Mateus Bonomi/Estadão ConteúdoArthur Lira cochicha com Lula: ele quer um ministério para quando deixar a presidência da Câmara

O superplano do Centrão

Trocas em pastas neste momento são apenas um primeiro passo: caciques do PP tentam convencer Lula a garantir o Ministério das Cidades para Arthur Lira no ano que vem
04.08.23

No Brasil, a história sempre se repete como tragicomédia. Nesta semana, Lula afirmou que “o Centrão não existe”, algo que seu antecessor Jair Bolsonaro também fez. Quando um presidente nega a existência do Centrão, é sinal de que está prestes a ceder a ele, mas teme as consequências de imagem.

Na semana que vem, o presidente petista deve definir qual ministério vai entregar ao PP de Arthur Lira e do senador Ciro Nogueira, que hoje se diz de direita, e para o Republicanos, do deputado federal e bispo da Igreja Universal Marcos Pereira. Os nomes estão definidos. O deputado André Fufuca (MA), líder do PP na Câmara, ficará com o quinhão destinado ao partido; Silvio Costa Filho (PE) vai se aboletar no feudo destinado ao Republicanos. Com esse rearranjo na Esplanada, o governo federal espera ter até 300 votos na Câmara, para aprovar seus principais projetos.

As ambições do Centrão, no entanto, vão além. Está em curso um plano secreto para que o PP, especialmente, se alinhe de vez ao governo Lula. O estratagema envolve diretamente o atual presidente da Câmara, Arthur Lira, o deputado federal licenciado Ricardo Barros e até integrantes do União Brasil, hoje liderado pelo deputado Elmar Nascimento.

Esses caciques pretendem garantir que, quando deixar a presidência da Câmara, no final de 2024, Lira tenha um ministério para chamar de seu. Seu correligionário Ricardo Barros o sucederia no comando da Casa e o União Brasil emplacaria um deputado à frente da Codevasf, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, que tem um  orçamento bilionário e é responsável por tocar obras de infraestrutura na região Nordeste (além de ser fonte frequente de suspeitas de corrupção).

Nas negociações entre Lula e os chefões do PP, a questão da sucessão na Câmara ganhou proeminência. No começo deste ano, Lira se reelegeu com votação recorde para o posto que ocupa. Ele mantém ascendência sobre um grande número de parlamentares. Mas o que acontecerá em 2025, quando o seu segundo mandato se encerrar? O alagoano não quer se tornar um novo Rodrigo Maia, relegado ao ostracismo depois de comandar a Câmara, fazendo inclusive um forte contraponto a Jair Bolsonaro nos dois primeiros anos de mandato do ex-presidente.

A solução que vai sendo arquitetada é entregar a Lira o Ministério das Cidades, quando ele tiver de voltar à planície no Congresso. A pasta tem orçamento de R$ 2,1 bilhões em 2023 — além de restos a pagar de 2022 da ordem de R$ 3 bilhões. A expectativa é que o ministério seja turbinado na reta final do governo Lula. Entre os programas sob a alçada do Ministério das Cidades está o Minha Casa, Minha Vida, que entrega chaves de casa própria em incontáveis cerimônias pelo Brasil afora.

Com um orçamento gordo e a possibilidade de que as entregas de obras sejam intensificadas nos dois últimos anos do governo Lula 3, Lira seria alçado à condição de grande executor de projetos, realçando seu perfil eleitoral e mantendo sua influência na votação de matérias importantes no Congresso. O problema, obviamente, está no reposicionamento do ministro Jader Filho e do seu MDB em outra pasta. Mas esse é um pepino que, segundo integrantes do PP, só cabe a Lula resolver.

O superplano do PP envolve o retorno de um outro personagem importante a Brasília: o deputado federal Ricardo Barros, considerado um hábil articulador político. Ele está licenciado do cargo e hoje é secretário estadual da Indústria, Comércio e Serviços do governo Ratinho Júnior (PSD), no Paraná.

Barros trabalha para ter as bênçãos de Lira na disputa pela sua sucessão, em 2025. Ele procura demonstrar que poderia unir, em um mesmo bloco, integrantes da situação e da oposição, do PT e do PL, além de apoios do Centrão, é claro. A boa vontade do PT seria conquistada com apoio à pretensão de Gleisi Hoffmann de ocupar a vaga que se abrirá no Senado, caso Sergio Moro tenha o mandato cassado nos próximos meses e uma eleição suplementar seja convocada. Barros também seria um nome natural nessa disputa, mas abriria caminho para a presidente do PT em troca de um “OK” para que concorra à presidência da Câmara.

Além de Lira e Barros, a negociação de Lula com o Centrão envolve o União Brasil. Lira tem um acordo tácito com Elmar Nascimento: apoiaria o seu nome para a sua sucessão. Os dois são bastante amigos. Acontece que Elmar não é exatamente o homem mais benquisto da Câmara. Há grandes ressalvas contra a sua candidatura em diversos partidos. O próprio Elmar tem ciência disso — e poderia ficar satisfeito se a influência que já teve sobre a Codevasf, no governo Bolsonaro, lhe fosse restituída. Ele sonha em ser responsável por um grande projeto de “reestruturação” da companhia.

A Codevasf tem atualmente um orçamento de R$ 2,7 bilhões, mas encontra dificuldades para gastar o dinheiro. Em seis meses, segundo o Portal da Transparência do governo federal, apenas R$ 372 milhões foram executados, pouco mais de 13% do total. Em uma eventual gestão Elmar, a ideia seria facilitar a execução desse orçamento com o apoio de integrantes do PP da Câmara. Só alegria.

O plano está bem traçado, mas os 17 meses que separam o momento presente do começo de 2025 são uma eternidade em política. Parlamentares influentes como Renan Calheiros (MDB-AL), por exemplo, tentarão impedir que o projeto seja levado a termo. Calheiros é inimigo de Lira e anda alardeando que o presidente da Câmara sofrerá desgastes com a Polícia Federal nos próximos tempos.

O Centrão também sabe que o PT é pródigo em rasgar contratos e não reconhecer acertos, mas conta com o desejo de Lula e da ala mais pragmática dos petistas de garantir a tão elusiva governabilidade no Congresso. Durante o governo Bolsonaro, Lira deixou claro que consegue entregar; no primeiro semestre de 2023, apesar de alguns tropeços, como a derrota na votação do PL da Censura, ele reafirmou a sua força. A bola está com o Planalto — que sabe, sim, que o Centrão existe.

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  1. E por falar nessa camarilha bandidalha, lá vem aí de novo a praga petralhice-bolsonarice do """juiz de garantias""" para lhes assegurar ainda mais vias de escape da punição mais efetiva e imediata possível!!!! Claro, agora já temos mais um novo ""agente amigo agradecido"", um corvo a mais na corvolândia pra proteger essa malta ampla geral e irrestrita de marginais de todas as vertentes."

  2. E por falar nessa camarilha bandidalha, lá vem aí de novo a praga petralhice-bolsonarice do """juiz de garantias""" para lhes assegurar ainda mais vias de escape da punição mais efetiva e imediata possível!!!! Claro, agora já temos mais um ""agente amigo agradecido"", um novo corvo a mais na corvolândia pra proteger essa malta ampla geral e irrestrita de marginais de todas as vertentes.

  3. OS POLÍTICOS DO PP NÃO SÃO NEM DE DIREITA NEM DE ESQUERDA. SÃO DE QUEM DER MAIS. CUSPO NOS POLÍTICOS

  4. Zema defende a união Sul-Sudeste dos 7 estados q compõem essa região, não contra o Brasil ou contra o Norte-Nordeste, mas sim p evitar o protagonismo de Lula e sua claque q apoia suas bobagens. O Sul-Sudeste representa 56% da população brasileira e o resto representa 44%. Está na hora de os governadores se manifestarem contra as posições antidemocráticas do Lula/PT, sem medo de represálias em R$ ou o que for. Não podem se calar. O que é correto, o que é verdade, a integridade nada valem p Lula!

  5. O Brasil foi obrigado pelo sistema STF + advogados do "Prerrogativas" + juízes corruptos + PCC a engolir o extremamente indigesto Lula da Silva. Narrativas construídas por elementos deste sistema c/ ajuda de parte da mídia cúmplice absurdamente descondenaram Lula e cassaram o mandato de um dos maiores heróis brasileiros, Deltan Dallagnol. Lula só fala e faz bobagens (Maduro, Putin, Ucrânia, Golpe contra dilma, Unasul, Brics, etc) Não vejo alguém reclamar! O Zema graças à Deus, falou! (continua)

  6. Quando teremos políticos honestos no comando desse país? Acho que nunca. Parece que nosso país está entregue à MÁFIAS desde sempre. Quando o povo vai votar em políticos honestos. Será que existem?

  7. No fim das contas, como sempre, o que menos interessa é o Brasil e os brasileiros. Nojo desse país de m.3.r.d.4! O negócio é torcer pra um meteoro cair em Brasília num dia em que todos os poderes estejam lá reunidos. Vamos continuar fu...d...dos, mas vai dar um contentamento!

  8. LIRA O FICHA SUJA DO PARTIDO PODRE DO OPORTUNISTA CIRO NOGUEIRA ,EX CHEFE DA CASA CIVIL DE BOZO .SÓ 🐀🐀no comando 🤮🤮🤮

  9. Muito bom artigo jornalístico no entanto as ressalvas finais (Renan; eternidade da distância política até 2025; "habilidade" em romper acordos) fazem crer ser um tiro de espingarda cartucheira, espalha chumbinho prá todo lado, uns aceitam o alvo. Misericórdia !!

    1. A matéria está muito boa embora mais pareça tiro de espingarda, alguns chumbinhos acertam no alvo. Se muitos deles acertarem, misericórdia..., o futuro não é promissor... Allauh al Akbar !!

  10. Até arrepia pensar no Lira com um ministério multi milionário nas mãos. É garantia de reeleição eterna para ele e pros seus apadrinhados (que serão da mesma laia decerto). Porém, tratando-se de Brasil, não sendo ele será outro igualmente desqualificado, para dizer o mínimo

  11. Plano terrível. Se funcionar, manteremos a raposa tomando conta do galinheiro. E nem poderemos esperar pela punição a corruptos, contando que está tudo aparelhado

  12. Quem acredita neste criminoso cínico? O Centrão foi criado pela escória política no desgoverno Sarney na desgraça da morte de Tancredo e achaca o erário há 38 anos pois ninguém desgoverna este fétido galinheiro sem ele ... a grande questão é saber se vão se vender e render ao projeto comuno-bolivariano em claro curso que leva o país ao caos e escravizará a nação e isto é mera questão de data ... felizes nós idosos e doentes graves, sofreremos menos no purgatório ou quiçá no inferno já à vista.

    1. O Centrão nasceu antes, seu líder foi o deputado Roberto Cardoso Alves e na CF de 1988 Já era aí sim um grupo maior, mais fisiológico e seu objetivo sempre foi o lascado erário ou o meu e o seu bolso.

    2. Centrão nasceu quando tivemos a Constituição de 88 e Ulysses Guimaraes era presidente da Câmara. Na época era a unição de vários partidos para ter quorum aprovar as emendas. Essa política de tomá lá, dá cá veio do FHC que passou a "abonar" os políticos que apoiassem o seu governo. Depois disso a coisa só piorou.

  13. Lamentável em tudo isso é que não se pode ler uma única linha em que essas excrescências demonstram qualquer preocupação com os problemas do país, cuidam apenas de garantirem as mamatas que gostam de fazer e de tirar benefícios delas.

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