apesar de ter liderado as primárias, encerrou o segundo turno com 29,99% em segundo lugar. E em terceiro lugar, ficou a candidata de centro-direita, Patricia Bullrich, que representa o governo Macri, obtendo cerca de 24% dos votos.

Nesta quarta-feira (24), a terceira colocada que ficou de fora do segundo turno declarou apoio ao segundo colocado, consolidando uma aliança da direita anti-kirchnerista que pode mudar os rumos do país no segundo turno, a ser realizado no dia 19 de novembro. Essa declaração de apoio veio após uma reunião com lideranças de seu partido, contando com o respaldo do ex-presidente Macri. “A urgência nos impede de permanecer neutros diante do perigo da continuidade do kirchnerismo sob a liderança de Sergio Massa“, disse Bullrich em entrevista coletiva.

Além disso, um fator que também pode ser decisivo é a surpreendente taxa de ausência de eleitores, que ultrapassou 30%, marcando o maior índice na história da Argentina. No país, assim como no Brasil, o voto não é opcional e por isso o número é tão alarmante. No entanto, essa situação pode ser um trunfo para quem estruturar sua campanha estrategicamente para conquistar os eleitores ausentes no primeiro turno. Para isso, é fundamental usar o extremismo do adversário a seu favor, já que ambos os candidatos estão em polos ideológicos completamente distintos. E o apoio de Patrícia aliado a essa estratégia pode ser a única saída para Javier Milei.

Ao analisar o perfil de cada um dos candidatos, percebemos que Milei, que ganhou destaque devido ao seu discurso exageradamente libertário, com declarações a favor da venda de órgãos, por exemplo, venceu as primárias e se manteve como favorito nas pesquisas justamente devido ao perfil extremista que foi desenhado. No entanto, isso não foi suficiente para mantê-lo na liderança quando foi necessário atingir um público maior do que ele já havia conquistado. Isso ocorreu porque, para alcançar um público mais amplo, também é necessário considerar aqueles que não se identificam com as ideias libertárias, mas não concordam com o peronismo. Quando Milei optou por manter o discurso extremista mesmo fora das primárias, ele não conseguiu conquistar todo o eleitorado necessário, já que muitos não se sentem representados por suas declarações.

Vale lembrar que, na fase eleitoral anterior, Patrícia Bullrich criticou publicamente Milei ao longo da campanha, considerando suas ideias “perigosas e ruins“. Patrícia processou criminalmente Milei, que a acusou de “ter colocado bombas em um jardim de infância” quando atuava como guerrilheira. Nessa nova fase, Patrícia afirma ter se reconciliado com Milei para combater o “mal maior“. Essa aliança, portanto, representa a definição mais clara da coalizão antikirchnerista, que deve também envolver a moderação dos discursos.

Quanto a Sergio Massa, não seria surpreendente construir uma estratégia para afastá-lo do eleitorado moderado, uma vez que ele é o representante do peronismo, corrente precursora do kirchnerismo, que são as mais claras definições do populismo do qual a América Latina já está farta. Ao observar a vitória de Massa nesta etapa eleitoral, percebe-se que essa corrente política enfrenta um de seus momentos mais desafiadores, registrando sua menor votação em 40 anos. Embora boa parte dos argentinos esteja historicamente alinhada com ideais mais próximos à esquerda, a votação reflete uma tendência de enfraquecimento dessas crenças no panorama político do país e o crescimento do público moderado e de direita.

O cenário vivido pela Argentina, que conta com a economia enfraquecida principalmente por causa dos péssimos resultados advindos de governos de esquerda, pode ter uma única solução, que é a eleição de Javier Milei. Entretanto, para essa concretização, muito trabalho há de ser feito e já começou com o apoio de Patrícia ao candidato libertário. Afinal, estamos falando de mais de 20% do eleitorado que apostou nela como a próxima presidente. Além disso, mais 30% de votos estão em jogo, tendo em vista os ausentes no primeiro turno. Por isso a moderação é tão importante: para buscar esses eleitores que não foram às urnas. Ou seja, estamos falando de mais da metade da população argentina, quando se considera também os votos de Milei, que podem se unir contra a continuidade do poder na mão da esquerda. A América Latina ainda pode viver um respiro.

 

Anne Dias, advogada, Presidente do LOLA Brasil e Diretora do Programa de Núcleos do LOLA Internacional (Ladies of Liberty Alliance)

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  1. Para frente e para o alto, "hermanos". Chega de peronismo populista e enriquecedor dos que governam. Triste exemplo para ser seguido do populismo do atual governo brasileiro.

  2. Boooa Anne! Expôs com perfeição o dilema dos hermanos. Creio que o Milei vai baixar o tom e falar menos bobagens daqui pra frente. Se ele se juntar a meia-dúzia de bons técnicos, ele arruma aquela zona!

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