O que não te contaram sobre o movimento antirracista

Em livro recém-lançado, sociólogas questionam expressões como "racismo estrutural" e afirmam que a esquerda é "ditatorial" ao lidar com o tema
25.08.23

A primeira lei do Brasil contra o racismo, batizada com o nome de Afonso Arinos, foi assinada por Getúlio Vargas em 3 de julho de 1951, data que é considerada um marco da luta antirracista no país. Na época, a legislação previa penas de um a cinco anos de reclusão e multa para os condenados por práticas racistas. De lá para cá, muita coisa mudou —não apenas nas leis, mas nos próprios termos usados pelo público brasileiro nos debates sobre racismo.

Num país em que 87% das pessoas dizem haver preconceito racial, mas só 4% assumem abertamente ter atitudes racistas, o combate à discriminação continua sendo fundamental. Entretanto, expressões correntes como “racismo estrutural”, “lugar de fala” e “apropriação cultural”, têm problemas que prejudicam a discussão e o próprio enfrentamento da desigualdade racial.

Esse é o argumento do livro O Que Não Te Contaram sobre o Movimento Antirracista, das escritoras Geisiane Freitas, mestre em sociologia pela UFPB, e Patrícia Silva, pós-doutoranda em sociologia pela UFRJ. Na obra, de onde saíram os percentuais do parágrafo acima, Geisiane e Patrícia criticam a esquerda, que acusam de não ter real preocupação com o combate ao racismo, e figuras como o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos —que, para elas, não explica adequadamente o conceito de “racismo estrutural”  pelo qual é conhecido.

“A esquerda está sempre trabalhando com a relativização, impondo um conceito que não existe, querendo encaixar à força a realidade dentro do conceito que não existe e colocando seu lado tirânico, ditatorial para fora”, disse Geisiane em entrevista a Crusoé.

Patrícia, por sua vez, comentou: “Quantas vezes li em minhas redes sociais que não sou negra porque sou católica. Eu sou negra, você gostando da minha ideia ou não”. Ambas também falaram das declarações de Lula em recente visita a Cabo Verde, quando o presidente disse ter “profunda gratidão” à África “por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão”.

Clique no vídeo abaixo para assistir à entrevista das sociólogas:

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  1. Muito esclarecedora e agradável essa entrevista com essas duas estudiosas do problema do racismo no Brasil. Abrangente, mostra a enorme confusão que está instalada, em que se mistura o racismo em si com teorias e movimentos marxistas. É mostrado como a esquerda se apropriou indevidamente da bandeira contra o racismo, mesmo que alguns dos seus membros proeminentes seja visivelmente racistas.

  2. O tal "lugar de fala" é simplesmente uma forma traiçoeira de certos grupos para tentar ter um monopólio sobre "a verdade". Só eles "teriam autoridade para falar de algum assunto". Simples manifestação de ditadores enrustidos. Infantil.

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