Foto: Ricardo Stuckert/PRGeraldo Alckmin, Lula e Rui Costa durante reunião minsiterial em abril; o governo externo do PT é diferente do interno

Um governo dentro do governo

O governo interno é do PT e seus aliados de esquerda; para que ele realize seus projetos, forma-se outro governo, externo, via negociação de cargos
04.08.23

O noticiário e as análises políticas versam hoje, invariavelmente, sobre o suposto direito divino do presidente da República de fazer maioria no Parlamento e de acomodar o Centrão para conquistar, mesmo que de modo pouco decente, tal maioria. E aí começa a festa de especular sobre indicações de ministros e de titulares para outros cargos no governo. Na imprensa, quase ninguém pergunta o que os novos indicados vão fazer, quais os seus planos para as pastas que assumirão. Nem se pergunta para que o governo tanto quer maioria, na ausência de propostas.

A explicação para esse desarrazoado é simples. Há um governo dentro do governo. O governo que conta de verdade (o governo estratégico) é o do PT e de seus aliados mais próximos de esquerda (como o camarada Dino). É para que esse governo interno possa realizar seus projetos, muitos dos quais também não anunciados (justamente, talvez, por serem estratégicos), que o governo externo (o governo tático) está sendo formado na base da negociação por cargos, emendas, verbas e outras vantagens. E aí tanto faz quem entra ou quem sai, desde que entregue votos no Parlamento e não atrapalhe o arranjo para viabilizar o funcionamento (em parte visível, em parte oculto) do governo estratégico.

Agora temos o caso momentoso da indicação do presidente do IBGE. Aqui não se trata do governo externo, e sim do governo interno. É ilustrativo para mostrar com que grau de desprezo Lula e o PT tratam o governo externo. O problema maior da nomeação de Marcio Pochmann nem tem a ver com ele (um doidivanas da esquerda marxista da Guerra Fria), e sim com a prática hegemonista do PT de aparelhar o Estado, impor sua vontade e desrespeitar seus aliados.

É batata! Aliados do PT são sempre mortos ao final. Sim, o PT faz alianças não porque isso seja correto e normal na prática democrática — por ter consciência de que uma força política sozinha não pode dar conta de captar, nem expressar, a diversidade política da sociedade —, mas apenas para ficar mais forte e, alcançados seus objetivos particulares, matar seus aliados ao final. Uma dessas aliadas, já com a morte prenunciada, se chama Simone Tebet: aquela que só é mantida como enfeite da inexistente frente ampla. Mantida, esclareça-se, enquanto continuar se subordinando.

O PT segue a máxima autocrática: os inimigos (em geral construídos) o fortalecem, os aliados o enfraquecem. Aqui se revela por que o foco do PT não é extirpar os bolsonaristas. Isso é só no discurso (de Lula). Uma minoria bolsonarista sectária é providencial para os planos do PT, para manter viva a polarização “nós contra eles”. O foco é, na verdade, tirar o oxigênio dos democratas liberais, para que eles virem aliados subordinados do partido. Uma legião de Simones.

Sim, parece evidente hoje que Lula não vai pacificar o país, como falsamente prometeu, e sim investir cada vez mais na guerra do “nós contra eles”, mantendo vivo o bolsonarismo como pretexto para inculpar qualquer oposição, mesmo democrática, por tentativas de golpe de Estado, acusando todos que a ele não se subordinam de fascistas ou neofascistas. No dia em que Simone deixar de se subordinar — se é que isso ainda pode vir a acontecer —, ela virará automaticamente fascista.

Tudo isso decorre de uma farsa que está sendo construída. Nosso presidente e o seu partido são populistas e, como tais, acham que nada deve ficar no seu caminho. Lula perdeu as eleições em quatro das cinco regiões do país, venceu por menos de 2% dos votos, mas arrota como se tivesse sido consagrado pelo povo do Brasil inteiro com mais de 80% dos votos.

A farsa de Lula e do PT é jogar com a força que não têm. Por isso querem exterminar aqueles (como os democratas liberais) que, não se conformando em ser subordinados, são capazes de denunciar a farsa. E tudo para quê? Ora, para que o governo interno (francamente minoritário) possa continuar a implementar sua estratégia (contra a vontade política coletiva). Vejamos alguns exemplos.

Lula e o PT não vão recuar de suas propostas insanas de aliar o país ao eixo das grandes autocracias do planeta contra a coalizão das democracias liberais, de apoiar as ditaduras de esquerda e os governos parasitados por forças neopopulistas amigas.

Lula e o PT não vão desistir de querer mandar em tudo, mantendo uma luta sem quartel e sem sentido contra a autonomia do Banco Central, das agências reguladoras e de outros órgãos de Estado.

Lula e o PT vão continuar usando o BNDES, a Petrobras e outras estatais para fazer (a sua) política, atropelando as boas práticas empresariais e de mercado.

Lula e o PT não vão cortar gastos e aumentar a eficiência da máquina estatal, e sim, ao contrário, gastar mais para forçar um voo de galinha do PIB que garanta a Lula mais uma reeleição.

Lula e o PT não vão sossegar enquanto não transformarem a imprensa em uma espécie de assessoria de imprensa, incorporando-a como peça do seu esquema de governabilidade. Para tanto, o seu movimento principal é extirpar dos grandes e pequenos meios de comunicação (tradicionais e sociais) os democratas liberais e todos que ousarem expressar posições críticas ao governo. Percebem-se sinais (ainda fracos, mas não tanto) de que isso já está ocorrendo.

 

Augusto de Franco é escritor

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  1. Simone Tebet sabe que Lula era chefão do Mensalão e Petrolão, sabe dos desperdícios e desvios do PACs, do inchaço que promove no funcionalismo público, etc. Está interessada apenas em manter-se em evidência. Só não sei até onde vai engolir sapos.

  2. Lula, por que vc não muda radicalmente sua infantil obcessão contra os Estados Unidos da América do Norte e não começa a esquecer da política, fofocas, ódios e vinganças? Passe a pagar regiamente aos professores e diretores de escolas, universidades e demais funcionários do sistema educacional. Invista pra valer em educação, conhecimento, cultura e artes. Nada de fundo partidário, orçamento secreto e dinheiro para os puxa-sacos. Faça esse sacrifício pelo Brasil, p/ seus netos e descendentes...

  3. Nunca vi na minha vida toda (estou com 55 anos), uma imprensa tão passadora de pano como agora. Uma vergonha.

  4. Parabéns Augusto de Franco, você captou, como um general em guerra contra seu inimigo, a suja e corrupta estratégia de quem é um traidor(sempre foi) do Brasil. Fatos lamentáveis que mostram que nossos sistemas político e jurídico não prestam para trazer progresso e prosperidade ao nosso país. Estão preocupados somente em exercer e usufruir do poder para suas próprias satisfações pessoais, esquecem do Brasil e seu povo. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz, como disse o grande Gonzaguinha.

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