A citação atribuída à pessoa errada — aquela prática que consiste em fazer Pessoas Célebres, em geral escritores, dizerem idiotices que jamais disseram — é uma das modalidades mais populares de fake news desde que a internet existe. No Brasil, a principal vítima costumava ser Clarice Lispector: se você for ao Google e procurar “você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: e daí? Eu adoro voar!!!”, receberá dezenas de links que atribuem à pobre Clarice o texto de autoajuda que termina com essas frases.

Nem sou muito fã de Clarice Lispector, mas qualquer um que já tenha lido MEIA página de seus livros sabe que ela jamais escreveria semelhante lixo. Por outro lado, confesso que já tive vontade de emplacar uma falsa citação de Caio Fernando Abreu, outra vítima contumaz dessa prática. Um dia convencerei a internet de que “fica comigo, meu mel, tire o adeus das mãos, não me entregue à solidão”, o hit de Markinhos Moura, é de algum livro do CFA. (Perdão, CFA.)

Recentemente, Winston Churchill virou a Clarice Lispector da vez: Eduardo Bolsonaro e seguidores publicaram nas redes a frase “os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas” e a atribuíram erroneamente ao premiê britânico, que o filho 03 e intelectual da família já chamou de “Wilson Church”.

(O melhor foi a fábrica de zoeira da internet — que nunca dorme — fazendo concurso de melhor falsa frase do Churchill. Minhas preferidas foram as letras de pagode atribuídas ao estadista. Consigo imaginar sir Winston subindo ao púlpito do Parlamento, no auge da Segunda Guerra, para advertir naquela hora grave: “Cuidado co’a cabeça do pimpolho, ela tá dançando e o pimpolho tá de olho”.)

Há aí, porém, uma questão de fundo que sempre me intrigou: por que essas citações fake são tão disseminadas? Meu palpite é que seja por um misto de vontade de ostentar cultura como se ostenta o carro do ano — sem precisar se dar a esse trabalho chato que é ler, estudar etc. — com acreditar que, olha só que bacana, aquela Pessoa Célebre X pensa igual à gente. Frase com grife é muito mais convincente; “Churchill” é uma grife tão forte quanto “Gucci” nesse mercado. E, afinal, poucos notarão que a frase e a bolsa são made in Paraguay.

De todo modo, não há muito o que fazer contra isso, a não ser checar a origem das citações e fazer o possível para ajudar a não disseminar bobagem. No mais, como disse JFK naquele famoso discurso de 1963 em Berlim Ocidental, tome cuidado com o cabo da vassoura. É pior do que cenoura, você pode se dar mal.

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“Vamos fazer uma frente ampla contra o Bolsonaro?” Opa, vamos. Só que não pode ter gente que já elogiou o Sergio Moro e a Lava Jato. Nem gente que apoiou o impeachment da Dilma. Nem gente que votou nulo em 2018. Nem bolsonaristas arrependidos. Nem essa turma que assina manifesto “Estamos Juntos” que, como todos sabem, é “pura fachada para eleger o Luciano Huck”. Nem quem tenha ousado criticar São Lula em algum momento de sua existência.

Essa é a “frente ampla” do PT, aquela mesma que teve quase 58 milhões de votos contrários em 2018. Lula continua sendo o maior cabo eleitoral de Jair Bolsonaro.

São Lula, outro “serious problem” do Brasil, dando o ar de sua graça na CNN

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A GOIABICE DA SEMANA

Se um extraterrestre quiser ter uma noção do que está sendo este ano no mundo, além da tragédia cotidiana da Covid-19, basta ler esta notícia da France Presse: um ator pornô espanhol, notório por vender no Twitter velas aromáticas em formato de pênis, foi preso por homicídio culposo depois que um homem morreu em sua casa inalando o que a reportagem descreve como “veneno de sapo psicodélico” em um “ritual místico”. Está comprovado: o roteirista de 2020 tomou um LSD estragado, e não voltaremos da bad trip nunca mais.