Arte/Crusoé

Orlando D’Adamo: a Argentina entre a certeza da inflação e um salto no vazio

O analista de opinião pública argentino explica que comportamento agressivo de Javier Milei favorece o peronista Sergio Massa
27.10.23

O analista de opinião pública argentino Orlando D’Adamo, diretor do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano e professor da Universidade de Buenos Aires, acredita que o segundo turno da eleição Argentina será muito disputado, com o peronista Sergio Massa e o libertário Javier Milei aguardando a contagem da última mesa.

D’Adamo afirma que as previsões de que Sergio Massa não conseguiria ganhar mais votos, uma vez que ele é o atual ministro da Economia e o país enfrenta uma inflação de 140% ao ano, podem ser revistas, uma vez que Milei tem gerado muita incerteza entre os eleitores.

Se o rival de Massa não tivesse a personalidade de Milei, e fosse uma pessoa mais equilibrada, mesmo que tivesse a sua ideologia política, seria muito mais fácil [para esse desafiante]“, diz D’Adamo.

Para o analista, que também é diretor da Communicatio, uma consultoria de comunicação estratégica e opinião pública, Milei ter conseguido menos votos no primeiro turno que nas primárias partidárias de agosto mostra que o libertário alcançou um limite de saturação.

Entre os muitos erros cometidos por Milei estão atacar o papa Francisco e ameaçar romper relações com o Vaticano. O papa, que é argentino, é uma das pessoas mais populares no país. Uma deputada do grupo de Milei também disse que os homens que tiveram a paternidade reconhecida por exame de DNA não precisariam cuidar da criança caso não tivessem sido consultados sobre a decisão de seguir adiante com a gravidez. Outro item foi a defesa da livre compra e da venda de armas para cidadãos, ideia que foi defendida pelo deputado Eduardo Bolsonaro em um canal kirchnerista na véspera da eleição.

As pessoas começaram a se perguntar como seria se esse senhor [Milei], com essa estabilidade emocional e somente 35 deputados, viesse a governar o país“, diz o analista.

D’Adamo também comentou a campanha de medo de Sergio Massa, que não só propalou que subsídios serão cortados em uma eventual vitória de Milei, como ainda usou a máquina pública para fazer isso: ao passar o bilhete nos ônibus, os argentinos liam em uma tela o valor atual da tarifa e um valor catorze vezes maior, de quanto seria no caso da vitória da oposição. “Do ponto de vista ético, considerando que Massa seguiu como ministro, não acho que ele poderia ter feito isso. Mas, do ponto de vista do impacto na opinião pública, acho que foi muito eficaz“, diz D´Adamo.

O analista afirma que as manifestações agressivas de Milei afastaram muitos eleitores, que buscam previsibilidade. “Para nós, argentinos, a inflação é uma certeza, porque sempre vivemos com aumento de preços. Então, acho que muitas pessoas pensam que a inflação, ao menos, é algo conhecido, enquanto Milei seria um salto no vazio“, diz D’Adamo.

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