Reprodução/redes sociaisEm São Paulo, o candidato Guilherme Boulos promete unir a esquerda normalmente esfacelada

Oi, cuidado, vem Operação Descuido aí!

Esquerda promove greve para eleger Boulos, candidato do PSOL, mas infernizou o dia do trabalhador pobre e só favoreceu sindicatos
06.10.23

A esquerda não pode se queixar da prodigalidade com que seu principal adversário no governo do Estado mais poderoso do país lhe tem favorecido no ano anterior ao das eleições para a prefeitura da capital paulista. As tempestades que desabaram nas encostas da velha muralha, a Serra do Mar, castigaram os pobres que se instalaram nelas para trabalhar nas mansões da burguesia instalada nas praias da rodovia Rio-Santos. Ao contrário do presidente da República, que teme escorregar na lama com seus pisantes de cromo alemão, o militar Tarcísio de Freitas deu o ar de sua presença, mas também não pode ser festejado por não ter feito nada além disso. Pior fez o chefe do Executivo federal, que preferiu viajar, viajar e viajar para o exterior, até para realizar seu projeto prioritário de um jato executivo com confortável cama de casal para chamar de seu ou de sua senhora, não importa. Pisada maior no coturno dos velhos tempos, contudo, deu o içado ao poder republicano por Temer e depois adotado por Jair Bolsonaro que não deu nenhum carão paternal na vingança do comando de sua Polícia Militar (PM), que massacrou pobres que se salvaram do afogamento, mas não escaparam das rajadas de metralhadoras de seus forças da ordem. Esses executaram penas de morte que a Constituição não permite como punição penal a qualquer crime nesta nossa caolha democracia de aparências.

Para felicidade ampla, geral e irrestrita do renitente candidato Guilherme Boulos, que promete unir a esquerda normalmente esfacelada, contudo, a tácita permissão à vingança dos oficiais da PM paulista pela morte do meganha Patrick Bastos, apesar de ser o mais grave, não foi o único pecado mortal do mais óbvio candidato bolsonarista a churrascos no jardim da Alvorada pós 2026. Menos letal, mas tão absurdo quanto foi o paulista ter de conviver ainda com o injustificável cancelamento dos livros gratuitos do Ministério da Educação federal. Aliás associado às impensáveis atribuições da abolição da escravatura ao pai da princesa Isabel, Dom Pedro Segundo, e a escalada do Atlântico Sul Serra do Mar acima para banhar inexistentes praias paulistanas. O cancelamento da vacinação contra HPV serviu ainda para provocar a impensável lembrança das 700 mil vítimas fatais da Covid sob patrocínio do líder-mor de Dom Tarcísio, o mito Jair, que, mesmo sendo Messias, não é mito por unção do Olimpo, mas por consagração do dicionário, que traduz o dissílabo com três sílabas. Mentira? Trapaça? Para completar o inferno no palácio do mais poderoso dos governadores contaria com a compacência negligente ou pouco inteligente de quem dele engoliu a falácia de que não recusou livros, apenas os substituiu por “material impresso”. Ou seja, apostilas, produções capazes de abrigar em suas páginas as cavalgadas das valquírias da pedagogia acima citadas e, sobretudo, de adotar a extinção dos direitos autorais, dando aos autores condições de moradores de senzalas ou de campos de concentração dos nazifascistas.

O que diria o espelho da madrasta de Branca de Neve diante da questão sem resposta do Branco de Neve: se há alguém mais estúpido ou negligente do que seu secretário da Educação, Renato Feder. Incapaz de uma grosseria, o espelho do padrasto esquivou-se de responder-lhe a questão com o pronome pessoal direto na segunda pessoa. Talvez isso tenha salvado o emprego do diligente combatente da contrainteligência do Partido Republicanos. Afinal, o desastrado secretário continua a postos.

E neste conto de bruxos, sem fadas, viriam personagens cabulosas: Camila Lisboa, que bajula a deposta Dilma usando o aposto de “presidenta”, se dispõe a comandar a Waterloo eleitoral de seu candidato, o apressado e incauto Guilherme Boulos. Na ânsia de repetir a cantiga da catraca livre que levaria há anos Dilma ao cadafalso do impeachment o improvável par de caras de pau deu a oportunidade de, segundo o colega Josias de Souza, de Freitas, do UOL, deixar de ser o chefão da inversão do escudo que fere em vez de proteger e da educação que mente em vez de instruir. A oportunidade seria a greve desnecessária e criminosa dos transportes públicos na terça 3. Em nada ela atingiria o governador, que se desloca de cadilaque ou helicóptero, mas só o pobretão que tem o luxo de gastar suas moedas no Metrô, no trem ou no ônibus. A bem da verdade, a greve que tirou os idiotas da inércia e os jogou no pântano poupou o óbvio alvo, o prefeito Ricardo Nunes, do MDB. Ao forçar algo que os sindicalistas dos revólveres na canela dos tempos de Joaquinzão e Zé Ibrahim chamariam de tiro n’água, atingindo os próprios pés submersos, felizmente para os atiradores bem longe do peito e do quengo.

A esquerda está contando herdar todos os votos que Fernando Haddad teve contra Tarcísio em 2022 para o governo do Estado na Paulicéia Dilacerada, como a chamou corretamente o poeta de Cajubi, Mário Chamie.  Essa é uma conta que só pode ocorrer em alfarrábios de doidivanas. O adversário tem nome, cargo e o poder que decidem  eleição. Não é invencível, fique claro. Mas deve estar bem calmo no silêncio de seu tálamo vendo as disparos longe das colinas do Morumbi. Ainda mais correndo o risco de se confundirem com os fogos que aclamaram o São Paulo Futebol Clube com o título inédito da Copa dó Brasil em seu quintal. Entre os rojóes uma bala chamada saco de feijão em mais um disparo da incompetente força de segurança do governo estadual sob qualquer bandeira, bandeirinha ou bandeirola, atingiu um pobre surdo-mudo, não tão branco como pretendia Marcelle Decothé, a ex-assessora da princesa da diversidade Anielle Franco. E que não pertencia à elite sindicalista, que, no governo Lula, com essa batalha de Itararé, não deixará escapar o próximo desmazelo. Aliás, quem será vitimado na próxima Operação Descuido?

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

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  1. podia era aprender escrever de forma concatenada e lógica, texto truncado, difícil e do qual não se extrai sequer qual seria a conclusão

  2. Fico pensando se ainda teremos a oportunidade de ver um canal aberto que traga tais artigos como o seu para que os comentaristas tentem explicar e ainda conseguir defender nosso fatídico Reino.

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