Um dia trevoso da democracia americana que pode se repetir no resto do mundo
Nunca um candidato superado em uma eleição americana tinha se recusado a aceitar a derrota e parabenizar seu oponente. Nunca uma turma enraivecida e armada tinha invadido o Capitólio, o prédio onde ficam os plenários da Câmara dos Deputados e do Senado dos Estados Unidos, para tentar impedir a contagem de votos do Colégio Eleitoral,...
Nunca um candidato superado em uma eleição americana tinha se recusado a aceitar a derrota e parabenizar seu oponente. Nunca uma turma enraivecida e armada tinha invadido o Capitólio, o prédio onde ficam os plenários da Câmara dos Deputados e do Senado dos Estados Unidos, para tentar impedir a contagem de votos do Colégio Eleitoral, responsável por sacramentar o nome do próximo presidente. Os últimos acontecimentos nos Estados Unidos não têm precedentes e devem influenciar a transição de poder, o futuro do trumpismo e ainda inspirar ações parecidas em outros países do mundo.
Uma hora antes da confusão que chocou o mundo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proferiu um discurso em Washington dizendo mais uma vez que a eleição foi fraudada e que o vice-presidente Mike Pence deveria rejeitar os votos em alguns estados onde Joe Biden foi vencedor. "Você não aceita a derrota quando há roubo envolvido. Nosso país já teve o suficiente e não vamos mais aceitar isso", disse Trump. Em seguida, o presidente convidou seus apoiadores a marcharem pela Avenida Pensilvânia para protestar em frente ao edifício do Congresso. Pelo caminho, eles gritavam para "drenar o pântano", um mantra antigo que foi reaproveitado por Trump para mostrar seu ódio aos políticos tradicionais de Washington.
Enquanto a marcha prosseguia, o vice-presidente Mike Pence divulgou na internet uma carta dizendo que seu papel no processo era apenas cerimonial, e que cabia aos próprios congressistas aprovar ou rejeitar os votos dos delegados estaduais. Quando os apoiadores de Trump chegaram ao Congresso, encontraram-se com mais seguidores do presidente e com poucos policiais resguardando o perímetro do prédio. Armados, eles não tiveram grandes dificuldades para quebrar as janelas do prédio, invadir os gabinetes dos congressistas e os plenários (foto). Ao ver a confusão, parlamentares assustados se esconderam atrás das cadeiras e depois fugiram por corredores subterrâneos, escoltados por agentes de segurança.
A invasão foi repudiada por congressistas republicanos e democratas. Depois que forças de segurança reassumiram o controle do prédio, parlamentares retomaram a cerimônia como um ato de resistência, para confirmar os votos do Colégio Eleitoral. Contudo, entre os apoiadores de Trump, a violência e o vandalismo não foram condenados, e sim celebrados. Para eles, a afronta contra os rituais democráticos foi um ato de redenção, uma revolta há muito aguardada contra a elite política que eles sempre desprezaram.
Há que se observar agora o comportamento dos deputados e senadores republicanos que estavam dentro do Capitólio e foram alvos dos trumpistas. Se seguirem apresentando objeções para atrapalhar a confirmação de Joe Biden como o próximo presidente, eles estarão endossando os grupos descontrolados que os colocaram em perigo. Alguma reação dentro do Partido Republicano contra Trump deve ser esboçada, uma vez que congressistas importante urgiram para que o presidente controlasse seus acólitos. Marco Rubio, senador republicano pela Flórida, foi um dos mais enfáticos nas críticas. "Não há nada de patriótico no que está ocorrendo no Congresso. Isso é uma anarquia de estilo antiamericano típica do terceiro mundo", escreveu Rubio nas redes sociais.
A invasão também pode gerar eventos semelhantes em outros países do mundo. Em seus quase 250 anos de independência, os Estados Unidos se consolidaram como um farol democrático para o mundo. Após sua criação, serviram de base para que diversas outras repúblicas, como a brasileira, fossem formadas. Após a Segunda Guerra Mundial, os americanos ajudaram a fincar as bases para uma nova ordem mundial, com a criação da ONU e tantas outras organizações.
Em 2016, uma nova tendência partiu do país. A eleição de Trump empoderou políticos populistas pelo mundo, que atualizaram seus vocabulários e com isso garantiram um relativo sucesso eleitoral. As cenas exibidas nesta quarta, 6, em Washington podem ser o corolário trágico dessa onda que se espalhou por vários continentes há poucos anos. No Brasil, adeptos do presidente Jair Bolsonaro já ameaçam emular a baderna nas eleições de 2022, caso o presidente não consiga a reeleição nas urnas. "A democracia americana tem instituições fortes e conseguirá se recompor depois do que aconteceu hoje", diz o advogado Acácio Miranda, especialista em relações internacionais. "Minha preocupação é o que pode acontecer se algo semelhante acontecer em países onde os pilares democráticos ainda não estão tão bem assentados."
Atualização: o Congresso dos Estados Unidos validou a eleição do democrata Joe Biden, na madrugada desta quinta-feira, pelo horário americano.
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Comentários (10)
José
2021-01-07 15:39:52Parabéns à Democracia Americana!!
Marcos
2021-01-07 14:24:29Precisamos estar preparados para 2022 aqui no BRASIL. Caso o Sr. Jair "MIMION" Bolsonaro não seja reeleito, ira imitar o bundão do Trump.
Cesar
2021-01-07 09:39:11Xi Jinping está com o sorriso nas orelhas!
PAULO
2021-01-07 09:30:00Eu sei que não tem muito do que se orgulhar no Congresso. Que a nossa justiça platônica parece fazer de tudo para não alcançar uma casta. Mas eu quero continuar vivendo numa democracia e defenderei essas instituições com a minha vida se for necessário. Retórica inflamada e mentirosa, como a adotada por Trump e Bolsonaro só gera o caos, por que ela alimenta o que tem de pior numa sociedade. Temos que ser anti facistas e combater as fake news com rigor. USA de agora, pode ser o Brasil de amanhã.
Antonio
2021-01-07 09:22:21Sou antibolsonaro mas a democracia é muito relativa em países como o Brasil . A invasão do congresso e do STF pela população aqui seria bem vinda.
Carlos R
2021-01-07 08:26:28WASHINGTON, ONTEM, SERÁ BRASÍLIA AMANHÃ! CASO O CONGRESSO NÃO ACORDE E CONTINUE NO MUNDINHO FECHADO DELES DEFENDENDO SÓ SEUS PRÓPRIOS INTERESSES, BOLSONARO PODERÁ ARTICULAR MOVIMENTO PARECIDO COM O QUE O PSICÓTICO PRESIDENTE TRUMP COM FALSAS ALEGAÇÕES DE FRAUDE, COMANDOU ONTEM. ENQUANTO O CONGRESSO NÃO DÁ ANDAMENTO AOS PEDIDOS DE IMPEACHMENT DO, TAMBÉM, PSICÓTICO TRUMP BRASILEIRO, QUE JÁ COMETEU CRIMES SUFICIENTES PARA SER AFASTADO, OS EVENTOS DE ONTEM PODEM VIR A SE REPETIR EM BRASÍLIA.
Rosele Sarmento Costa
2021-01-07 08:11:58Trump deveria ser preso por ter incitado toda essa baderne! He is guilty!
João
2021-01-07 07:21:13Fiquem certo ! O próximo procurador - geral dos EUA, que será nomeado pelo novo governo democrata, abrirá um processo contra o presidente Trump. E ele será preso.
Andréa
2021-01-07 00:44:30Brasil é o país dos absurdos.... surgiu mais um bando de militantes (bolsonaristas) fanáticos como o da esquerda q passa pano pra tudo,e temos a promiscuidade de sempre escancarada dos poderes. O interessante é ver brasileiro espantado com o q está acontecendo no EUA....aqui ninguém se espanta com nada,TD "normal" o nosso normal.🤑🤐 Oremos.
Eduardo
2021-01-06 23:25:06País subdesenvolvido!