Paulo Pinto/Agência PTGleisi tem a santimônia de quem se considera livre de pecado quando já meteu um pé no inferno

A arrogância petista não conhece equivalente

No ataque de Gleisi ao BC e na pergunta grosseira de Paulo Pimenta a uma jornalista, revela-se a soberba de um partido que convive mal com o discordância e o questionamento
31.03.23

Gleisi Hoffmann não perde tempo. No mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou a ata de sua mais recente reunião, a presidente do PT foi ao Twitter desancar o Banco Central. Eis seu tuíte de terça-feira, 28 de março: “Arrogância do BC de Guedes e Bolsonaro não tem limites: querem desacelerar ainda mais a economia e manter juros na estratosfera. O Brasil que se dane, segundo o Copom. E ainda fazem chantagem sobre regra fiscal. O Brasil não merece isso”.

Meu microconhecimento de macroeconomia não me permite julgar se o Brasil merece a taxa Selic de 13,75%. Mas pelo menos conheço o limite do meu conhecimento, ou da minha ignorância. Se Gleisi tem um tirocínio econômico mais apurado que o meu, ela não o demonstra no tuíte. Seus termos não são econômicos, mas políticos. E rasteiros.

O BC de Guedes e Bolsonaro”, diz ela, como a sugerir que o Banco Central deveria ser de Lula e Haddad (ou talvez somente de Lula). Só que a nova regra do jogo aprovada pelo Congresso em 2021 é a independência do Banco Central. Em tese, o BC, como órgão técnico de regulação da política monetária, não pertence a este ou aquele governante. (No plano simbólico, eu sei, o atual presidente da autarquia esculachou esse princípio quando foi votar com o uniforme da Horda Canarinha. Mas a compostura do cargo é uma abstração que poucos homens públicos compreendem no Brasil.)

Entre as 41 palavras do tuíte de Gleisi Hoffmann, a primeira delas capturou minha atenção: arrogância.

Pois não encontrei, nas mais de 3 mil palavras da ata do Copom, traço da tal arrogância. Como seria de se esperar de um órgão técnico, a prosa era mais árida que um deserto chileno. Faziam-se várias considerações equilibradas sobre fatores conflitantes – inflacionários e desinflacionários – no contexto doméstico e global. O comitê empregou a palavra “incerteza” oito vezes. E uma das incertezas era o arcabouço fiscal, cujo definição ainda não tinha data para ser anunciada quando o Copom se reuniu. Os conselheiros expressavam incerteza sobre uma política fiscal cujo contorno ainda era desconhecido, e Gleisi considerou que isso configurava “chantagem“. Vale notar que a ata reconheceu alguns bons sinais da parte do governo: “o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo”.

Em contraste com a letra fria e impessoal da ata, Gleisi é passional: “O Brasil que se dane, segundo o Copom”. Isso não é apenas uma forma contundente de discordar de uma decisão do conselho: é um ataque moral aos conselheiros. Roberto Campos Neto, presidente do BC, e os diretores da autarquia reunidos no Copom não estariam pesando a mão nos juros para evitar o mal maior, a inflação. Não, esses rentistas agem de má-fé, pois se deliciam com o sofrimento dos brasileiros.

É tentador afirmar que Gleisi comete a falta que acusa em seus inimigos. Mas isso não seria muito exato. O que vemos no seu tuíte não é a mera arrogância de quem se julga superior a seus adversários: é a santimônia de quem se considera livre de pecado quando já meteu um pé no inferno. Gleisi, a pura, não reconhece que a economia brasileira já se danou no passado recente, e que isso ocorreu sob a guarda do partido que ela preside. Aliás, quando fala na “arrogância” e na “chantagem” do Banco Central, ela repete os termos exatos que foram empregados um mês atrás por um economista do PT, em entrevista à Folha de S. Paulo: Guido Mantega.

***

A palavra “arrogância” pode ser usada com mais propriedade para definir o comportamento de Paulo Pimenta em entrevista recente à CNN. O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) tentava apagar o incêndio provocado por Lula quando este sugeriu que o plano terrorista do PCC para matar Sergio Moro e outras figuras do judiciário seria uma “armação”. Pimenta dizia que Lula não afirmou que o plano era uma invenção, e nem que a investigação da Polícia Federal sobre o caso era fajuta. O presidente estaria se referindo apenas à politização do caso feita por Moro.

A âncora Raquel Landim não comprou essa conversa para narcotizar bovinos castrados. Se houve uma armação de Moro e da juíza Gabriela Hardt, então a Polícia Federal, que investigava o caso há tempos, não estaria implicada também? Pimenta reagiu mal ao questionamento. “Você é jornalista?”, perguntou a Raquel. Sim, ela respondeu, formada pela USP. O ministro armou então uma pose professoral para explicar que um jornalista deve questionar tudo e todos. (E não era exatamente o que sua entrevistadora estava fazendo?)

A empáfia de Pimenta suscitou muitas críticas, como seria de se esperar. De novo, ele respondeu de forma atravessada, desta vez pelo Twitter. Sua pergunta, alegou o ministro, não pretendia desqualificar Raquel Landim. Foi apenas o modo “contundente” que ele encontrou para mostrar que a CNN, com suas “acusações e agressões ao presidente Lula”, conduziu não um debate, mas uma inquisição.

Quem viu a entrevista lembrará que, no final, entrevistadores e entrevistado despediram-se em bons termos. Raquel Landim agradeceu a participação de Paulo Pimenta no programa.

Me pergunto se Torquemada se mostraria tão afável com um interrogado que questionasse suas credenciais de frade dominicano.

***

A propósito da grosseria de Pimenta na CNN, Rodrigo da Silva, do canal Spotniks, levantou, em um fio do Twitter, uma instrutiva antologia de episódios em que o PT atacou a imprensa, incluindo casos que vão do assédio verbal à violência física. Em alguns momentos, Rodrigo da Silva insinua paralelos entre o mal-disfarçado desprezo que os petistas têm pela liberdade de imprensa e a agressividade hidrofóbica com que Jair Bolsonaro tratava os jornalistas.

Petistas, filopetistas e criptopetistas ficam ofendidos com esses paralelos. “Falsa equivalência!”, gritam. Entre os casos coletados por Rodrigo, porém, encontramos Lula afirmando, em 2021, que Bolsonaro tinha razão sobre a imprensa. “Tem crítica que ele faz que é correta”, declarou o petista ao UOL.

Na mesma entrevista, Lula comparou a Globo ao… nazismo!

Essa equivalência por acaso seria verdadeira?

***

Em um artigo publicado antes do segundo turno de 2022, com o título “O mal que Bolsonaro fez ao liberalismo“, lembrei uma agradável reunião de que participei em um boteco paulista, na qual um professor de esquerda e um economista liberal ortodoxo fizeram uma aposta sobre os rumos econômicos do terceiro governo Lula:

Foi no final de julho, em uma mesa de bar reunindo jornalistas, professores universitários, psicanalistas, economistas. Naquela altura, a eleição de Lula parecia quase certa, e ninguém esperava o resultado apertado que as pesquisas projetam enquanto escrevo. A aposta foi entre o homem que armou aquele grande encontro, um acadêmico da área de Humanas, e um conhecido economista que se definiu, jocosamente, como um faria limer. O professor previa que o terceiro governo Lula repetiria a licenciosidade fiscal que conduziu o país à recessão e a presidente petista ao impeachment; o economista especulava que um novo governo petista respeitaria o tripé macroeconômico. Para fulanizar o debate: o primeiro apostava que o ministro da Fazenda de Lula faria a linha Guido Mantega; o segundo, que ele seria mais parecido com Henrique Meirelles. O valor apostado foi módico: uma caixa de cerveja. No melhor espírito de fair play, decidiu-se que o árbitro da aposta seria o próprio economista, que afinal entende do riscado.”

Como hoje voltei a temas econômicos, tomo a oportunidade para revelar o resultado da aposta: o economista admitiu que sua avaliação estava errada. O professor acabou recompensado não com uma caixa de cerveja, mas com um jantar em um bom restaurante de São Paulo.

E a aposta foi decidida em dezembro, ainda antes do governo começar.

 

Jerônimo Teixeira é jornalista e escritor

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Gleisi ficou marcada pelo empenho em encher garrafas de gasolina para fazer coquetéis molotov na tentativa de invasão, vejam só, da Assembleia Legislativa do Paraná! Terrorista de grande incompetência, foi filmada pela polícia e a invasão frustrada fez muito barulho a troco de nada.

  2. A imprensa honesta precisa ser mais crítica com relação às merdis que o PT está fazendo. Mas mostrando isso com boas análises, e não usando a tática propagandista desses dois últimos presidentes do Brasil.

  3. Estamos perdidos! O Brasil de Lula continua a produzir disse que disse tanto quanto o Governo passado. Assim nunca chegaremos a lugar nenhum que preste. O Brasil espera trabalho e responsabilidade de nossos administradores...

  4. A Gleise é uma imbecil e o Pimenta é surrealista como ministro das comunicações é simplesmente um nécio obtuso com QI de ameba , além do que a educação passou muito longe dele. O episódio com a Raquel Landim despiu toda sua arrogância e incompetência.

  5. Arrogância, incompetência e a enorme vontade de esvaziar os cofres públicos estão no dna do partido/organização criminosa. A Amante/Coxa parece biruta de aeroporto e Paulo Pimenta é aquele verme que critica o Sergio Moro e a Lava Jato. essa corja nos levará à bancarrota.

  6. Pode somar burrice à arrogância (um par frequente). Gleisi prejudica a própria economia que diz defender, já que mostra que seu partido, que conduz o governo, não entende p* nenhuma de economia. O Pimenta foi tentar limpar a barra do chefe e borra ainda mais a pintura. Arrogância, burrice, ineptitude.

  7. Embora ninguém possa negar as manipulações de dados, as meias-verdades e as mentiras inteiras divulgadas pelo “consórcio de imprensa”, achei ótimo este artigo. Cabe ao brasileiro enviar ao lugar que merecem aqueles que tanto mal fizeram (e farão muito mais) ao país em sua cruzada anti-Bozo: a lata do lixo. Como antipetista de carteirinha declaro que votei no Bozo sem nenhuma satisfação, mas uma fagulha rara de lucidez me alcançou mostrando-me que o retorno do Sapo Vingativo só poderia dar m*.

  8. Quando Lula morrer ou for internado em um asilo, Gleisi, em sua enorme arrogância, radicalismo e mediocridade, deverá ser elemento chave na morte do PT.

  9. Perfeito seu texto, Jerônimo. Fico frustrada é de saber que mesmo lendo este artigo nenhum fanático petista seja capaz de fazer uma análise das suas "lutas" pela democracia "Luliana" ou PTeziana". Eles só entendem de vestir as camisetas de Che Guevara, desamassar suas bandeiras vermelhas (com detalhezinho da foice e martelo) e sair em manifestações que julgam serem contra o povo (pobre povo!) Não fazem mais do que isso. Não é à toa que daí se formam Gleisis e mais Gleisis.

  10. Gleisi é a cega encastelada do Planalto! Apenas enxerga o que quer, até onde a vista alcança. Só mesmo um partido como o PT para parir uma criatura dessas.

Mais notícias
Assine agora
TOPO