DivulgaçãoNo Twitter, o escritor reclamou por ter perdido leitores ao declarar um voto inútil em Lula

Paulo Coelho já desistiu de Lula

O escritor mitológico parece ser totalmente incapaz de entender que as ideologias no separam, mas o que nos une é a trambicagem
31.03.23

Ainda não se completaram 100 dias de governo e Paulo Coelho já desistiu do presidente. “Décadas apoiando Lula, noto que seu novo mandato está patético“, escreveu ele. “Não devia ter me empenhado na campanha. Perdi leitores (faz parte) mas não estou vendo meu voto ter valido a pena“. É preciso mais do que misticismo e frases motivacionais para defender um político sem planos e sem escrúpulos. É difícil, até para um escritor mitológico e internacional, inventar novas variações para a mesma história.

Tudo começou em 2003. Antipetistas diziam que Lula não iria dar certo. Erraram. O que começou com uma propina de 200 mil dólares no escândalo da Lubeca, em 1989, só poderia passar pelo mensalão e terminar com chave de ouro no petrolão. Era um roteiro previsível. Mas como petista não sabe o que é modéstia, sempre que “atinge a meta, dobra a meta”, seguindo a lógica dilmaroussefiana. É por isso que ficamos na expectativa para saber qual será o próximo escândalo. Porque todo artista vai aprimorando sua arte no decorrer da vida, assim como os criminosos vão se aperfeiçoando na arte de roubar. E a meritocracia faz o resto: reúne todos no espetáculo que é assaltar o país.

Mesmo com a recusa de Paulo Coelho, não faltaram jornalistas e intelectuais tentando justificar as atrocidades ditas por Lula na última semana. Lula é o nosso Macunaíma. É capaz de cometer as maiores barbaridades e continuar sendo observado com o mesmo interesse com que os paleontólogos examinam o fóssil de um homem de Neanderthal.

Mas os antipetistas tinham razão pelo menos quando diziam, já em 2005, que Lula havia morrido politicamente. Se no primeiro mandato ele teve que fazer negócios com o Congresso, neste terceiro, com a reversal russa do orçamento secreto, é o Congresso que faz negócios com ele. E assim terminou a fantástica história do líder operário que surgiu como esperança para liderar o país, mas só conseguiu liderar os governos onde ocorreram os maiores esquemas de corrupção que já tivemos notícia. Agora, abrindo um novo capítulo, os personagens já demonstram estar “em busca do tempo perdido”, que, sabemos bem, não será proustiano e muito menos republicano.

Há quem diga que o problema é termos entrado numa fase de transição que nunca acaba. As velhas lideranças políticas vão encerrando suas carreiras, mas nada indica que surgirão novas ou melhores. Pelo contrário. Os brasileiros gostam de cultuar as mesmas histórias e os mesmos personagens. Gostam de acreditar que somos o país do futuro. Gostam de ficar esperando um líder messiânico que brotará do nada, bem no meio do povo. Gostam, enfim, de alimentar a crença de que, persistindo no erro, produziremos um acerto.

Mas no final, sempre voltamos à mesma história, cheia de momentos pitorescos, propinas e desvio de verbas. Os verdadeiros estadistas sempre quiseram construir grandes nações. Os bárbaros e os tiranos, poder para conquistar ouro, vinho, mulheres e aventuras. Já os nossos políticos, sempre modestos, querem apenas uma beiradinha no orçamento e um carguinho numa estatal.

O desfecho da nossa tragicomédia tem Paulo Coelho reclamando, no Twitter, por ter perdido leitores ao declarar um voto inútil em Lula. Já os lulistas, também no Twitter, vieram acusá-lo de ter aderido ao fascismo, enquanto os bolsonaristas retornaram à vida gritando “Faz o L”. Não duvido que Coelho seja sábio o bastante para ler o futuro nos búzios ou nas cartas de tarô, mas parece ser totalmente incapaz de entender que, na era da polarização política, o que nos separa são as ideologias, mas o que nos une é a trambicagem.

 

Diogo Chiuso é escritor e autor do livro O que restou da Política, publicado pela editora Noétika em 2022

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Como 2 mais 2 são 4, sempre a mesma historia, vamos primeiro privilegiar nossas familias, o resto pode esperar mais 4 anos

  2. Este trambiqueiro mostrou seu verdadeiro "eu", mentiroso, enganador, não somente neste episódio, mas também com seu apoio pró-Rússia desde o início da invasão da Ucrânia. A verdade nunca estará do lado de quem não tem ética nem compaixão. Quem quizer contato com o verdadeiro lado místico vá ler o Gita ou Aldous Huxley, Paulo Coelho é só mistificação...

    1. De fato, não dá pra acreditar em nenhum, mas é bom saber que o homem que vendeu mais de 85 milhões de livros traduzidos em vários idiomas, caiu na real! O cara é um capitalista nato e posa de progressista que acredita que q a solução é acabar com o regime q o sustenta desde *priscas* eras.

  3. O que, afinal, importa para os contribuintes brasileiros saber que o internacional Paulo Coelho perdeu a esperança em Lula? Para o escritor, tudo indica que foi um tiro no pé pois alega ter perdido alguns leitores. E para o Jararaca? Será que ele irá mudar seus planos de salvador da pátria, começar a governar e tornar-se o próximo personagem místico para que o escritor volte a apoiá-lo? Aguardem: “O místico e o Lula 3, a retomada.”

  4. Paulo Coelho saiu do armário, mas tem muitos outros que devem estar pensando o mesmo só que tem vergonha de admitir. Só vejo artistas se manifestando durante eleições, depois desaparecem. Agora então? Cadê os Caetanos, Chicos, os Che Guevaras Nutella das UFs? Estou cansada de ouvir gente tentando cobrir o sol com peneira, como Reinaldo Azevedo tem feito com "maestria". Mas, está cheio de bolsomínios de Internet (Lives, PodCasts etc.) que também fazem de tudo para exaltar o Mito.

  5. Em meu livro autobiográfico “O ciclo gestatório de um Homem”, em e-book na Amazon e em papel no Clube de Autores, eu classifico Lula não como Macunaíma, que também lhe faz jus, mas como um Pedro Malasartes, o matuto ladino.

  6. Diogo, perfeito seu texto. É tão simples a nossa realidade. Ladrões e políticos é o que temos. Ou seria melhor: Políticos ladrões? Quem sabe Ladrões Políticos? A maioria deles, entretanto, não se prepararam nem para serem vigaristas. O são por oportunismo. E nós, as vítimas? Bem, nós somos festeiros, e onde há festas há bobos.

Mais notícias
Assine agora
TOPO