Adriano Machado/Crusoé

Intimidação de agentes públicos a jornalistas pode levar a autocensura, alerta Abraji

02.06.20 17:46

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Abraji, condenou nesta terça-feira, 2, a postura do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno (foto), que ameaçou usar a Advocacia-Geral da União para processar o repórter Igor Gadelha, da Crusoé, caso fosse publicada a informação de que ministros e assessores presidenciais o classificam como um dos principais responsáveis por tentar convencer Jair Bolsonaro a reagir às recentes decisões do Supremo Tribunal Federal.

A entidade ressaltou que “é grave abordar dessa forma um repórter que cumpre apenas a rotina básica da apuração”. “Um país no qual a imprensa sofre intimidações diárias por parte de agentes públicos corre o risco de provocar a autocensura entre os jornalistas. Desse modo, a Abraji apela para que as autoridades sinalizem uma mudança de comportamento e deixem de lançar mão de expedientes autoritários”, alertou.

Ao ser procurado por Crusoé na segunda-feira, 1, para se pronunciar sobre o que seus colegas dizem nos bastidores, Heleno não só ameaçou o repórter como cobrou a revelação das fontes que atribuíram a ele tal conduta. “Você devia ser incluído no inquérito das FAKENEWS (sic). Na primeira página. Quem foi o mentiroso que lhe passou essas barbaridades? Diga quem são os ministros e assessores. Não seja leviano. Isso não é proteção de fonte. É fofoca irresponsável”, afirmou. Em seguida, escreveu: “Se publicar isso, vou pedir à AGU que abra um processo contra você”.

Questionado se estava fazendo uma ameaça, o ministro respondeu. “Não fiz ameaça a você. Estou alertando que vou tentar usar os meios legais disponíveis para fazer face a calúnias injustificáveis. Não é para fazer medo”, disse. Em seguida, o general pediu desculpas por eventuais excessos: “Reagi, indignado, por conta da gravidade de tais mentiras, no bojo da crise que estamos vivendo”.

Na avaliação da Abraji, o chefe do GSI incorreu “em três erros: pressiona o jornalista a quebrar o sigilo da fonte, que é garantido pela Constituição (Art. 5°, XIV); ameaça processá-lo; e não se acanha em usar a máquina pública (AGU) para intimidá-lo”.

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