Foto: Balima Boureima/ ReutersManifestantes dão apoio aos militares golpistas no Níger: "Viva a Rússia"

A influência russa na África

Crise no Níger pode ampliar a presença da Rússia em uma região crítica da África, às custas do Ocidente
04.08.23

O avanço da influência da Rússia além do Mediterrâneo pode levar 15 países à guerra a partir da próxima semana na África Ocidental, uma das partes mais populosas do continente. O motivo é o golpe de Estado da semana retrasada no Níger, um país do tamanho do Pará em área e de Minas Gerais em população. A junta militar responsável por depor o presidente Mohamed Bazoum, eleito democraticamente, tem de sair do poder até domingo, 6 de agosto. Caso contrário, o principal bloco regional, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), promete retaliar. Segundo nota oficial, a CEDEAO “tomará todas as medidas necessárias”, o que inclui o uso da força. Em escalada, dois outros regimes de exceção vizinhos, Mali e Burkina Faso, anunciaram apoio militar à junta nigerense em caso de intervenção.

A crise no Níger envolve uma disputa de narrativas sobre o colonialismo europeu. Como a maioria na África Ocidental, o país é ex-colônia da França. Mais de meio século de dominação, que se estende até hoje em algumas áreas, como política monetária, gera ressentimento. “A principal causa do golpe é a divergência entre o governo e parte da alta cúpula militar, mais nacionalista e contrária à influência francesa”, diz Gustavo Feddersen, da Universidade La Salle. No último final de semana, milhares de nigerenses foram às ruas da capital, Niamey, em apoio ao golpe. Além de cartazes críticos à França, eles também erguiam bandeiras da Rússia. Moscou tem se apresentado como alternativa para o Níger, dependente de amparo na economia e na defesa contra grupos jihadistas. Na semana do golpe, Vladimir Putin sediou uma cúpula de integração econômica com dezesseis chefes de Estado de toda a África. E a milícia Wagner, braço militar paralelo do Kremlin e com operações na região, ofereceu ajuda à junta logo após o golpe.

O Níger é um importante aliado do Ocidente. O país está na linha de frente no combate ao jihadismo. A França e os EUA mantêm bases militares e cerca de 2.600 tropas no país, assolado pelo Boko Haram e por um braço local do Estado Islâmico. Apesar de narrativas vendidas por militares golpistas e pela Rússia, as operações dos governos com forças ocidentais têm contido o fundamentalismo islâmico na região. Atentados jihadistas cresceram no Mali e no Burkina Faso desde seus respectivos golpes. E as mortes de civis por fundamentalistas, militares ou milícias decolaram. Crises de segurança na região tendem a impulsionar a migração para a Europa. Outro desafio aos europeus, e algo específico do Níger, são eventuais cortes no fornecimento de urânio. O país responde por 20% das importações de urânio da União Europeia, que usa a energia nuclear como alternativa ao gás da Rússia.

A desestabilização de seus adversários não é o único ganho de Moscou com regimes militares na África Ocidental. A Rússia quer expandir a sua zona de influência em busca de aliados para superar sua dependência econômica de democracias ocidentais, comprovada com o impacto das sanções pela guerra na Ucrânia. Na cúpula Rússia-África, Putin prometeu exportar, pelos próximos meses, milhares de toneladas de grãos aos seus aliados no continente, incluindo nominalmente Mali e Burkina Faso. A Rússia já multiplicou 14 vezes as exportações de refinados de petróleo à África no último ano. “Os governos africanos são pragmáticos. Eles se alinham com quem pode lhes oferecer mais”, afirma Feddersen. A milícia Wagner também entra nessa parceria. Em troca de serviços na área de segurança, o grupo recebe licenças de exploração mineral.

O golpe no Níger é o quinto na África Ocidental em três anos, sem contar as tentativas fracassadas. O Mali teve dois golpes, em 2020 e em 2021, e o Burkina Faso, também dois, ambos em 2022. Além deles, a Guiné está sob junta militar desde 2021. Todos esses países são ex-colônias francesas. Não há evidência de participação russa direta, nem mesmo do grupo Wagner, em qualquer um desses golpes. Mas a Rússia operou como capacitadora. “Os militares passam a considerar o golpe viável quando percebem a possibilidade de apoio russo para manter o regime”, diz Feddersen. Todos esses países têm instituições democráticas frágeis e sofrem com corrupção. Isso facilita a ascensão do autoritarismo, o que interessa à Rússia.

Um sinal do avanço da influência russa sobre a África apareceu em março do ano passado, quando a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução para condenar a Rússia pela agressão à Ucrânia. Dos 54 países do continente, 26 não apoiaram a resolução.

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  1. São verdadeiras histórias de puro horror as dos colonizadores na África. As histórias de barbárie são as de todos eles: ingleses, franceses, portugueses e as dos + recentes aproveitadores. Sim, pq nenhum deles jamais tomou a iniciativa de proporcionar a esses povos em gde parte ainda tribais, o fundamental: educação e saúde. Isso, é claro, pq interessa aos colonizadores manter os colonizados na ignorância e fragilizados em sua saúde, o q facilita a exploração das riquezas e pessoas desses países

    1. É essa a fórmula milagrosa que cataliza a libertação e o desenvolvimento: A PROMOÇÃO HUMANA 'ampla, geral e irrestrita', o terror dos ditadores e exploradores de todos os naipes e vertentes e a salvação de todos os cidadãos.

    2. Embora o que já fazemos não seja incipiente mas, ainda em pequena proporção, é o que deve ser feito por nós BRASILEIROS e demais cidadãos e governos dos jovens países: proporcionar e colaborar com a promoção humana em todos os sentidos de numerosos agentes africanos, para que estes mudem a face de seus países e continente, para que possam confrontar e independer dos colonizadores e, igualmente lutar contra seus próprios covades ditadores.

    3. O BRASIL tem proporcionado parte do que constitui essa verdadeira e edificante ajuda, permitindo que cidadãos africanos interessados, acessem conhecimento por exemplo nas atividades do agronegócio, obtendo conhecimentos em técnicas agrícolas e outros conhecimentos conexos, os quais retornam aos seus países com relevante bagagem de novas condutas e procedimentos de moderna tecnicidade que já demonstraram um retorno de bons resultados.

    4. É exatamente a mesma conhecida tática dos ditadores planeta afora. É preciso que os países não envolvidos nos antigos processos de colonização, os jovens países como o BRASIL, a Austrália e os EUA por exemplo, acolham imigrantes dos países africanos vitimados por conflitos em seu continente mas, proporcionando-lhes conhecimentos e tecnologia para que se tornem agentes transformadores da realidade dos seus países natais de maneiras diversas.

  2. O colonialismo imposto aos países africanos deixou marcar profundas. Parecem condenados às crises intermináveis e disputa de poder, vc om efeitos perversos pra população

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