O recrudescimento do identitarismo
Em janeiro de 2022 Antonio Risério publicou um artigo na Folha de S. Paulo intitulado “Racismo contra brancos ganha força com o identitarismo”. A reação foi imediata: vários outros artigos foram escritos, inclusive artigos difamatórios contra Risério, a maioria dizendo que racismo reverso não existe. Risério, porém, não teve a oportunidade de se defender mais no jornal. Em seguida, cerca de 180 jornalistas da Folha assinaram um manifesto em que acusavam o jornal de publicar conteúdos considerados racistas. Em reação, quase 800 pessoas assinaram uma resposta em apoio a Risério, em que afirmavam fazer “um apelo para que sua livre expressão seja respeitada”. Risério chegou a ser ameaçado de morte, como relatou ao jornal Correio de Salvador.
O fato é que o antropólogo baiano tocou num dos temas proibidos atualmente – no caso, o racismo contra brancos, chamado pela esquerda de “racismo reverso”. Numa sociedade democrática não deveriam haver temas proibidos, mas é que identitários também não gostam de democracia.
Disse Risério em entrevista ao jornal Correio: “O identitarismo hoje é o discurso do poder, mas os identitaristas fingem que são contestadores, subversivos. Quanto à linguagem, o que temos é uma tentativa de instrumentalização ideológica da língua, querendo obrigar a sociedade a adotar o discurso deles. Ou seja: ao projeto da ditadura do pensamento único, tenta-se sobrepor também uma ditadura linguística”.
Em setembro uma aluna que se identifica como mulher fez uma denuncia contra uma professora na Universidade Federal da Bahia por racismo e transfobia. A denuncia logo veio à público através da imprensa.
A professora a teria tratado com pronomes masculinos e dito que os comentários estavam “fora do conteúdo”. “Ela perguntou meu nome quando fiz o primeiro comentário e eu respondi. Ela disse: ‘acho que você está chateado’ e eu corrigi para ‘chateada’. Eu disse que estava sendo violentada”, contou.
Um audio, porém, registrou o acontecimento, e é um pouco diferente do relatado. A professora pede que a sala se concentre no debate do tema proposto. Dirigindo-se à aluna trans, afirma que a estudante não esteve presente na aula passada e não teria lido o texto. A aluna a rebate e reclama de ter sido excluída do debate.
Nesse momento, a estudante se exalta e passa a ironizar, em tom de voz alto, as falas da professora. “Eu li o texto, meu bem. Eu acho que diminuir o aluno por não concordar com o que ela quer seguir falando é difícil”, disse Liz no meio da discussão. Aparentemente nervosa, a professora diz que Liz estaria “chateado”. Neste momento, a aluna a corrige e diz que o certo seria “chateada”. “A sua curadoria está tão distinta que você não consegue nem me enxergar como mulher”, reclamou. Depois a aluna que se identifica como mulher voltou a interromper a aula, até que a professora se retirou e trouxe um funcionário para reclamar que estava sendo impedida de realizar a aula.
O professor Wilson Gomes reagiu ao acontecimendo dizendo: “A justiça-trans é o processo judicial mais célere e simplificado do mundo. Quem acusa ao mesmo tempo julga, condena, expede a sentença e se encarrega da punição”. E acrescentou: “O lugar mais insalubre para se trabalhar hoje, por razões de envenenamento ideológico, são as universidades”. O identitarismo termina levando ao justiçamento. Quando os grupo sociais se sobrepõe à nação, numa luta nos moldes da luta de classes, é esperado que isso aconteça.
Ainda em setembro, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, viajou de Brasília a São Paulo em avião da FAB e acompanhou o final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo. Ela é flamenguista e fez um vídeo dizendo que “esse é mais um passo no avanço da justiça social em todos os esportes” – a desculpa da viagem foi assinar uma ação do governo federal contra o racismo nos esportes. Em resposta às críticas, ela disse ser “inacreditável que uma ministra seja criticada por fazer o seu trabalho”.
Para completar, uma assessora do ministério fez uma postagem em rede social falando da torcida do São Paulo: “Torcida branca que não canta, descendente de europeu safade. Pior tudo de pauliste”. A assessora foi demitida.
O identitarismo deixou de ser ideologia de grupos fanáticos para virar política de governo. É a lacração institucionalizada.
Josias Teófilo é cineasta, jornalista, escritor e fotógrafo
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EU ACHO QUE SOU FANÁTICO. ESSE LIZ TEM "BILAU"? MESMO SE NÃO MAIS TIVESSE, AINDA ASSIM É HOMEM PORRRA!!!! E BARRAQUEIRO.
Excelente artigo. Realmente é preocupante o que está ocorrendo no país. Temos de começar a nos mobilizar para evitar que o quadro se agrave.
Nada de novo no front, apenas os seguidores de Louis Farrakhan saindo do armário. O Brasil jamais voltará a ser como antes, se você é ordeiro, pacífico e cultua valores tradicionais (você entende o conceito de tradição?) essa não é necessariamente uma boa notícia. Devemos entender este universo paralelo no qual mergulhamos como uma semeadura; lançar à terra as sementes deste universo paralelo foi opcional. Entrar nele é obrigatório. Game over.
É isso aí! Eu já estou me achando excluída por ser branca e de descendência europeia. Em breve serei atacada com pedras. E, devo acrescentar que fui professora por 35 anos em universidade particular, e conheço a diferença com os estudantes e professores das universidades públicas. Os pobres estão nas particulares, todos sabemos.
...Se não todos, a maioria. E as públicas repletas de estudantes de famílias abastadas. Professores das Federais sempre viajando. Quem assume? os professores auxiliares. Então por que as UF são tão conceituadas? Porque é o que todos dizem, então...todos aceitam e pronto.
O desgoverno do jumento Descondenado juntou um monte de lixo para compô-lo. O identitarismo é uma narrativa estúpida baseado no radicalismo ideológico.
A grande vantagem do vitimismo racial, de gênero e de classe é se eximir da culpa. O Fracasso não é culpa sua , e dos outros que não me deixaram subir. Mesmo sem estudo, sem inteligência e cheio de ódio, os justiceiros sociais se consideram merecedores !
Fodam-se os identitários. Viva a incorreção política!