Agência BrasilO presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: ele será o responsabilizado na narrativa petista

O álibi de Lula 

O presidente já encontrou alguém para apontar o dedo. O baixo crescimento deste ano é culpa do Banco Central e dos juros altos
10.02.23

Foi em 20 de junho de 1952 que o então ministro da Fazenda Horácio Lafer assinou a criação do BNDE, o banco de fomento brasileiro.

Idealizado por, entre outras figuras, o economista Roberto Campos, o banco nasceu para canalizar o apoio americano ao desenvolvimento de infraestrutura e da indústria brasileira, em uma época onde a guerra fria ainda estava começando.

Exatas sete décadas depois, a família Campos, desta vez na figura de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (que também contou com seu avô entre os criadores, em 1964), volta a estar no meio de um debate que envolve juros, industrialização, bancos públicos e economistas da Unicamp.

Ao longo das últimas semanas, o presidente da República tem, como já admitiu, buscado criar uma narrativa alternativa à do mercado, que coloca no presidente do Banco Central a responsabilidade sobre o baixo crescimento econômico contratado para este ano.

Trata-se acima de tudo de um álibi. Lula sabe, desde antes de ser eleito, que o país crescerá pouco em 2023, 2024 e assim por diante. Não há mágica a ser feita. O crescimento depende acima de tudo de um aumento da produtividade, algo que não ocorre no Brasil há quatro décadas.

Para resolver a produtividade, há pautas urgentes, como uma reforma tributária que coloque a produtividade, e não o ganho fiscal, no centro das decisões do empresariado. O problema, entretanto, está no fato de que ainda que isso seja feito (e parece haver um entendimento de Haddad e equipe neste caminho), o resultado é de muito longo prazo. Não resolvendo portanto a narrativa de hoje.

Sobre o agora, Lula e seus assessores insistem que a questão se resume aos preços errados da economia, incluindo o preço do dinheiro: os juros.

Juros menores poderiam permitir que empresários invistam mais, criando assim mais empregos e crescimento. Um diagnóstico com nada de novo em relação àquele feito por Dilma Rousseff e sua equipe em 2011.

Sem um cenário externo favorável que lhe faça passar por Midas do crescimento econômico, Lula se vê “sem alternativas” na sua construção de narrativa.

A China, maior parceiro comercial brasileiro, teve em 2022 seu menor crescimento econômico em 30 anos. Os Estados Unidos estão em compasso de espera para uma recessão em 2023, enquanto a alta de preços de energia leva a Europa a desacelerar o crescimento econômico.

Por onde quer que se olhe no mundo há um problema de inflação e baixo crescimento, além de endividamento público.

No Brasil, Lula encontra resistência ainda por parte das legislações que criamos para tirar o país da grande depressão brasileira de 2014-16 (a consequência da análise de Dilma e seus assessores sobre preços).

Para piorar, tudo que Lula tem feito desde que venceu as eleições é contratar crescimento econômico menor.

De início, seu governo criou uma narrativa de que o país estava quebrado, o que significa que o Congresso deveria autorizá-lo a gastar mais (mais ou menos como você comer uma pizza pra se animar a começar uma dieta).

O resultado foi que a queda nos juros, prevista para o meio de 2023, começou a ser adiada.

O mercado já possuía uma narrativa própria que dizia naquele mês de outubro que o Brasil foi o primeiro país a subir os juros e será o primeiro a reduzir.

A inflação estava se dissipando, os choques no setor de energia indo embora e o menor crescimento global já dando sinais de redução nos preços. Bastava o governo não fazer besteira para que os juros caíssem.

Como o Banco Central alertou inúmeras vezes entre 2021 e 2022, o cenário fiscal incerto impedia a redução dos juros. Lula eleito, aprofundou gastos, prometeu reajustes e nada que aliviasse a demanda por dinheiro do governo. O resultado, claro, foram juros maiores.

Desde novembro de 2022, os juros futuros para janeiro de 2024 saíram de 11% para 14%, acima portanto da atual taxa Selic.

Que fique claro, porém, Campos Neto não define a Selic por meio dos búzios ou conforme seu humor. De fato, sequer a define sozinho.

A taxa Selic, a taxa do “Sistema especial de liquidação e custódia”, um sistema de transação de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, é definida pelo Copom, o Comitê de Política Monetária, um colegiado com os diretores do Banco Central.

Para definir o preço com que os títulos serão negociados, o Copom precisa se justificar em suas atas. E entre outras questões, o Copom pode contar com o “Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach”, o Samba.

Lançado em abril de 2011, o Samba é um modelo de análises que ajuda o comitê a tomar decisões com base nos inputs econômicos, reduzindo o viés político.

Que fique claro, porém, que não se trata aqui de justificar o fato de o Brasil ter os maiores juros do planeta, em torno de 7% acima da inflação, mas de apontar que nada disso nasce ao acaso.

Em janeiro deste ano, Lula esteve na Argentina, o país com os menores juros do mundo, em torno de 20% negativos (quando descontada a inflação), e o resultado por lá não tem sido nenhum espetáculo do crescimento.

Juros são apenas um dos fatores que levam empresas a tomarem decisões de investimentos, como vimos ao longo de todo governo Dilma.

Pouco importa que o dinheiro custe menos, que o preço da eletricidade caia ou que o governo subsidie empresas. Sem confiança no crescimento econômico, sem expectativas positivas sobre a economia, o resultado será menos investimentos.

Criar uma guerra aberta contra o mercado não fará com que os empresários se sintam mais encorajados a investir, exceto, claro, pelos empresários amigos, cuja coragem se dá com dinheiro público bancando o risco. Mas isto tampouco permitirá o crescimento econômico.

Fato é que o crescimento econômico parece distante de se estabelecer de maneira duradoura no país, em especial pelos conflitos e mudanças de rumo feitas a todo instante.

A tal independência do Banco Central, é um fator importante para dar confiança aos investidores que de que a moeda não irá flutuar conforme o humor político. E sabemos da importância disso na prática, também pelo próprio Lula.

Em 2005, em meio ao mensalão, Lula pressionou Henrique Meirelles a aliviar a mão nos juros para favorecer o crescimento econômico em 2006. Meirelles negou, colocando seu cargo à disposição.

Lula acabou recuando, e atacando pelo lado fiscal, com Mantega e o PAC. Ainda assim, os juros acabaram caindo ao longo do governo Lula, bem como a inflação, sob um Bacen independente na prática, ainda que não por lei.

Se Campos Neto irá resistir a esses ataques, é pouco relevante para Lula. De fato, é melhor que resista, afinal, se Lula controlar também o Banco Central, restará pouca desculpa para o baixo crescimento que virá.

Aconteça o que acontecer, Lula já criou seu álibi. O baixo crescimento deste ano é culpa de Campos Neto.

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  1. Apenas engana os incautos. O único momento em que o PT teve sucesso na condução da economia foi quando fez exatamente o contrário do que acredita, no 1º governo Lula.

  2. O que mais me impressiona é a falta de critérios científicos para fazer análise de pólíticas públicas, assim sendo tenho de aguentar essa XAROPADA de DOXAS!!!

  3. O Descondenado tem a incompetência como uma de suas marcas mais evidentes, as outras é ser mentiroso, corrupto, trapaceiro. Não sabe o que fazer e cria narrativas rastaqueras que o consórcio de mídia reverbera para a patuleia.

  4. Muito bom o texto, principalmente para leigos. Infelizmente sabemos quem é Lula e o que esperar desse governo. Não foi eleito com 99% dos votos, como faz parecer. Esses 90 milhões de cidadãos que disseram não ao lulopetismo precisam se aglutinar, dar um basta e começar a aparar as asas desse protoditador.

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