Foto: ReproduçãoRita Serrano, a presidente da Caixa demitida momentos antes de evento do governo Lula por "mais mulheres no poder"

Lule é mulher negre e trans

27.10.23

Confesso: não consigo deixar de rir a cada vez que os ditos progressistas tentam passar pano para Lula sempre que nosso Deus-Sol toma alguma medida meio complicada de classificar como progressista. O último caso, não sei se vocês leram, foi o da presidente da Caixa, nesta semana: Sua Lulidade finalmente cumpriu o que combinara com Arthur Lira e tirou Rita Serrano da chefia do banco estatal, para pôr um nome mais ao gosto do cacique do Centrão.

O problema é que o Ministério das Mulheres havia planejado para o mesmo dia da demissão o lançamento de um programa chamado Brasil sem Misoginia, que tem entre seus objetivos, abre aspas, “apoiar mulheres em espaços de poder e de decisão”, fecha aspas. E a cerimônia seria, ora vejam, no auditório da própria Caixa em Brasília — mais ou menos uma hora depois de a mulher que presidia o banco ter sido ejetada do seu “espaço de poder e de decisão”  para dar lugar a um homem apadrinhado por Lira. A solução foi correr para arranjar outro lugar para o evento, que acabou transferido para o Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ninguém rebatizou o programa com um nome mais coerente, algo do tipo “Brasil Só com um Pouquinho de Misoginia, Quase Nada, Nem Dói Muito”.

É difícil considerar isso um caso isolado quando a gente lembra que esse governo também trocou a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, por Celso Sabino — e não pelas acusações de ligação dela e do marido, o Waguinho da Daniela, com milícias do Rio; isso só era um problema no passado longínquo, quando o pessoal achava um horror haver milicianos no governo —, além de bloquear Ana Moser para entregar o Ministério do Esporte a outra estrela do Centrão, o glorioso André Fufuca. E nem falamos ainda da escolha do substituto de Rosa Weber no STF, que dizem estar entre Flávio Dino e Jorge Messias, nenhum deles (em tese) mulher. O próprio Lula já declarou, com todas as letras, que o critério de escolha para a vaga não vai ser diversidade (não disse, mas todos sabem, que o critério fundamental será o garantismo: ou seja, garantir nunca prendê-lo).

Um argumento razoável é alegar que não há como um senhor de quase 80 anos formado no sindicalismo, o que é a própria definição de esquerda old school, virar desconstruidão de uma hora para outra. Mesmo assim, talvez esse Lula macho-tóxico-porém-esclarecido pudesse se esforçar um pouco mais para cumprir o programa do seu partido e até do seu governo, como no caso do Brasil sem Misoginia. E um argumento totalmente irrazoável é dizer “com o Bolsonaro seria pior”: Jair Bolsonaro é a definição canônica de sarrafo baixo. Até um pote de iogurte vencido seria melhor — ou menos prejudicial — que ele na Presidência.

Nada disso importa, porque certa militância vai continuar tratando Lula como se ele fosse Lule, mulher negre e trans, ou dando a ele carta branca para fazer coisas pelas quais qualquer outro homem branco em posição de poder seria cancelado. A esquerda continuará no seu papel de emitir carteirinha de minoria e cassar os transgressores, enquanto a direita fiscaliza o que as pessoas fazem com seus orifícios; cada um com sua ditadura no bolso. Quanto ao governo do Deus-Sol, nem toda a produção têxtil da China vai dar conta do pano necessário.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Desta vez a disputa foi boa, no nível Simone Biles x Rebeca Andrade: tivemos George Santos, o único deputado americano com BO por 171 em Niterói (fora o resto da capivara), dizendo que era a melhor opção para a presidência da Câmara porque conseguia “mascar e andar chiclete” ao mesmo tempo (“chew and walk gum”). Para a glória do Brasil, ele foi atropelado por Carla Zambelli (foto), que mandou áudios pedindo ao hacker da Vaza Jato que descobrisse o endereço de Alexandre de Moraes — o que qualquer jornalista de Brasília deve saber — e depois alegou que era para a mãe enviar uma cartinha ao Xandão. Não resta dúvida: Zambelli é a nossa Rebeca Andrade da modalidade burrice.

 

Reprodução: Internet
 

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  1. Não adianta passarem pano para o Lula toda vez que ele faz merda. Já não tem como disfarçar a ruindade do governo dele. É o mesmo que ficar enxugando gelo.

  2. O Lula é um fanfarrão que só tem trabalhado pra aparelhar órgãos de governo pra se blindar e conseguir emplacar politicas de interesse assistencialista ou de interesse do Centrão. Será que veremos o Petrolão 2?

  3. É triste ver que continuamos patinando por conta de fãs que só admiram a figurinha de seus heróis., mas não tem o mínimo de inteligência para enxergar como são enganados e ainda acham bonito e defendem. Estamos vivendo essa polarização graças a esses eleitores que confundem ídolos de funcionários que nós elegemos para que correspondam às nossas expectativas. O povo briga agora para defender Lula e não admite que se cobre dele suas promessas de campanha. Cadê a cervejinha e a picanha, Lule???

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