Yevgeny PrigozhinPrigozhin: um fascínora morto por um ditador - Foto: Lev Borodin/TASS

Marcado para morrer

Guerras, revoluções, golpes de estado eram a atividade do facínora Yevgeny Prigozhin, e atrocidades sem limites, seu estilo
24.08.23

O título acima parece com o de algum faroeste dos anos 1950, mas a semelhança com o que relata esta crônica termina aí.

Vamos por partes.

Costumo escrever esta coluna às quartas-feiras, mas ela só é distribuída aos assinantes no fim de semana.

Sempre corro o risco de o texto ficar obsoleto ou mesmo de se mostrar inverídico.

Para esta semana, eu pensava escrever sobre um dos três temas abaixo, que deixarei para outras oportunidades:

– Tipos de investidores e/ou especuladores, com as características de cada um.

– Lucas Paquetá, Luiz Henrique e Magno Alves. Usando como exemplo esses três jogadores de futebol, mostrar como eles lidam com as grandes somas de dinheiro que acumularam sem que ninguém tenha lhes ensinado como fazer isso.

– Como as pessoas devem se prevenir financeiramente para, na velhice, não passarem por privações.

Só que, na hora em que comecei a escrever, surgiu a notícia de que um Embraer Legacy caiu ao norte de Moscou e que a bordo se encontravam o líder e o segundo em comando do exército de mercenários Wagner, respectivamente Yevgeny Prigozhin e Dmitry Utkin.

Acho então que esse é o tema adequado para esta coluna.

Prigozhin foi de tudo um pouco:

Órfão de pai desde os nove anos de idade, aos 18 foi preso por furto, crime pelo qual cumpriu uma sentença de dois anos e seis meses.

Ao ser libertado, juntou-se a uma gangue, com a qual cometeu diversos crimes. Sua segunda condenação foi de 12 anos numa prisão agrícola de segurança máxima, de onde foi solto cumpridos três quartos da pena.

Sem conseguir, por motivos óbvios, um emprego regular, montou diversos negócios, começando, em Leningrado (atual São Petersburgo) com um quiosque de cachorros-quentes, de tão boa qualidade que as pessoas vinham de longe e faziam fila para saboreá-los.

Os passos seguintes foram sempre de sucesso e fortuna: delicatéssen, cassino, construção civil, importação e exportação.

Em sua atividade como dono de cassino, conheceu Vladimir Putin, então chairman do órgão estatal de fiscalização de jogos de azar.

Em 1995, Yevgeny Prigozhin montou um restaurante flutuante, o New Island, no rio Viatka, restaurante esse que adquiriu tal prestigio que seu dono serviu visitantes ilustres como os presidentes francês Jacques Chirac e norte-americano George W. Bush, além de seu habitué Vladimir Putin, mesmo quando esse assumiu a presidência da Rússia.

Yevgeny e Vladimir haviam se tornado amigos íntimos, tanto é assim que Putin obsequiou Prigozhin com um contrato para fornecer refeições para o exército russo.

Em um ano, Yevgeny faturou 1,2 bilhão de dólares. Logo, estava morando numa mansão em São Petersburgo que tinha até uma quadra de basquete coberta com dimensões oficiais e um heliponto.

Entre seus meios particulares de transporte, nada menos do que cinco aviões.

O oligarca não parou por aí. Chegou à conclusão de que o melhor negócio do mundo era luta armada e fundou um exército de mercenários, ao qual deu o curioso nome de Wagner.

Guerras, revoluções, golpes de estado eram sua nova atividade. E atrocidades sem limites, seu estilo, que incluía matar pessoas com golpes de martelo e arrancar olhos com colheres.

Quando a Síria se viu ameaçada pelo ISIS (Exército Islâmico) foi o Wagner que socorreu e salvou o ditador Bashar Hafez al-Assad.

A invasão da Ucrânia só ocorreu graças à aliança do grupo mercenário de Yevgeny Prigozhin com as tropas regulares russas.

Não se sabe (e talvez nunca se saberá) o que estremeceu a aliança de Putin e Prigozhin. Talvez ambição de poder, ou fracasso da invasão da Ucrânia, cuja derrota era prevista pelos russos para acontecer em uma semana.

Há dois meses, os soldados do Wagner partiram em direção a Moscou, possivelmente para depor Vladimir Putin, hipótese essa em que o mundo correria o risco de ter um facínora controlando o maior arsenal nuclear do planeta.

O certo é que hoje, quarta-feira (23), o Legacy de fabricação brasileira que conduzia Yevgeny Prigozhin e seu lugar-tenente foi abatido, muito provavelmente pelo disparo de um míssil terra-ar.

Alguém no solo filmou toda a queda e as imagens foram rapidamente divulgadas.

A lógica indica que Vladimir Putin queria que o mundo soubesse que o facínora estava eliminado.

Embora esta semana o mercado tenha se interessado mais pelo que Jerome Powell, chairman do FED, irá dizer (quando o caro o amigo leitor tiver acesso a este texto Powell já disse) no Simpósio de Jackson Hole, a morte de Yevgeny Prigozhin, independentemente de quem a provocou, foi um alívio para o mundo, no qual o mercado financeiro se inclui.

Eliminar adversários políticos é uma característica de Vladimir Putin, herdada de seus antecessores, desde que seu xará Vladimir Lênin assumiu o poder em 1917.

Aliás, começou antes disso, quando nobres da corte do czar Nicolau II eliminaram o feiticeiro Grigori Rasputin. E continuou no longo “reinado”  (1927/1953) do tirano Joseph Stalin, que mandava fuzilar qualquer suspeito de atividades contrarrevolucionárias.

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  1. Pois é, MÓÓÓÓRRÊU!!!!..... 😆😆😆😆😆😆... e já foi tarde!!! Agora falta dar o fora da existência, o outro crápula psicopata que o assassinou, entre tantas outras vítimas de uma kilométrica lista. É a festa antropofágica dos canalhas!!!!

    1. Que coisa tenebrosa é a perversidade dessa subespécie!!!!

  2. Quero ver o comportamento dos integrantes do Wagner. Será que vão concordar com a exigência de lealdade à Rússia? Papel aceita tudo.

  3. Inexplicável como esse facínora embarcou em Moscou para ir a São Petersburgo, conhecedor que é do que é capaz Putin, facínora como ele.

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