Os sinais da nomeação de Gleisi Hoffmann
Lula demonstra que pretende levar seu governo ainda mais para a esquerda e que vai ignorar frente ampla instituída em 2022
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A nomeação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (em primeiro plano), para a Secretaria de Relações Institucionais no lugar de Alexandre Padilha (que assumirá a Saúde) dá um sinal cristalino que Lula – e seus principais aliados – vão jogar para o ralo a coalizão partidária feita em 2022 e que ajudou a eleger o petista pela terceira vez.
Naquele ano, Lula – sob o pretexto de vencer Jair Bolsonaro – reuniu integrantes de siglas do Centrão como MDB, PSD, alas do Republicanos e até do PP, e prometeu governar para todos. O descumprimento dessa promessa é, desde o início de 2023, a principal reclamação tanto de deputados quanto de senadores e o principal empecilho para uma real e cristalina coalizão entre o Congresso e o Palácio do Planalto.
Leia, em alguns pontos, alguns sinais que Lula emite ao nomear Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais:
Um governo mais petista do que nunca
Ao indicar Gleisi para a SRI – uma pasta considerada da ‘cozinha’ do Palácio do Planalto, cuja função é fazer exatamente essa interlocução com deputados e senadores -, Lula afirma com todas as letras: os próximos dois anos do governo Lula serão mais voltados à militância petista; mais radicais do que nunca e mais próximos de um extremo à esquerda.
Gleisi na SRI é um colírio para os olhos do petista mais apaixonado, mas uma tragédia para a articulação política do Palácio do Planalto. Como integrante da ala mais radical do PT, Gleisi foi a responsável por levar o partido a endossar pautas mais ao extremo da esquerda, o que incomodou integrantes mais de centro do partido como o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Lula dobra a aposta no radicalismo da esquerda
Lula saiu do casulo e abandonou de vez o modo ‘Lulinha paz e amor’, que garantiu sua eleição em 2022 e sua reeleição em 2006. Agora, com uma aliada extremamente aguerrida na SRI, o petista espera que algumas pautas mais à esquerda passem pelo Congresso. Isso significa que haverá uma defesa maior em ações que fomentem os gastos públicos ou que demandem maior investimento do Estado. Essa visão, porém, tende a acabar de vez com algum naco de pragmatismo econômico que vinha sendo mantido com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A derrota de Haddad
A nomeação de Gleisi representa, também, uma derrota do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os dois não se dão bem há algum tempo e essas rusgas ficaram nítidas após críticas de Gleisi à política econômica conduzida por Haddad. Se antes, Haddad tinha apenas que se preocupar com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, agora o ministro da Fazenda deverá ter suas funções esvaziadas por Gleisi. No Congresso, já há quem diga que Haddad não termina no cargo até o final de 2025.
Coalizão com o Centrão para quê?
Lula demonstrou também que não pretende abrir novos espaços ao Centrão, o que deve deixar o governo ainda mais isolado. A função da SRI vinha sendo pleiteada por MDB e Republicanos. Lula não somente ignorou os apelos, como fez uma aposta de risco. Na verdade, uma dupla aposta de risco. A indicação de Gleisi é consequência de outra nomeação que desagradou ao Centrão: Alexandre Padilha para o ministério da Saúde.
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